QUEDA DOS MAGOS: REENCONTRO

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Cinquenta anos antes da ascensão da Grande Feiticeira.
Reino de Thimore.

      A entidade emergira entre as chamas purgatoriais sem sofrer nenhum dano e sua presença era intimidadora demais, não apenas por sua aparência, mas sobretudo por conta da sensação maligna que ela imprimia. Nem mesmo Er-Bagail causava tamanha intuição de perigo. Ela manteve-se imóvel olhando diretamente nos olhos deles, impassíveis e obcecados, como um predador a contemplar sadicamente sua presa. Foi com muita dificuldade que Taís perguntou:

      – Qu... Quem é v-você e o que quer?

      A entidade lhes falava diretamente na mente e esse fato só insuflava ainda mais a sensação de horror nos membros daquele grupo, pois sentiam que nem meus seus pensamentos estavam protegidos agora. Uma voz expressando calmaria e prazer lhes comunicou no íntimo:

      – Não creio que a minha identidade lhe será útil nessa barganha, mas se vossa decrépita mente precisa aliviar-se com rodeios inúteis, posso dar-lhes um tempo a mais de distração antes que sucumbais as trevas. Eu sou a primeira vagante destas terras enegrecidas de Thimore. Numa época mais antiga ainda, a tentativa de aprendiz daquele que criou os quinze reinos. Meu nome eu troquei por horrores e a capacidade imemorial de sempre existir, porém, se quereis um vocativo para constar nos seus altos podeis me chamar de Yog-Sototh, Aquele que é Um e é Todos. O que eu quero? Apenas vosso desejo cumprido. Vosso desejo é meu sangue. Derramais pois sobre mim todo ele.

      Dizendo isso, todos do pequeno grupo recurvam sobre si mesmo e cada um tossiu com violência uma quantidade assustadora de sangue e pus. No mesmo instante, as chamas verdes retrocederam e todas as criaturas bestiais envolveram os magos e guardiões. Menkell, com esforço, forçou-se a falar:

      – Você falou em barganhar. O que queres oferecer e receber?

      Com um sorriso lunático, Yog-Sototh foi direto:

      – Eu ofereço qualquer um dos vossos desejos e exijo a alma de um de vós em contra. Nada abusivo e arbitrário. Vós morrereis de qualquer modo neste lugar, Hic est não aceita os vivos por muito tempo, vossos corpos já sentem os efeitos desse lugar que consome vida e devolve o hálito da morte. Eu aqui vos proponho misericórdia e justiça.

      Era assustador constatar que a entidade realmente acreditara nos princípios que rogara portar. E seu olhar parecia obstinado e ganancioso. Contudo, o mais terrível de tudo é que não viam outra saída para aquela situação.

      – Vamos barganhar então.

      Todos viraram-se chocados com as palavras que Menkell acabara de dizer. Yan-Ta'r interveio:

      – Meu Lord, não devemos nos precipitar! Um pacto feito em Hic est é inquebrável e de consequências monstruosas.

      – Eu aceito barganhar, Yog-Sototh.

      Dizendo isso, Nu-Ka'm erguera círculos de chamas verdes ao redor dos dois guardiões, impedindo que eles sequer pudessem andar um passo. Ïglë olhou assustada e questionou:

      – O que isso significa, Nu-Ka'm?

      – Minha querida Ïglë, se os rumores estão certos, nas barganhas de Hic est a matemática é muito simples: uma alma por outra alma. É dever dos magos assegurar que os Sumos Guardiões se mantenham íntegros na sua missão, para salvaguardar o Continente Literatus. Você entende bem o que isso quer dizer?

      Ele olhou de esguelha para a maga de Remenia com um leve sorriso no rosto. Ela pareceu compreender as intenções do velho mago, mas ainda lhe restara uma dúvida:

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