CAPÍTULO 2

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Não me orgulho em admitir que desejei fervorosamente que houvesse mais um encontro entre o Preston e eu, mas sabia que o mais sensato a fazer é me manter longe da bomba relógio prestes a explodir. Então concentrei-me no curso de fotografia que fui convidada a participar por uma amiga da mamãe – que também se tornou a minha guia turística durante a semana inteira, até dormiu no meu apartamento algumas noites. Desta forma consegui me distrair e não pensar nos olhos negros, muito menos no momento em que o vi cheirar algumas carreiras de cocaína. Tudo estava calmo e seguro até a chegada do fim de semana, quando a campainha tocou um pouco antes da minha saída para uma festa.

Passei o batom nude para finalizar a maquiagem e caminhei com pressa em direção à porta, já que a pessoa do outro lado aperta o botão da campainha de maneira insistente. Reprimi um palavrão ao abrir a porta enquanto ajeito a saia do vestido esvoaçante e assim que ergo os olhos para a pessoa insistente, sou obrigada a camuflar de imediato a expressão chocada com um sorriso receptivo.

- Olá, Alexia Armstrong! – o maldito tom voz rouco fez um arrepio involuntário atravessar o meu corpo.

Sim, Preston Hawkins está encostado no batente da porta de braços cruzados e com uma expressão sonsa, como se tivesse me encontrado por acaso.

- Como descobriu onde moro?

Foi impossível não dizer a única coisa que veio à mente.

- Tenho os meus contatos e dinheiro, o resto fica por sua imaginação. – deu de ombros.

Soou tão arrogante e ridículo, no entanto não consegui odiá-lo por isso. Na verdade, a única vontade que tenho é desvendar a permanente tristeza em seus olhos e a sua fixação em se matar através das drogas. Gostaria de saber o motivo de toda a podridão que se orgulha em ter em sua vida.

Um silêncio constrangedor se instalou entre nós e fui "obrigada" a perguntar a segunda coisa que veio em minha mente.

- Quer entrar um pouco?

Dei um passo para trás e abri a porta, dando espaço para que entrasse no meu apartamento. O modo como caminhou para dentro da minha casa temporária foi tão arrogante quanto seu tom de voz, deixando explicitamente claro que seu humor não se encontra em seus melhores momentos e isso já é motivo suficiente para ter certeza de que iria me atrasar para o evento. Em menos de 1 minuto ele fez uma análise rápida da sala do apartamento e comentou:

- Tudo aqui é tão claro e iluminado!

Fiz um gesto para que se acomodasse no sofá e sorri ao vê-lo sentar-se soltando um suspiro impaciente.

- Enquanto a sua casa é tão escura e pesada. – retruquei ao me alojar em um pufe Louis XV revestido em couro branco.

- Dizem que a nossa casa é o reflexo da nossa alma e foi exatamente nisso que pensei quando contratei uma pessoa para decorá-la.

Seus olhos se prendem nas minhas pernas cruzadas ao explicar, aumentando ainda mais a curiosidade de saber o motivo de todo seu discurso sobre vida, vícios e alma. Tudo nele soa poético, sexy e melancólico.

- O que diabos está fazendo aqui, Preston? – resolvi cortar a conversa e ser direta.

Um sorriso malicioso tomou conta de seus atraentes lábios.

- Gosta de ser sempre direta, não?

- É claro, assim não corro o risco de me sentir entediada.

De repente uma expressão carrancuda atingiu o rosto tão marcante e misterioso de Preston, demonstrando que não gosta nem um pouco da palavra "entediada".

SHADES OF COOLWhere stories live. Discover now