Capítulo 3

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O mais triste é que até em meio aos tempos difíceis as pessoas colocam o dinheiro como o princípio de tudo.

Rodolpho foi primeiro, somente uma pessoa podia atravessar por vez. O túnel era estreito, até hoje não entendia como alguém havia o cavado.

A entrada foi fácil, se sentia aliviada por isso, nunca foram pegos entrando por nenhum morador, por sorte aquela parte da região era pouco habitada e a noite ninguém saia pelas ruas.

— É longe daqui? — ela perguntou em um sussurro.

— Bastante. É perto do centro, precisamos tomar cuidado. — ele respondeu enquanto começava a andar.

Sharaene nunca soube muitas coisas sobre Rodolpho, mas o conhecia o bastante para saber o quanto ele era uma pessoa boa e confiável.

As casas dali eram belíssimas e luxuosas. Todas possuíam dois andares e tinham vários cômodos. Aquilo era o sonho de todos os que não habitavam Potissimum. As ruas eram asfaltadas, existia energia elétrica e tecnologia. De alguma forma o frio intenso e calor excessivo não eram sentidos ali, era a evolução que fazia contraste com o que existia fora dos muros.

Ambos se escondiam nas sombras que as luzes dos postes não iluminavam, seus passos eram ágeis e silenciosos, não se permitiam errar, treinaram por meses antes de iniciarem os reais roubos, desde então nunca foram pegos. Sharaene abriu um sorriso ao lembrar do primeiro treinamento.

— Está correndo de forma errada!— ele exclamou pela milésima vez.

— Não existe forma certa de correr!— ela reclamou parando de correr, já se sentia exausta.

— Claro que existe!— ele rebateu.— Você deve correr com mais leveza, sem essa brutalidade como se estivesse tentando socar o chão, seja rápida e silenciosa.

— Meus pés doem, Rodolpho. Estamos aqui há horas e só eu corro enquanto você fica aí parado.

— Estamos aqui há menos de quarentena minutos, pare de ser molenga.— ele resmungou .— Volte a correr!

Sharaene bufou e logo recomeçou a corrida, estava cansada, não era acostumada a esse tipo de coisa.

Sem perceber acabou tropeçando em uma pedra e indo ao chão, sentiu sua testa se ferir ao se chocar contra várias pedrinhas, ao escutar o grito de desespero de Rodolpho permaneceu no chão.

— Sharaene!— ele gritou enquanto corria na direção dela.

Ela sentiu o momento que ele parou ao seu lado e a virou para cima, ficou de olhos fechados e fingia não respirar, sentia vontade de rir, porém se segurava.

— Acorda.— ele pediu dando leve batidinhas no rosto dela, o desespero já era nítido em sua voz.— Por favor, Sharaene, acorda!

A menina permaneceu imóvel.

— Você não pode morrer por minha causa, acorde logo, você é mais forte que isso.— ele resmungava mais com si mesmo do que com ela, logo pegou Sharaene no colo e começou a correr.

Sharaene sentiu algumas gotas de água caírem em si, nesse instante percebeu que ele chorava.

— Então é assim o jeito certo de correr?— ela perguntou e logo começou a gargalhar.

Rodolpho tomou um susto e quase a deixou cair.

— Você está bem?— ele perguntou preocupado, mas logo percebeu o que estava acontecendo.— Eu não acredito, Sharaene! Você está louca? Uma coisa dessas não se faz.

SOBREVIVA ATÉ O SOL NASCER [CONCLUÍDA/ EM REVISÃO]Where stories live. Discover now