CAPÍTULO BÔNUS: VOLTANDO PARA CASA

413 50 12
                                    


Preston Hawkins

Os dias na clínica de reabilitação se tornaram semanas e as semanas em longos meses longe do mundo. Tempo suficiente para me desintoxicar das drogas, da quantidade excessiva de bebida, dos pensamentos autodestrutivos. Tempo para me curar de tudo que havia de ruim na mente, corpo e rotina. No início foi difícil aceitar ficar trancado nesse lugar, tendo que conversar com um terapeuta duas vezes por semana, que me levava a atingir o ápice das minhas emoções. Enquanto queria esquecer o passado, o filho da mãe me obrigava a relembrar de tudo. Absolutamente tudo. Contei-lhe a minha vida inteira, desde a versão dos amáveis pais na infância, até a versão tirana que não admite seus erros.

A parte fácil é falar da importância de Fay e a sua lealdade a nossa amizade, assim como sobre o meu motorista intrometido que me convencera a procurar ajuda sem meias palavras. Mais fácil ainda é compartilhar o que vivi com Alexia Armstrong no tempo em que ficamos juntos. Recordar em como se entregou a mim sem pedir nada em troca, sua tenacidade em manter seus valores acima de tudo e o prazer em sempre vê-la me enfrentar de igual para igual. Na verdade, é graças a essas lembranças que me mantive firme, apesar de ter quase enlouquecido de saudade.

O meu único contato com o mundo exterior é através do computador – onde pude manter os negócios funcionando a distância - as visitas de Fay junto com o Nolan e o Max, encarregado em levar e trazer os documentos que necessitaram da minha assinatura. Usei as horas reservadas ao trabalho para buscar informações que eles não possuíam e nem estavam dispostos a procurar, pois queriam a minha recuperação completa primeiro.

Sim, eu desejava saber todos os passos dela e se sentia falta de nós dois.

Embora tenha utilizado contatos, serviços de investigadores para diversas situações profissionais e pessoais antes, dessa vez usar esses meios não estava entra as opções. Perseguir Alexia em segredo é algo que o meu lado fodido faria, nem se importando se ela aprovaria ou não a atitude. Portanto, pela primeira vez a mídia iria me ajudar com todos os seus sites sobre celebridades, revistas, tudo o que poderia divulgar os trabalhos, a rotina e a atual vida da mulher que me deixara de quatro. Tendo acesso a ela sem qualquer intimidade, feito os homens e mulheres que passam o dia todo com as bundas presas ao sofá, procurando por notícias de famosos e sonhando em ter sua vida. Mas ao contrário dessas pessoas anônimas, eu só desejava ter Alexia Armstrong comigo.

Vê-la sorrir para as fotos sem mostrar os dentes, com uma polidez sem sua habitual essência alegre, me preocupou. Sem dúvida o modo que escolhi para pôr um fim no nosso envolvimento a tinha afetado pra caralho. De um jeito que lembrava a mim mesmo, pouco tempo depois que descobri toda a verdade sobre Elizabeth. Quando eu comecei a perder a fé nas coisas e nas pessoas. Me senti um filho da puta mais uma vez por ter destruído parte de sua alma e tirado o seu sorriso cativante, ainda que fosse temporariamente. Me senti culpado.

Foi durante uma crise de consciência, em meio a uma sessão de terapia, que tomei a decisão mais difícil e dolorosa de todas.

- Ontem fiquei horas na frente do computador encarando uma foto recente da Alexia em um evento e consegui captar algo que não via há meses.

Erguendo os olhos do seu bloco de notas pela primeira vez no dia, o Dr. Leonard Breuer parou de anotar ao ouvir o comentário repentino e me encarou com uma tranquilidade irritante. A mudança brusca de assunto o interessou, principalmente por se tratar de algo que evito mencionar durante as sessões, pois o foco de todo o problema sempre são os meus pais.

- Conte-me o que captou de diferente das outras vezes.

- Voltou a sorrir com vontade, os olhos voltaram a brilhar.

SHADES OF COOLOnde histórias criam vida. Descubra agora