Capítulo 20

696 126 109
                                    

Não importa a circunstância em quem nos encontramos, sempre podemos lutar para tentar mudá-la.

— Talvez eu esteja olhando para o lado errado. — sussurrou para si enquanto levantava.

Sabia que aquela tentativa de explicação era absurda, porém precisava ao menos verificar.

Enquanto caminhava na direção contrária a qual se encontrava, um cheiro horrível invadiu suas narinas. Os corpos jogados pelo campo já exalavam um cheiro péssimo, mesmo em tão pouco tempo já haviam larvas e moscas. A ânsia de vômito se tornou presente, porém se negava a parar para vomitar.

Quando passou por entre as pessoas tudo parecia estar em câmera lenta. Percebeu alguns chorarem, outros proferirem inúmeros palavrões para o governo, alguns reclamando e discutindo com incontáveis dúvidas sobre o que estava acontecendo.

Mas esse não foi o pior, ela enxergou dor, desespero, medo.

Ela viu um povo ingênuo, que foi educado para amar o governo acima de tudo e aceitar todas as suas ordens – sofrer. Pela primeira vez os olhos deles estavam se abrindo para a realidade.

A realidade é uma verdade que dói; dói muito.

Mesmo em meio a tudo igualmente aterrorizante ela percebeu algo diferente que lhe chamou atenção: fagulhas de desejo por mudança começarem a surgir.

Dentre toda aquela tormenta poderia surgir uma revolução.

Mas ela, mais do que todos, sabia que não estariam vivos para realizarem tal ato.

Quando passou novamente em frente a tão estranha construção que há pouco havia sido um palco de horror, seu coração se apertou.

— Eu queria poder vingar a morte de todos vocês. — ela sussurrou com pesar enquanto encarava o chão escuro sujo de sangue.

Logo voltou a andar, eram tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo que já agia em modo automático. Não havia processado nada que aconteceu nas últimas horas; ninguém ali havia conseguido.

Se cada um, há um tempo atrás, se imaginasse vivendo aquela situação, se idealizaria chorando, lamentando, desistindo de tudo e outras escolhas que se resumissem a sentar e chorar.

Mas a questão é que quando se viram naquela situação desesperadora, a negação foi a primeira coisa pela qual passaram.

Ignoraram as mortes, a loucura daquelas provas, fingindo que no final valeria a pena.

Logo em seguida sentiram medo, medo de ser o próximo a ter um fim não merecido.

Em terceiro a tristeza e realidade bateram na porta de todos, porém ninguém consegue sentar e chorar. Apesar dos pensamentos negativos sabem que só possuem uma escolha: lutar e tentar sobreviver o máximo que puderem.

Quando chegou próximo ao muro contrário que esteve antes, teve certeza que sua esperança sem sentido era sem lógica.

O sol realmente nascia na outra direção, seria impossível ele mudar de lado.

— Nada mais é impossível. — ela sussurrou novamente, para si mesma.

Após alguns minutos tentando criar os mais variados tipos de teoria voltou para o centro, onde uma grande discussão se estabelecia.

— O que está acontecendo? — ela perguntou ao parar ao lado de Kayron.

— Eles estão perdidos, ninguém sabe o que fazer. — ele respondeu.

— Entendo.

Kayron a encarou por um tempo até ter uma ideia, logo o seu sorriso de costume estava brilhando em sua face.

SOBREVIVA ATÉ O SOL NASCER [CONCLUÍDA/ EM REVISÃO]Where stories live. Discover now