QUEDA DOS MAGOS: PLANOS

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Cinquenta anos antes da ascensão da Grande Feiticeira.
Reino de Thimore.

      Havia três noites que eles não dormiam. Na quarta, por volta de meia‑noite, depois de vaguearem por quatro dias sem sol por aquele cemitério sem fim, finalmente chegaram ao Hic est, o Templo Profano. Ergueram sem muito esforço uma tumba sinalizada com a runa "Er" e começaram a descer por uma escada; lembravam de que havia doze degraus. Mas mal haviam descido cinco e suas cabeças já estava perturbadas. Ignoravam o que acontecia dentro de si mesmos: se eles não tivessem passado por isso, nunca poderiam acreditar que a coragem da vaidade pudesse superar tanta fraqueza e tanto terror covarde. Foram tomados pelo frio da febre, o medo fez tremer seus dentes; deixaram cair a única tocha que levavam; sentiram que suas pernas dobravam‑se sob seus corpos.

 Foram tomados pelo frio da febre, o medo fez tremer seus dentes; deixaram cair a única tocha que levavam; sentiram que suas pernas dobravam‑se sob seus corpos

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      Um espírito sincero não teria tentado superar essa aflição. Ele teria desistido de perseguir uma provação acima de suas forças; teria adiado seu encontro para um momento mais favorável; teria esperado com paciência e simplicidade a serenidade de suas faculdades mentais. Mas eles não queriam desmentir a si mesmos. Estavam indignados com suas fraquezas; queriam romper e atrofiar suas imaginações. Continuaram a descer nas trevas, mas seus espíritos esvaneceram e se tornaram vítimas das ilusões e dos fantasmas.

      Pareceu‑lhes que continuavam a descer e que mergulhavam nas profundezas do Érebo. Enfim, chegaram lentamente a um lugar plano e escutaram uma voz lúgubre pronunciar estas palavras que pareciam confiar às entranhas da terra:

      – Eles não subirão a escada.

      Nesse instante, ouviram erguer‑se na direção deles, do fundo de abismos invisíveis, mil vozes que cantavam num ritmo estranho:

      "Vamos destruí‑los! Que eles sejam destruídos! O que eles vêm fazer no meio dos mortos? Que sejam levados de volta ao sofrimento! Reconduzidos à vida!"

      Então uma fraca claridade perfurou as trevas e percebeu-se que estavam no último degrau de uma escada tão vasta como a base de uma montanha. Atrás havia milhares de degraus de ferro vermelho; à frente, apenas o vazio, o abismo do éter, o azul sombrio da noite sob seus pés e sobre suas cabeça. De repente, foram tomados por uma vertigem e, saindo da escada, sem pensarem que fosse possível subir por ela, lançaram-se no vazio, blasfemando. Mas mal pronunciaram as sentenças de maldição, o vazio se encheu de formas e cores confusas; aos poucos, notou-se que estavam no mesmo plano de uma imensa galeria, e avançaram, com o temor roçando suas espinhas. A escuridão ainda reinava ao redor; mas o fundo da abóbada iluminava‑se com um clarão vermelho, revelando formas estranhas e terríveis da arquitetura.

      Todo esse monumento parecia, por sua força e tamanho gigantesco, ter sido talhado numa montanha de ferro ou numa caverna de lavas negras. Não distinguia-se os objetos mais próximos; mas à medida que avançavam, adquiriam um aspecto cada vez mais sinistro, e o terror aumentava a cada passo. Os enormes pilares que sustentavam a abóbada, e até mesmo os ornatos desta, representavam homens de um tamanho sobrenatural, todos entregues a torturas espantosas: uns, suspensos pelos pés e espremidos por serpentes monstruosas, mordiam o solo, e seus dentes penetravam no mármore; outros, afundados no chão até a cintura, eram puxados de cima, uns pelos braços com a cabeça no alto, outros, de cabeça para baixo, voltavam‑se para capitéis compostos por figuras humanas debruçadas sobre eles e obstinadas a torturá‑los. Outros pilares representavam um enlaçamento de figuras que se devoravam, e cada uma delas mostrava apenas um tronco roído até os ombros, mas cuja cabeça furiosa era viva o suficiente para morder e devorar o que estava por perto. Havia os que, esfolados pela metade, se esforçavam, com a parte superior do corpo, para desprender a pele da outra metade, presa ao capitel ou retida na base; e ainda outros, que, ao se debaterem, haviam arrancado lanhos de carne que os mantinham pendurados com uma expressão de ódio e sofrimento indizíveis.

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