11 - Vem cá, Luísa, me dá tua mão

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primeiro, devo mil desculpas a vocês! demorei muito pra postar esse capítulo, mas prometi pra mim mesma que um dia eu terminaria essa história. voltei do intercâmbio, estou na reta final da faculdade (estágio + faculdade + uma vida) e acabei ficando completamente sem tempo pra qualquer coisa. obrigada pela paciência e pela procura incansável para que eu termine a fic, acreditem, eu também quero muito terminá-la, mesmo porque o que falta, de verdade, é apenas escrevê-la. durante este período de quarentena, estou ocupada sim, mas com mais tempo que antes pra me dedicar àquilo que gosto. portanto, prometo dar o melhor de mim pra manter a fic continuada... não me cobrem um ritmo, porque eu também não cobro da minha inspiração, mas é bom saber que vocês estão aí e não desistiram dessa história. obrigada!

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música do capítulo: Luiza - Tom Jobim

*POV: Otávio*

Depois daquele dia no bar, eu e Luísa nunca mais nos desgrudamos. Ela foi me deixar em casa e deixou seu telefone comigo, ela é uma mulher companheira, inteligente e muito alto astral que me ajudou a passar por maus bocados. Luísa era mais velha que eu, já estava quase chegando nos seus 30 anos. Acredito que, também por isso, tinha mais maturidade que eu e essa sua lucidez me ajudou a passar pelos caminhos errados que eu andei vagando. Me encorajou a voltar pra faculdade e assim eu fiz, me matriculei em uma em São Paulo mesmo e voltei a cursar medicina, faltava pouco tempo pra me formar, mais dois semestres e eu já era médico. Logo terminei a faculdade.

Já havia se passado um ano do nosso namoro, mas não era cômodo - nem pra mim, nem pra ela - o nosso casamento agora. Meus pais entenderam, mas os pais de Luísa não foram tão compreensivos assim... mas também não protestaram muito com isso, mas a pressão era inegável. Porém, eu estava construindo minha vida. Comecei a fazer alguns plantões e estudar para passar em alguma residência, queria me especializar em oncologia e essa área é muito concorrida, eu tinha que dar o meu melhor. Luísa sempre me apoiou e encorajou em tudo e, se eu estava ali, formado, muito eu devia ao apoio dela. Ela conseguiu me tornar uma pessoa ainda melhor do que quando eu perdi Clarice. Eu sentia que Luísa era a mulher o qual o destino havia me reservado, apesar de saber que meu maior sonho não seria possível realizar com ela, eu decidi também ser compreensivo, assim como ela foi comigo. Estávamos sentados no sofá da minha casa assistindo alguma cena de novela em família quando descobri.

O: Olha, amor! Eu quero ficar assim, velhinho, do teu lado e dos nossos filhos. - Luísa levantou, ficou sentada no sofá, ficou me olhando e eu não entendi - O que foi? - sorri com tensão e percebi que mesmo após um ano, nós ainda não havíamos conversado sobre isso... como pode?
L: Então, amor, era sobre isso que eu queria falar com você. Eu não posso ter filhos. - fiquei um pouco assustado mas busquei manter a calma e a lucidez pra não a decepcionar
O: Sério?
L: Sério. Me perdoe, de verdade. Eu sei que já devia ter lhe contado isso mas...
O: Calma, Luísa. Tudo bem. De verdade. Nós podemos adotar, não é? E além do mais, essas novas medicinas que estão projetando com certeza logo logo vai poder resolver seu problema. O que aconteceu?
L: Eu tive um problema no ovário quando era mais nova e o médico falou que a gravidez seria muito rara, e se acontecesse, seria de alto risco. Me desculpe por lhe decepcionar... - ela baixou a cabeça, estava realmente desapontada porque já havia visto eu falar outras vezes sobre meu desejo de ser pai mas só agora acredito que arranjou coragem pra falar
O: Ei, não fale assim! - levantei seu queixo e coloquei uma mecha do seu cabelo por trás da orelha, segurei seu rosto com as duas mãos e lhe dei um beijo calmo - Você não me decepcionou. Eu te amo, tá bem? Nós vamos passar por isso juntos!

Fiquei triste, sim. Mas Luísa não me decepcionou, muito pelo contrário, procurou fazer isso no melhor momento para que pudéssemos conversar. Além do mais, eu estava acompanhando diversas pesquisas e desenvolvimento de métodos para gravidez, não me incomodava a ideia da adoção, então, eu teria certeza que ainda realizaríamos este sonho. Ou melhor: uns. Quantos quiséssemos.

Com aquela conversa, lembrei das que eu tinha com Clarice, falando sobre nosso futuro, sobre nossos filhos. Eu queria dois, ela queria três, mas eu sempre dizia que mais um não era problema. Ela queria tanto quanto eu e isso me deixava em paz. Fiquei pensando como seria se eu ainda estivesse com ela, se teríamos filhos, se estaríamos aqui ou em Portugal... queria tanto vê-la novamente. Nem que fosse pra saber como ela está, ou pra lhe falar da minha mudança, ou pra que ela mesma visse com os próprios olhos. Lhe dizer o quanto aprendi, o quanto cresci. Ou melhor, eu queria mesmo é tê-la conhecido só agora, quando meu pensamento já é esse. Mas, se isso tivesse acontecido, eu nunca seria quem sou hoje. Foi ela e Luísa quem me fizeram aprender. E eu aprendi tanto sobre orgulho, saudade, maturidade, e tanto mais... Provei doses amargas disso e posso dizer: a saudade desce mais seco na garganta que qualquer gin, ou whisky puros... Eu sei, disso hoje eu sei. E é engraçado como eu criei uma fraqueza muito grande pelo álcool depois da partida de Clarice, não gostava de lembrar dela e achava que bebendo ela sairia de meus pensamentos, mas eu estava errado, muitas vezes, lembrava mais ainda dela. Mas eu sabia que seguir em frente era necessário, e era tudo que eu mais queria. E tão importante quanto escolher o caminho, é escolher com quem seguí-lo, e eu escolhi Luísa. Tom Jobim embalava nosso amor, cantando "Luiza", e eu, sempre adorava lhe cantar a música enquanto cozinhávamos.

"Vem cá, Luiza
Me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza
Me dá tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol
Nos teus cabelos
Como um brilhante que partindo a luz
Explode em sete cores
Revelando então os sete mil amores
Que eu guardei somente pra te dar, Luiza..."

Em 1995, finalmente consegui passar na tão sonhada residência de oncologia, porém, no Rio de Janeiro. Conversei com meus pais, que ficaram muito animados com a ideia, porém temerosos, pois quando eu tivesse minhas recaídas lá, quem iria me ajudar? E Luísa? Iria junto comigo? Eu ainda não havia conversado com ela, apenas quando tivesse ao menos o apartamento para ficar lá. Papai comentou com um amigo, que era médico e tinha uma clínica em Copacabana, que eu provavelmente iria realizar a residência no Rio e ele logo propôs que eu atendesse como clínico geral no espaço dele durante meus contra-turnos. Claro que aceitei! Seria uma rotina pesada, mas com certeza me ajudaria a andar com minhas próprias pernas. Em poucos dias, papai conseguiu, com a ajuda desse mesmo amigo, alugar um apartamento em Ipanema. Agora, eu precisava falar com Luísa!

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