A Mansão Escarlate (Romance Gay)

Humano

Capítulo 36

O barulho do galope dos oito cavalos é o único que pode ser escutado na estrada deserta que leva até Sea, envolvida por uma densa névoa e pelos ventos tão frios quanto a pele daqueles que iam contra seu curso. Os olhos ferozes apenas focados no que havia à sua frente e o silêncio que reinava entre eles enquanto em seus pensamentos estavam perdidos no labirinto do ódio e dos arrependimentos, que parecia cada vez mais sufocante e sem saída para as fortes emoções que se manifestavam entre aqueles que deveriam ser aliados. A desconfiança, o desejo de poder e a fome de liberdade se alinhavam as suas mentes perversas que se afundavam em conspirações e planos sujos apenas visando seus interesses.

O senhor das trevas criou os sete, o símbolo da imortalidade que deveria ser a mais perfeita e inabalável aliança mas, que agora se enfraquecia e se rachava a cada galope em direção ao reino. Inimigos se formavam entre eles, não havia mais confidentes ou irmãos do sangue das trevas porque eles estavam sedentos pelo poder, queriam se banhar na vitória e na glória com uma coroa em sua cabeça. Temiam aquele à frente deles que tinha em seu interior uma alma recém-nascida do mais puro amor, o calor que não poderia ser sentido fisicamente mas, que o fazia permanecer vivo e o cheiro do jovem humano que se impregnou em suas vestes.

Criador de cada detalhe das sete criaturas sentia como mais ninguém o forte vínculo que foi criado entre Elaja e Adam, aquela cumplicidade e perseverança que havia entre os dois e mesmo agora com os olhos de sua criação mais velha sendo devorados pelas sombras não era sentido o verdadeiro espírito das trevas se enraizando, não era sentido a sede ou o desejo desenfreado. Diante de seus olhos ele apenas enxergava uma metade, algo incompleto que parecia sofrer, parecia perdido sem estar ao lado daquele que tem sangue quente.

"Que feitiço foi jogado sobre ele? Estava cego por algo que não existe ou, pelo menos, não poderia existir."

A imagem majestosa de Sea começou a se formar em meio à densa neblina, com o palácio em evidencia no centro de tudo. Bandeiras com o brasão da família real se espalhavam e eram sopradas pelo vento no ponto mais alto das casas mostrando que os súditos aguardava a volta do exército real trazendo consigo a vitória e seus leais soldados em seguranças. Nenhum deles sabia da existência dos Valero, nenhum deles tinha conhecimento de tal poder e por isso imaginavam que ninguém poderia derrubar aquela quantidade de homens tão facilmente.

— Vejam as majestosas terras que nos pertencem. Olhe para o reino que em breve se ajoelhará diante de ti Elaja.— o senhor das trevas disse erguendo seus braços.

— Não serei realmente soberano. No final, sua ganância transformará cada um de nós meros fantoches e espero que não tente me manipular com sua lábia, apenas diga o que realmente quer dizer.— a voz de Elaja era grave e em seu tom era visto o desprezo por aquele que cavalgava ao seu lado.

— Elaja... Seu nome foi escolhido por mim e ainda sim de seus lábios ouço tanto desprezo. Somos aliados e espero que isso sempre esteja em sua mente.

— Aliados? Acredito que essa seja uma palavra forte demais para descrever o que nos mantêm juntos.

— Então, qual seria?

— Interesses. A conquista de algo que só é possível se permanecermos juntos, nada além disso.— disse friamente e começou a cavalgar mais depressa em direção ao reino.

Nas grandes torres do castelo soldados avistaram os oito cavaleiros que se aproximavam apressadamente do reino e soaram as trombetas esperançosos que pudesse ser seu soberano trazendo consigo mais uma vitória mesmo que seus corações doessem por apenas avistar sete cavalos o acompanhando.

Os súditos se aglomeraram nas ruas formando duas grandes filas enquanto cochichavam entre si sobre o que provavelmente aconteceu sem aceitar que aqueles milhares de soldados que partiram com tanta coragem e esperança agora estariam mortos sobre as terras de seus inimigos. Eles queriam se agarrar a verdade menos dolorosa mas, a cada galope isso se tornava frágil e insignificante porque a verdade se revelava diante deles de forma assustadora.