Capítulo 34

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O pé direito de Zafrain batia incessantemente contra o chão. Winton andava de um lado para o outro sem parar.

— Pare! Você vai abrir um buraco no chão se continuar assim. — o mais velho repreendeu.

Winton não respondeu e muito menos parou de andar, estava nervoso, há horas ninguém acordava.

Estavam no quarto, já haviam dado voltas e voltas pelo campo e nada mudava. Zafrain encarava Arion, o conhecia de algum lugar, porém não conseguia se lembrar de onde. Sentia que precisava se recordar dele, que isso tinha uma grande importância, mas nesse momento sua memória o traía.

Winton se sentia incomodado, o estranho colar em seu bolso parecia ter um enorme peso, algo muito além do que um simples objeto pesaria, sabia que aquilo não era algo comum.

Logo foram acordados de seus devaneios quando um enorme barulho ecoou pelo local.

— O som vem do campo, vamos ver! — o mais velho falou.

Logo os dois corriam pelos corredores, quando chegaram do lado de fora já não encontraram mais a piscina cheia de cadáveres e insetos. Chão e grama pisoteadas cobriam o local, parecia que nada nunca existiu ali.

— Parece que tudo debaixo de nós é oco, como se estivéssemos em cima de algo. — Winton sussurrou um pensamento que ainda tentava formular. — Nenhum pedaço de terra normal poderia se mover e mudar assim.

— Você é um gênio, garoto! — Zafrain exclamou. — Precisamos chegar ao local que fica debaixo disso tudo.

— O que? — Winton perguntou confuso. — Como acha que faremos isso?

— Ainda não sei, mas precisamos procurar uma maneira, com certeza eles deixaram algo passar quando construíram esse local, iremos achar essa falha. — o mais velho falou com convicção, estava cansado mas aquilo poderia ser sua última chance. Precisava tentar.

Winton não acreditava muito que poderiam encontrar uma saída, porém sabia que não tinham outra escolha e ficar parado vendo o tempo passar não ajudaria em nada também.

— Começamos a procurar em que lugar? — ele perguntou sorrindo para o mais velho, queria passar confiança.

Arion abriu os olhos lentamente. Sua cabeça doía, parecia estar a ponto de explodir. De início não conseguiu assimilar o que seus olhos viam, já nem lembrava onde estava. Quando forçou seu rosto a virar para o lado encontrou Sharaene, a boca da menina continuava suja de sangue o que lhe dava uma aparência assustadora, mas isso não importava para ele.

Achava ela a coisa mais bela que já teve o prazer de ver, se sentia mal por ter a encontrado em uma situação tão ruim, desejava que tudo pudesse ser diferente, mas sabia que isso nunca passaria de um desejo.

— Espero que um dia você me perdoe. — ele sussurrou antes de ficar inconsciente novamente.

Desejava poder contar muitas coisas a ela, temia o futuro próximo que estava por vim, mas sabia que não poderia mudar o que estava prestes a acontecer, não tinha outra saída.

Zafrain e Winton entraram no refeitório. Tudo estava queimado. Desceram então para o corredor que levava para a sala da prova de adivinhação.

A resposta daquela charada ainda rondava os pensamentos do mais velho: "futuro". Não teriam um. Foi naquele momento que percebeu até que ponto o governo poderia ir com sua crueldade. Quando morava em Potissimum foi ensinado a amar os governantes, todos diziam que eles eram bons e honestos, que o presidente e seu vice só queriam o bem de todos, tudo era somente uma enorme ilusão. Se lembrava vagamente que em todas as casas existia uma frase escrita nas paredes "O governo está acima de tudo e é justo", uma enorme mentira.

SOBREVIVA ATÉ O SOL NASCER [CONCLUÍDA/ EM REVISÃO]Where stories live. Discover now