REINO INVENITUS

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Para aqueles que transitavam a esmo – e quase sempre desatentos ao que os cercavam – na avenida central da capital de Invenitus a Árvore decorava a grande praça

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Para aqueles que transitavam a esmo – e quase sempre desatentos ao que os cercavam – na avenida central da capital de Invenitus a Árvore decorava a grande praça. Para deleite dos trabalhadores, ávidos por um pouco de sombra durante o almoço, e das babás que passeavam com carrinhos de bebê.

Seria uma enorme perda de tempo tentar mensurar sua grandiosidade pois, ao contrário de suas irmãs, Invenitus era a única árvore que continuava a crescer mesmo depois de tantos séculos. Cerca de 30 centímetros por ano, graças às largas engrenagens e poderosos pistões a vapor que se acoplavam a sua estrutura abaixo da terra. Sim, estruturas, pois nem as raízes mais fibrosas poderiam nutrir sua sede por crescimento e evolução. Era, de fato, uma das maravilhas modernas, um monumento vivo cujo símbolo representava a união das duas mais poderosas forças da terra: a natureza e o homem.

Para os que não estavam acostumados ao ritmo efêmero e as tendências da Era Moderna no reino, Invenitus era só um amontoado de ambições supérfluas. A escultura de uma planta em metal e nada mais. Mas, a despeito de seu tronco metálico, das folhas de vidro, dos cipós de cabos de aço e do transpirar em vapor quente, a árvore esbanjava vida em toda a sua extensão. Por séculos os homens a aprimoraram com o melhor que podiam oferecer, e para cada época ela assumiu uma aparência diferente. Era dessa forma que Invenitus denotava suas próprias estações.

Milhares de operários – os Formigas, como os inveniteses chamavam – dia e noite, mantinham-na em condições estáveis. Do emaranhado dos ramos ao labirinto do lenho, trocando peças, fazendo reparos, calibrando a pressão nas tubulações e toda sorte de manutenções para que ela pudesse crescer e também prover "frutos" para o reino.

Era dela que vinha o ar fresco nas brisas estivais ao tragar o carbono dos mais novos veículos à combustão e devolver oxigênio por suas saídas de ventilação. Era ela que absorvia a luz do sol ao longo do dia e fervia a água dentro de seus canos de resfriamento para distribuir pela rede de abastecimento das casas durante a noite. E, para todos os efeitos, era ela que inspirava a maior parte da literatura local.

Quantos não foram os "Newtons" que se sentaram embaixo de sua copa translúcida e escreveram epifanias? Cientistas, matemáticos, astrônomos, físicos, filósofos, teóricos, professores, e demais gênios do saber que dedicaram toda uma vida aos estudos...

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Quantos não foram os "Newtons" que se sentaram embaixo de sua copa translúcida e escreveram epifanias? Cientistas, matemáticos, astrônomos, físicos, filósofos, teóricos, professores, e demais gênios do saber que dedicaram toda uma vida aos estudos e registro de descobertas do passado, invenções do presente e projetos para o futuro.

Mas seria utópico demais relaciona-la somente aos benefícios de sua existência, quando na verdade sua fonte de inspiração irrigou muitas ervas daninhas ao longo da história.

Invenitus teve grande impacto na Grande Guerra considerando seu enorme potencial bélico. A Árvore foi tomada como fortaleza devido a sua impenetrabilidade e modificada a mando militar para se tornar a primeira máquina de guerra. A única com poder o bastante para comandar ataques a longas distâncias nos reinos do outro lado do continente, e como se não bastasse cedeu a alguns aliados parte de seu arsenal. Não fosse ela a contagem de mortos seria catastroficamente menor. A Guerra acabou tomando proporções apocalípticas.

Somente um milagre salvaria Literatus de si mesmo, e foi graças a misericórdia da Feiticeira que o terrorismo de Invenitus foi varrido

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Somente um milagre salvaria Literatus de si mesmo, e foi graças a misericórdia da Feiticeira que o terrorismo de Invenitus foi varrido. Entristecida e cheia de ódio ao ver a Benção de Primus ser corrompida pela ganância humana, Ela torceu o aço, enguiçou as correntes, enferrujou as dobradiças, secou o óleo e explodiu as juntas. Seu poder transcendeu toda e qualquer criação feita pelo homem, e assim Ela cortou o mal pela raiz e matou a Árvore Invenitus. Mas não partiu sem deixar uma semente de esperança.

Nas mãos da conselheira Taynara, deixou a chave da sala de máquinas – Também conhecida como Jardim do Éden – onde ficara enterrado os maiores tesouros literários de Invenitus, reunidos em uma coletânea diversa em áreas do conhecimento juntamente com o coração da Árvore: o primeiro broto geminado nos primórdios do tempo, a essência dada por Primus, e que agora ficaria isolada da perversidade humana para sempre.

Não demorou para que o reino se recuperasse após a guerra. Sem dúvidas, Invenitus quase não sofreu danos neste período da história, no entanto nunca mais voltou a ser o que era. A Árvore foi reconstruída e reinaugurada, trazendo de volta sua funcionalidade. Mas, apesar de parecer tão majestosa quanto em sua era de ouro, passou a exibir ares cada vez mais destrutivos.

Hoje polui, ao invés de filtrar. Intoxica, ao invés de alimentar. Queima, ao invés de sombrear. Rouba, ao invés de doar. Demanda, ao invés de sustentar. Apavora, ao invés de inspirar.

Poucos se permitem ficar tão próximos a ela, visto que é mais um empecilho explorado pelos políticos. Mas até hoje a Conselheira ainda vaga por entre os galhos frios e cheios de ferrugem da Árvore, tal qual um pardal solitário, a espera de uma alma nobre o bastante para herdar a chave do Jardim e trazer a primavera ao reino mais uma vez.

Escrito por: Cora Laheart (CoraLaheart)

Ilustrações desse capítulo:

Sibylle Dodinot

Concurso Reinos LiteratusWo Geschichten leben. Entdecke jetzt