capítulo 1. Lavínia

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Lavínia abraçou seu próprio corpo e perambulava pela calçada de pedras, sem destino, ela parecia estar perdida pelas ruas da cidade, talvez nem se lembrasse de seu próprio nome.

Ela estava sozinha agora e ainda tentava se lembrar de seu caminho para casa. Parou e escorou em um poste por alguns instantes, pensativa.

A jovem foi deixada na calçada por um estranho, não precisaria mais refazer os passos, pois percebeu que já estava próxima de sua casa, e com passadas largas procurou seguir sua direção naquela madrugada sombria.

Na mente de Lavínia, imagens vinham como se fossem flashes de luzes, mantendo-a confusa. Ela se via em meio a pensamentos desconexos, delírios de uma noite dançante, de muitos risos, bebidas e um cara legal.

Enquanto Lavínia abria o portão de casa ainda buscava orientação e algo inquietante lhe penetrava a alma: "Quem será ele?" ― pensou a jovem.

Ela ainda sentia aquele toque, aquele cheiro, ouvia aquela voz e aquele sorriso que não a deixava em paz.

Na verdade, Lavínia não se lembrava de muita coisa. Ela saiu de casa com suas colegas de faculdade, elas dançaram na pista da danceteria e conversaram com muitas pessoas, ficaram por horas dentro da casa de show que estava lotada, naquela noite de Sábado.

Lavínia ligou o chuveiro e deixou a água correr pelo seu corpo, que por onde passava foi desfazendo as pequenas marcas de algo intenso que ocorreu nas poucas horas anteriores, e ao molhar bastante seu rosto, ela buscava uma lembrança qualquer do que lhe aconteceu.

"Porque não conseguia se lembrar do que aconteceu e porque estaria com aquele homem?" ― questionou a jovem em seus pensamentos ― "ele não tem nome, ele não tem endereço, ele não tem rosto" ― e por fim ela julgou um caso indefinido afinal.

Já era quase de manhã e a jovem não conseguia dormir. A cama grande e confortável para duas pessoas estava apertada e parecia que eram lençóis de espinhos. As mãos fortes daquele estranho ela ainda as sentia envoltas do seu corpo. E para ela era extremamente desconcertante tentar se lembrar da noite passada ao mesmo tempo que sentia um forte desejo que a dominava por completo.

"Como posso desejar?" ― ela começou a rir de si mesma, perguntando se não estaria ficando louca.

Pela fresta da cortina um raio de sol escapou e bateu no rosto de Lavínia. Ela ainda estava se sentindo atordoada, de ressaca e ao ver as horas em seu celular, levantou apressada.

Andreia sua desorientada companheira de casa para variar ainda não havia chegado da farra. Lavínia não a considerava como amiga íntima, mas como vieram da mesma cidade para estudarem na cidade atual, elas dividem a casa e tudo quanto eram despesas de casa.

Ás vezes elas saíam juntas, mas a companheira de despesas além de linda, ela não era confiável, se o assunto era homens não poupava esforços para seduzi-los. Mas Lavínia ficava na paz com ela, já que não tinha outra opção.

Naquele domingo à tarde, Lavínia recebeu uma mensagem de número desconhecido: "Preciso encontrá-la no Lorde Hotel, Terça-feira, ás vinte horas". Ela achou estranho, medonho e não disse nada a ninguém. Então, salvou o número desconhecido como "Estranho". "E só poderia ser ele e quem mais então seria?" ― pensou ela.

Passava na cabeça de Lavínia uma porção de coisas, como envolvimento com psicopata, ameaças com talvez fotos nuas para postagem em rede, entre outras atrocidades. Porém ela estava curiosa e ansiosa para revê-lo.

Lavínia deixou de lado os trabalhos da faculdade e estava ansiosa para seu encontro marcado com o estranho. E chegou antes do horário. Ela olhou a estrutura da faixada do Lorde Hotel e já eram quase vinte horas. As janelas dos apartamentos do prédio aparentavam tranquilidade no local e não havia ninguém a observando ou pelo ao menos ela achasse que não. Lavínia deixou a sua casa, ela deixou de ir à faculdade e toda sua rotina por um desejo de reencontrar aquele estranho.

Ela foi até a recepção do hotel e seu coração acelerou, porque não sabia o que dizer para o recepcionista, e começou a encará-lo sem nada dizer. O rapaz que atendia outros hóspedes do hotel certificou-se de quem se tratava:

― Boa noite. Lavínia não é? ― perguntou o recepcionista para a jovem. Ela arregalou os olhos e em seguida confirmou que sim com a cabeça, ainda surpresa por ouvir seu nome e o atendente continuou dizendo que alguém chamado Ethan a aguardava no apartamento 606.

Ela então pegou o elevador para o sexto andar, tomou coragem e bateu na porta do apartamento 606. Um rapaz alto, magro, cabelos longos e cobrindo grande parte do rosto, veio atender a porta e pediu para que ela entrasse. O apartamento estava estranhamente à meia luz.

Ao invés de entrar Lavínia começou a se afastar da porta do apartamento. O sujeito mais rápido do que ela a puxou para dentro do quarto e tapou-lhe a boca para que ela não gritasse. Ela tentou escapar apavorada de seus braços e ele a conteve e disse em seguida, sussurrando ao seu ouvido:

― Por favor, se acalme. Eu vou soltá-la, mas não precisa se apavorar. Não vou te fazer mal ― disse o estranho a Lavínia.

Ela então consentiu com a cabeça ainda assustada, e ele se afastou pedindo para que ela se sentasse no sofá. Ela procurou ver todo o rosto dele, enquanto perguntou:

― O que você quer comigo? ― Lavínia queria respostas já que tremia todo seu corpo.

Ele se aproximou de um aparador no canto mais escuro do quarto e em seguida abriu uma bebida previamente mergulhada em um balde de gelo e serviu duas taças e veio até a jovem. Ela se esquivou dele e recusou a bebida. Ele recuou um pouco e colocou as taças na mesa de centro, sentando - se no outro sofá um pouco afastado dela e sem seguida ele disse chateado:

― Eu achei que tivesse sentido por mim o mesmo que senti por você ― o estranho disse diante do comportamento de Lavínia.

― Eu não sei quem é você e ser colocada à força dentro de um apartamento escuro, com alguém que não vejo o rosto, talvez seja muita boa vontade minha em ainda estar aqui ― Lavínia desabafou.

O estranho tentou uma aproximação e diante da ameaça de Lavínia em começar a gritar ele recuou e ela continuou a dizer:

― Preciso saber o que houve entre nós ― Lavínia revelou seu principal objetivo ao visitar aquele estranho.

Ele fez um assombroso silêncio e bebia bem devagar na taça a rodopiando nas mãos. Então Lavínia se levantou e saiu rapidamente daquele apartamento. Ele não tentou contê-la, abaixou a cabeça, e ficou no mesmo lugar sentado e bebendo seu vinho.

Lavínia saiu correndo pelos corredores do hotel com receio de que o tal "Ethan" viesse atrás dela e ela corria como uma maluca e nem percebeu que havia passado pelo elevador. Ela sentou-se no corredor e começou a chorar. Um casal de idosos que se hospedavam em algum quarto do hotel, lhe mostrou o caminho pra saída do hotel.

Um Amor PeculiarWhere stories live. Discover now