09 - Se você vier pro que der e vier

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música do capítulo: Geraldo Azevedo - Dia Branco

*POV: Clarice*

Sim, eu queria apagar aquele dia da minha memória. Mas isso era impossível. Ele só não foi mais duro pra mim porque eu tinha do meu lado um homem que entendeu a minha dor, chorou ela junto comigo, me levou pra casa, cuidou de mim. Chegando em casa, me concentrando apenas naquela dor latente, corri pra abraçar Lina e choramos muito, muito juntas.

C: Lina, meus pais se foram! Eu não acredito, Lina!
L: Oh, minha filha... eu também não consigo acreditar! - enquanto me abraçava, Lina fazia carinho nos meus cabelos
C: Eu fiquei sozinha agora, Lina...
L: Ei, não diga isso, Clarice. Você tem a mim, e ao Arthur também. - por um momento, agradeci que ele tivesse ido à cozinha e não tivesse escutado o que eu disse. Assenti o que Lina disse com a cabeça - Suba pro seu quarto, já eu te levo um chá, certo?
C: Pede pro Arthur subir, por favor, Lina. E depois sobe pra ficar comigo também...
L: Tá bom.

Jonas entrou na sala e me ajudou a subir e ir pro quarto

C: Obrigada, Jonas. Meus pais gostavam muito de você...
J: Eu sei disso, dona Clarice. Opa, Clarice, só Clarice, né? - ele deu um sorriso de canto de boca - Mas eu também gostava muito deles. - a expressão de Jonas mudou e uma lágrima escorreu em seu rosto - Olha, vou rezar muito por eles! Reza bastante você também, pra Deus acolhê-los num bom lugar.
C: Vou rezar muito e agradeço a sua reza também, Jonas. Obrigada por tudo.
J: Agora vou deixar a senhora sozinha que você precisa descansar.

Jonas saiu do quarto e, assim que saiu, Arthur entrou. Eu o olhei e automaticamente comecei a chorar. Ele veio até a cama e me abraçou.

C: Arthur, não me deixa só. Por favor.
A: Ei! Shhhh!! Eu não vou nunca te deixar só, meu amor. Nunca.

Ele tirou os sapatos e se sentou na cama, eu o abracei e me aconcheguei em seu peito, ele me abraçava e por poucos segundos parecia que o mundo não havia desabado. Minha alma foi amputada naquele dia. Eu estava sem condição alguma pra qualquer coisa, Arthur quem resolveu toda a papelada e parte burocrática, porque até pra morte há burocracias... eu nunca imaginei passar por essa dor, perder meus pais. Os dois, de uma só vez. Ainda mais num acidente trágico como o de hoje. Se a dor de perder Otávio - não pra morte, mas pra vida - e abortar o fruto do nosso amor havia sido a pior que eu já tinha passado, eu sinceramente não sabia qual colocar no ranking agora. As duas disputavam. Eram feridas ainda tão abertas e agora, tenho mais uma. Eu estava totalmente consumida por aquela dor, cada músculo meu doía. E pior: minha alma doía. Lina e Arthur velaram meu sono desassossegado naquela noite. Meus tios - que eu não via há tempos - e alguns amigos de meus pais me visitaram no dia seguinte, mas eu não conseguia esboçar uma reação se quer, apenas assentia se sim ou não com a cabeça e nada além disso. Arthur permanecia do meu lado sempre que podia e não tinha algo pra resolver, mesmo estando absurdamente triste também, ele se mantinha forte por minha causa, dava pra perceber, ele sabia que teria de segurar as rédeas desse meu sofrimento. Ele esteve lá por mim quando nem mesmo eu estava. Ele tomou de conta de mim e de tudo que se passava ao meu redor, cuidou da empresa, cuidou do sepultamento de meus pais (que eu preferi não ir), de tudo. E cuida até hoje. Não me deixou abater, apesar que me deixou viver meu luto, me cuidou para que nada mais grave acontecesse, como uma depressão.

Depois da morte de meus pais, eu passei a ser presidente da Construtora, porém, por algum tempo, eu só assinava os papéis, todas as decisões eram tomadas por Arthur, que também era engenheiro, como meu pai, ele só me procurava para que eu aprovasse tudo antes que ele pusesse em prática e eu, como sempre, o apoiava. Adquiri nele uma confiança como nunca antes em ninguém.

*POV: Arthur*

Após a morte dos pais de Clarice, passei a ajudá-la a dirigir a construtora de seus pais. No começo, ela ia em poucos dias até a empresa, mas eu sempre a deixei à par de tudo que acontecia. Depois, ela passou a frequentar mais nos horários em que estava livre da faculdade e também a participar de reuniões, tomar decisões estratégicas e logo já estava por dentro de tudo que se passava na empresa e participando ativamente. Éramos uma dupla perfeita! A construtora havia tido sim um pequeno déficit após a morte dos pais dela, mas nada que nos comprometesse muito, logo recuperamos e a empresa continuou a evoluir.

Quanto à nós, logo após a morte de seus pais eu dei o anel que lhe daria na noite do noivado. Estávamos no seu escritório na empresa.

A: Amor, tem uma coisa que eu quero te dar já faz um tempo. Vem cá, me dá aqui tua mão.
C: Ah, é? - os olhos dela brilhavam e seu sorriso vinha de uma orelha a outra. Como eu amava vê-la sorrir! Ela passou as mãos por cima da mesa para que eu pudesse alcançar, já que estava do outro lado
A: Sim! Nossas alianças. Já estamos noivos há um bom tempo, e eu já havia prometido aos seus pais que cuidaria de você. - tirei a aliança dela de uma caixinha que carregava no bolso do terno e coloquei em seu dedo anelar da mão esquerda e dei um beijo em cima do anel. Clarice já estava chorando. - Ei, não chore!

Levantei da minha cadeira e fui até à dela, a levantei e lhe dei um beijo calmo.

C: Eu te amo! Muito!
A: Eu também te amo muito, meu amor. Você é a mulher da minha vida.

Quase um ano depois, decidimos que era a hora de oficializarmos nossa união. Nos casamos no dia 5 de agosto de 1988, numa cerimônia simples, os convidados eram apenas meus pais, avós, Lina, Jonas e Marina, sua melhor amiga. A família de Clarice era muito afastada, eram todos grandes empresários e haviam muitas brigas na família, então ela sempre preferiu se manter assim mesmo. Clarice estava ainda mais linda! Seu vestido era muito simples, para realçar a simplicidade dela que exalava até da sua alma, com uma gola alta e mangas ¾, um modelo que Marina havia desenhado e Lina havia costurado. Seu rosto estava iluminado como há tempos eu não via, isso me deixava absurdamente feliz, principalmente por saber que eu estava contribuindo pra isso. Nos lábios, havia um batom de cor muito leve e nos olhos alguma coisa que eu não sei o que os deixavam ainda mais verdes e bonitos, mas a maquiagem mais bonita que ela usava, sem dúvidas, era seu sorriso, seu brilho no olhar, sua felicidade. Eu sou apaixonado por cada parte dessa mulher! E ali, diante do padre, do Cristo, eu agradeci umas mil vezes em pensamento por tê-la.

Padre: Clarice Montenegro Leal, você aceita Arthur Guimarães de Mendonça como seu marido?
C: Sim! Sim! - ela confirmou ao padre e logo fixou seu olhar no meu, com um largo sorriso
Padre: Eu vos declaro marido e mulher!

Demos nosso "sim" e nos beijamos. Após a cerimônia, Lina havia preparado um jantar para comemorarmos na casa de Clarice mesmo.

Lembra de mimTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon