13 - O avesso de um sentimento

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oi, manas! fazendo esse capítulo lembrei de uma coisa que ainda não tinha contado pra vocês, a personagem da Marina (amiga da Clarice) é interpretada pela Natália do Vale, certo? estão gostando? me contem! 🥰
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música do capítulo: queixa - Caetano Veloso

*POV: Clarice*

Dizem que filhos vêm pra nos transformar em pessoas novas, curar feridas e colocar flores no lugar delas. Eu me sentia como mãe de um filho que me foi arrancado 10 anos atrás. Estávamos no início de 1995 quando eu descobri que estava grávida. Durante duas semanas guardei o segredo pra mim, depois, contei pra Marina, que me aconselhou contar logo para Arthur.

Em meio ao caos, descobri que minha ferida ainda estava aberta e lembrei de tudo aquilo que já parecia distante, que há muito eu não lembrava. Todos os dias quando acordava, lembrava da clínica em que fiz o aborto, lembrava da dor física e mental. Fiquei com um certo trauma, não sabia se queria aquela criança. Era duro demais pensar que outra criança estava dentro de mim e que essa teria a chance de nascer que a primeira não teve. Me sentia culpada, culpava Otávio. A maior e mais dolorosa ferida que ele deixou em mim não foi o amor, foi a não resolução de tudo. Foi a história vazia.

Contei pra Arthur, eu não tinha outra saída mesmo. E nem podia. Ele ficaria tão, tão feliz que me levava a crer que eu esqueceria todo o resto logo. Que as dores do parto não me lembrariam a do aborto. Que eu seria feliz com essa segunda criança que meu ventre gerou.

Era uma tarde ensolarada, eu arrumava alguns discos e álbuns que estavam em uma estante da nossa sala de estar. Achei o disco "cores, nomes" do Caetano Veloso, um dos meus cantores preferidos e coloquei pra tocar. Voltei mais cedo da construtora pois as reuniões ficaram todas pela manhã. Arthur ficou pra resolver outros assuntos que eram da sua alçada, mas chegaria em breve e eu lhe daria a notícia.

C: "Um amor assim violento quando torna-se mágoa é o avesso de um sentimento, oceano sem água..." – cantarolava "Queixa", uma das minhas músicas preferidas daquele disco. Lançado em 1982, quantos capítulos da minha vida já não tiveram como trilha sonora essas músicas!
A: Amor? – ouvi Arthur me chamar
C: Oi, meu bem! Tô aqui na sala! – respondi e continuei a cantarolar – "Princesa, surpresa, você me arrasou..." – eu estava de costas para a entrada da sala e de frente para a estante quando Arthur me abraçou por trás e me deu um beijo no pescoço – Quer me matar de susto?
A: Eu? Jamais! Te matar só se for de amores! – ele me virou e me deu vários selinhos – "Serpente! Nem sente que me envenenou" – Arthur cantou com os olhos semicerrados pra mim
C: Você que é um venenoso, seu danado! – Arthur riu e afastou-se de mim
A: O que foi que deu em você? Tá arrumando tudo? Que houve? – disse afrouxando a gravata
C: Ah, eu tava sem fazer nada... deu vontade. Já revi tanta coisa aqui, acredita? – sorri
A: Acredito! Olha essa bagunça, Clarice. A Lina vai pirar! – ele riu
C: Vai nada! Ela tava aqui me ajudando, mas foi lá dentro preparar alguma coisa pra gente comer. Como foi lá na empresa? Tudo certo?
A: Tudo nos conformes, chefe.
C: Perfeito, meu subordinado. – ele estava apoiado na mesa e me puxou pra si me abraçando

Começou a tocar "Sina", com Djavan e Caetano. Também do mesmo disco. "Pai e mãe, ouro de mina..." pensei: "momento perfeito". Meu coração palpitava e minha barriga parecia um borboletário. Eu estava feliz e em paz por contá-lo, o fardo que estava sob meus ombros já era pesado demais e nunca foi justo eu dividi-lo só comigo.

