Capítulo 20

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Hoje eu vim trazer uma coisa mais... nova?!

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VEXANA

Pela primeira vez em muitos anos eu finalmente via uma luz para mim, depois de ser morta por aquele homem que eu confiei e entreguei o meu coração. Se olhar para a escola com os olhos da minha antiga eu, viria como uma decadência ter de usar meus poderes e os meus conhecimentos apenas para repassar para outras pessoas... hoje, após tudo o que eu passei eu vejo que estava errada e que apenas poder não era capaz de me dar uma vida satisfatória.

O que não significa que não gostava de antigamente.

Abri os olhos lentamente, sentindo os pingos de chuva caindo sobre meus olhos, deitei tentando dormir enquanto não fosse hora de usar as minhas últimas forças para chegar até um lugar seco e no qual eu pudesse ficar protegida da chuva que pelo que notei, não iria passar ou enfraquecer tão cedo.

Meus lábios se abriram e deles saíram suspiros de alívio por saber que eu finalmente havia voltado e dessa vez eu não iria voltar sem me vingar daquele que muito me fez mal. Nunca fui conhecida por ser a pessoa de mais paciência do vilarejo no qual morava e agora todos eles entenderão o motivo. Levantei devagar, sentindo a mortalha que colocaram para meu enterro arrastando no chão e rasgando quando enroscava em algumas raízes que estavam no chão e que eu não fazia questão de desviar.

Não sentia mais a minha jovialidade e toda a minha beleza de antes, mas isso era o de menos. O que adiantava eu estar bonita e morta? Encontrei uma árvore grande e com um buraco na raiz que serviria para que eu ficasse ali dentro mais seca e protegida do que ali fora e por incrível que pareça, desta vez, pelo menos, a sorte parecia estar do meu lado. O chão estava tão seco que me impressionei pelo fato de a chuva forte que mais parecia uma tempestade não cair ali entro.

Acordei de manhã com o sol iluminando o meu rosto e me espreguicei. Estava mais descansada do que antes e fiz um pequeno esforço para fazer um espelho e me olhar, mas era melhor que eu tivesse ficado quieta em meu lugar. Saí dali e fui em direção à um rio próximo, bebendo um pouco de água e quando me satisfiz, segui viagem até chegar perto do vilarejo, em uma casa que ficava fora dos muros das dependências e ali fiquei. Tinha comida e água, que eram da antiga moradora que foi morta junto comigo, também acusada de bruxaria por esse pessoal idiota.

E o único crime que eu cometi foi tentar ajuda-los, mas isso não conta muito para meu julgamento, já que para eles eu era apenas uma bruxa sem coração e que iria destruir a todos apenas por viver. Eu já vivia ali tinham dez anos e nunca havia feito nada, e não era por falta de tempo. Mas no julgamento o que mais me surpreendeu foi ver o meu marido, Calisto, depondo contra minha pessoa e pedindo para que eu fosse queimada por ter o contaminado com bruxaria.

Passei a mão por meu pescoço e senti o local que a corda havia ficado até o momento da minha morte. Comecei a me recuperar para que minha vingança, até então fosse cumprida realmente e sem nenhuma interrupção. Como a casa daquela mulher era longe do vilarejo, me dava certo conforto, além de ser mais escondida para dentro da mata; entretanto, olhando por um lado, também ficava perto, pois eu poderia ir por um atalho que tinha ali e ninguém sabia que existia.

- Vocês vão me pagar. Eu juro!

Não passaram apenas dias que eu fiquei ali, se passaram meses até que eu sentisse que realmente estava forte para realizar minha doce vingança. Na vila não tinha nenhum guerreiro, então não devia me preocupar com força bruta apenas de um deles, nem haviam arqueiros ou outras linhas de defesa, o que deixava o meu trabalho relativamente fácil. As coisas mais difíceis eram os caçadores, que sabiam como usar machados e facas muito bem, mas eu já tinha meu plano para eles, era hora de colocar em prática.

Minha primeira estratégia foi fazer com que os caçadores mais habilidosos não fossem um problema para mim, então a cada hortaliça que eles faziam plantações, eu colocava os feitiços, principalmente na carne. Eu já era uma bruxa experiente, não era porque estava morando há pouco tempo ali que não tinha muita idade. Eles só se apegam com a aparência e isso é o que me deixa mais feliz em humanos... é saber que podemos os enganar facilmente e eles nem ao menos saberão o que causa tal coisa.

São patéticos e mesmo tendo uma parte humana, me descartava dela completamente sem ao menos pensar duas vezes.

Os caçadores perderam suas forças depois de duas semanas de envenenamento diário em pequenas doses, para que causasse apenas uma fraqueza muscular neles, começou realmente a minha vingança. Como eu havia dito, humanos são patéticos e a prova disso é que eles não aprendem a fazer tudo, aprendem apenas o que é mais fácil para eles e deixam o resto por conta dos outros. Os caçadores eram mais perigosos porque sabiam manusear facas e machados, enquanto os outros não sabiam nem como pegar em uma vassoura, quanto mais em armas.

Deixei que se passassem alguns dias e ia vendo a mobilidade e a qualidade do meu plano, não que os meus planos fossem ruins, mas para planejar algo, tem de se levar em contas as possibilidades de derrotas e não apenas de vitórias. Os estoques de carnes estavam quase no final e eles não aguentariam muito tempo comendo apenas legumes e verduras. Ou será que durariam?

Foi uma época realmente boa e que eu tive bastante prazer, ver seus corpos desfalecerem de tanta fome, ficando fracos e magros, sem conseguirem levantar nem ao menos o próprio peso. E depois de tudo, antes deles morrerem, mais ou menos uns quatro dias antes, coloquei em suas memorias o meu rosto. Causei bastante pânico, porque eu precisava me alimentar de algo bom e o que melhor do que o medo?

- Você é muito poderosa mesmo! – Thor estava impressionado e nem ao menos conseguia dizer nada.

- Não se iluda, garoto. – A olhamos com atenção. – Eu sou muito poderosa mesmo, mas existem tantas outras criaturas mais poderosas do que eu, que você e que a maioria esmagadora do mundo sobrenatural que você nem poderia imaginar.

- E onde elas estão? Pelo que eu saiba, as mais poderosas são o pai de Logan e o pai de Thomás, junto com alguns cavaleiros de seus exércitos. – Seu riso de desdém foi notado até por quem passava um pouco longe de nós.

- Eles só são poderosos desse jeito por conta de forças maiores do que eles. Forças que eu tenho certeza que nenhum de vocês imagina onde está e quem seja. Aliás, eu acho que ninguém poderia ter ideia de quem seja.

- Então isso quer dizer que...

- VOCÊS, PARA A AULA AGORA! – Um dos fantasmas chegou gritando e a cada vez mais vinha rápido em nossa direção. – EU. DISSE. PARA. VOLTAREM. PARA. A. AULAAAAA.

- Vão, garotos. Estudem muito, porque a partir de agora, seus dias ficarão cada vez mais puxados.

Flutuei calmamente para cima, até chegar em um ponto alto entre as nuvens. Fechei os olhos e me concentrei em sua voz, que vinha baixinha em minha mente, tentando me dizer alguma coisa que eu não consegui compreender. De repente as nuvens ficaram mais escuras e senti um vento frio passando por trás das minhas costas, fazendo com que meu corpo ficasse todo arrepiado e tenso. Minha respiração ficou mais descompassada quando notei que ele estava atrás de mim. Suas unhas perfuraram mais ainda o meu vestido e segurei um grito, quando senti suas garras rasgando a minha pele pouco a pouco.

- Trate de lhe contar logo toda a história, Vexana. Não me faça perder meu precioso tempo com você.

- AI! – Suas mãos voltaram para seu blazer escuro e o ajustou rapidamente, sumindo do mesmo jeito que chegou.

Rápido e traiçoeiro.

Só espero que não tenha feita uma escolha errada em ter aceitado o seu joguinho ou eu iria me arrepender profundamente, disso eu tinha certeza! 

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Quem vocês acham que falou com Vexana?

Enigma (Romance Gay)Where stories live. Discover now