O CÂNTICO E O BRASÃO

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A noite seguia irrequieta, os lamentos de todos os povos tornavam insone a vida das estrelas naquele dia, de modo que até a luz dos astros parecia vacilar diante da tragédia. O vento cessara de correr no continente por algumas horas e o ar pesado e sem vida abatera cada ser vivente numa pesada sensação de dor. Aquele mundo havia despertado de seu sono e loucura mortífera, mas a que custo? Todas as Grandes Árvores adormeciam no jazigo da semi-morte.

 Aquele mundo havia despertado de seu sono e loucura mortífera, mas a que custo? Todas as Grandes Árvores adormeciam no jazigo da semi-morte

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Todos a responsabilizavam, com tons de condenação ou necessária intervenção, porém, não sabiam de suas intenções. Sabiam ainda menos sobre seus sentimentos, sendo estes para ela própria uma incógnita pouco sondável. O que a Grande Feiticeira tinha muito claro era sua missão: redesenhar a verdana literatura em cada um dos Reinos, crendo que os seus homens e mulheres, assim como ela, carregavam em seu íntimo o desejo de Primus por um mundo liberto das asperezas humanas e edificado no nobre ofício de narrar e expressar a mente, alma e coração de cada cultura.

Ela lembrara do primeiro dia em que abrira os olhos. Num lago noturno e cristalino no epicêntrico Reino de Aurallyn, emergira em dor e agonia, a implorar por ar em seus pulmões e carne de seu corpo a ser tecida a partir do ferroso clamor que borbulhou naquelas águas - ditas como a reminiscência do local onde Primus leu o Livro Vitae. Pássaros e peixes foram as primícias de sua visão deste mundo e ela compreendera que, por alguma vontade, também vivia.

No limiar das estrelas noturnas que gracejam com as primícias da luz do dia, a Grande Feiticeira cantou, cantou para todos os que tinham Literatus como seu amado lar e de sua voz insuflou no interior dos seus justos e altivos conselheiros a natureza daqueles a quem eles deveriam condecorar. Cantou seu enigmático e memorável encantamento:

La viro kiu diras mi donas
Ne donus,
Ĉar kiu vere donas
Ne diras.

La viro, kiu diras mi volas
Ne iru,
Ĉar kiam ĝi estis
ne volis.

La viro kiu diras mi estas
Ne estas,
Ĉar kiu vere estas
Mi ne.

La viro kiu diras mi estas
Ne estas.
Ĉar neniu estas
Ĉiam.

Felicxa estas la homo, kiu falas
En la angulo de Ossanha
Revema
Felicxa estas la homo, kiu iras
Malantaŭ via kantado kaj bruego.

⚜⚜⚜

O homem que diz "dou"
Não dá,
Porque quem dá mesmo
Não diz.

Concurso Reinos LiteratusWhere stories live. Discover now