C: Ei, tenho uma notícia pra te dar! – não esbocei muita reação
A: Ah, não! Se for notícia ruim, pode deixar pra amanhã, ou depois, ou depois... tô tão cansado, amor.
C: Não é nada disso, Arthur! – ri
A: Hummmm... tá! Então conta!
C: Ok. – respirei fundo, fechei os olhos e ele me olhava como quem não entendia nada – Nós vamos ser papais!!! – sorri de uma orelha a outra, enquanto Arthur arregalava os olhos
A: O que??? – eu confirmei com a cabeça e dei uma gargalhada
C: É sério! Não tá feliz?
A: Se eu tô feliz? Eu tô muito feliz, Clarice! – ele me beijou e me rodopiou no ar – Mas meu Deus, eu também tô muito surpreso, amor!

No meu 4º mês de gestação, minha médica me recomendou repouso. Minha gravidez era de risco e ela suspeitava que fosse pelo meu aborto anterior, em uma consulta que estava sozinha com ela a confessei sobre o fato. Dali até o final da minha gestação, Arthur me provou mais uma vez, com sua calma e paciência, seu amor comigo e com nossa filha. Sim! Era uma menina! Se chamaria Giovana, como havíamos decidido.

Foi numa madrugada de sábado que Giovana quis vir ao mundo. Naquela madrugada, um amor arrebatador e uma felicidade inimaginável me atingiriam em cheio e eu seria preenchida, agonias passadas seriam esquecidas. Eu seria outra.

C: Amor! Acorda! – balancei o braço de Arthur, que estava deitado me abraçando – Arthur, temos que ir! Acorda! Ai!! – eu já começava a sentir as contrações
A: Oi! O que foi, amor? – ele falava sonolento e, ao mesmo tempo, assustado – Vai nascer?
C: Acho que sim... vamos! – eu me levantava devagar enquanto Arthur se pôs logo em pé na minha frente me ajudando a ficar de pé
A: Linaaaaaa!!! – Arthur gritou para que Lina nos ajudasse
C: Arthur, vamos logo! A Lina não vai nos ouvir daqui. Quando descermos, chamamos ela. Ai!!!! – as dores aumentavam a medida que eu tentava andar
A: Tá. É... – Arthur estava mais nervoso que eu – Ok. Onde está suas coisas? O que eu preciso pegar?
C: Minha bolsa e a da Gio estão na minha parte do guarda-roupa, pegue. São duas. Coloque minha escova de dente também. – Lina bateu na porta e adentrou o quarto
L: Desculpem entrar assim, mas eu imaginei logo o que fosse quando escutei o grito do Arthur. Clarice, você está bem, minha filha? Respire! – Ela me ajudou a ir caminhando até a cômoda – O que você vai fazer? Não precisa trocar de roupa, Clarice! Ponha só um dos seus hobbies e vamos. Não precisa se arrumar pra isso. – ela quis rir
C: Tá. Então me dê pelo menos um calçado, estou de pés descalços. – ela pôs uma sandália nos meus pés e foi me ajudando a caminhar até o andar de baixo, acho que demoramos mais que uma tartaruga demoraria para descer as escadas

Arthur logo desceu com as coisas e nos encaminhamos pro carro. Lina baixou a cadeira do passageiro para que eu me acomodasse melhor e seguimos para o hospital. No caminho, senti algumas contrações e minha bolsa estourou. No parto, algumas complicações, segundo a médica, mas nada que me impedisse de ter Giovana nos braços estando bem e saudável. Arthur chorava feito criança durante o parto. Giovana era linda, tinha os olhos castanhos claros e os cabelos pretos como a noite. Me preencheu e sinto que é esse o amor que veio pra me tomar pro resto da vida.

C: Ela é linda, amor! – Arthur se aproximou, ainda em lágrimas, enquanto eu a segurava nos braços
A: É, demais! Ei, princesa... surpresa, você me arrasou! – cantarolou Arthur encostando o dorso de seu dedo indicador na bochecha da nossa pequena
C: Meu bem, você chorou mais que ela e eu juntas. – rimos juntos

Lembra de mimNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