Capítulo 16. Infelicidade

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Lavínia acordou em um leito de hospital e estava confusa, não se lembrava como havia chegado ao local. Os enfermeiros do hospital pediam insistentemente para que a jovem se acalmasse, para que não fosse preciso aplicar-lhe algum calmante. Avisaram que o médico responsável pela internação dela, já chegaria para melhor orientá-la.

Mais tarde, chegou ao quarto de Lavínia um rapaz ainda jovem e médico residente do hospital, que se chamava Arthur. Ele examinou a jovem e disse que depois do sangramento que ela teve, foi verificado através de exames de ultrassom, que o feto não havia sido afetado pelas contusões que ela sofreu e para a surpresa de todos a gravidez dela seguiu normal como se nada tivesse acontecido.

Depois souberam que a médica que atendeu Lavínia no cativeiro, deu-lhe um medicamento para conter hemorragia e não para facilitar o aborto. Então lágrimas tomaram conta do rosto de Lavínia porque apesar de tudo, tem um ser pequeno e guerreiro dentro do seu ventre.

O médico já ia deixando o quarto e Lavínia perguntou:

― E Felipe, o pai do meu filho? ― ela se dirigiu a Arthur.

O médico disse que ele também chegou ao hospital e havia passado por cirurgia, mas que ele estava aos cuidados da família Meireles naquele momento.

Arthur foi-se embora e Lavínia ficou cheia de dúvidas em relação a última fala do médico. Ela estremeceu só de pensar nas hipóteses e era inevitável não pensar no pior.

À noite no horário de visitas entraram primeiro os pais de Lavínia, a abraçaram forte e a mãe dela logo reclamou da falta de notícias, da gravidez e pelo segundo atentado que quase lhe ceifou a vida. Lavínia dizia estar cansada e não quis discutir com os pais tais questões.

No segundo tempo de visitas, Amanda chegou ao quarto com Sílvia e elas se abraçaram por um bom tempo. E Lavínia olhando nos olhos inchados de chorar da amiga irmã nem precisou perguntar o que ela já respondeu com lágrimas nos olhos:

― Os tiros que atingiram Felipe o machucaram muito ― Amanda teve dificuldade ao falar.

Lavínia também começou a chorar esperando pelo o pior na conclusão das palavras de Amanda:

― Felipe passou por cirurgia, mas não resistiu. Sinto muito! ― ela completou o que estava para dizer.

As três ficaram chorosas por algum tempo. Sílvia com a voz grave pelo tanto que havia chorado, completou:

― Nós viemos te buscar para o velório ― a sogra precisou de forças para falar a jovem.

Lavínia que parecia conter o desespero até aquele momento. Levantou-se da cama e deu um grito que estremeceram as paredes do hospital, porque ela não queria aceitar a tudo aquilo.

As enfermeiras disseram que sedariam a Lavínia caso ela não se controlasse. Amanda contornou a situação e disse que sua cunhada deveria ir se despedir de Felipe. Silvia tratou da parte burocrática da liberação de Lavínia antes da alta hospitalar e se comprometeu a cuidar dela.

No caminho da casa dos Meireles, as jovens sentadas no banco de trás, pareciam estar mais calmas enquanto Sílvia dirigia. E Amanda começou a contar que havia sido um verdadeiro "banho de sangue" o tiroteio entre a polícia e os homens de Rubem. Alguns conseguiram fugir pela mata e Rubem, o alvo principal, foi perseguido e morto pela polícia e foram vários de seus comparsas presos. Os documentos que incriminam Rubem estavam nas mãos do detetive Wesley, que após esse caso, decidiu se aposentar ainda jovem. Nos documentos recuperados além dos criminosos conhecidos, estavam envolvidos alguns políticos da cidade, empresários e até algumas pessoas da polícia num esquema grande que caberia ao ministério público investigar.

Chegando à casa dos Meireles, Jose Ricardo muito triste os recebeu, era como se ele segurasse ao máximo para tentar ser o mais forte e ajudar a todos naquele momento difícil, mas o patriarca suspirava o tempo todo demonstrando a dor que estava no seu interior.

Lavínia olhou para a escada que levava até o quarto de Felipe. Ela subiu e foi até a porta dele, mas não conseguiu entrar e provavelmente ninguém vai entrar naquele quarto por um bom tempo. Amanda pegou nos ombros da amiga irmã e a conduziu para o quarto dela.

Elas colocaram suas roupas de velório e na sala da casa todos já esperavam por elas, inclusive os pais de Lavínia. Todos olhavam com pena para o rosto abatido de Lavínia e depois de tudo que ela passou, já antecipavam o quanto ela iria sofrer naquele restante de dia.

Seguiram de carro todos calados e chegando ao local do velório, havia muitos jornalistas locais e da região querendo cobrir a história que intitulavam "o bandido que morreu herói".

As pernas de Lavínia tremiam e ela pediu para que dessem a ela algum tempo na antessala do salão onde prepararam o velório de Felipe.

Havia muitas pessoas no local, familiares e curiosos e todos olhavam para a jovem "viúva". A história de amor de Felipe e Lavínia havia se tornada pública e todos sabiam inclusive de sua gravidez.

Ela respirou profundamente e caminhou pelo longo corredor, onde no fim se encontrava o caixão com o corpo de Felipe deitado. Antes de chegar até o rapaz morto, muitos rostos conhecidos cumprimentaram a Lavínia: Andréia e amigas, colegas da faculdade, o recepcionista do Lorde Hotel e já perto do caixão, Amanda, Silvia e José Felipe a aguardava. Todos a olhavam e poderiam ver as feridas físicas no rosto e pelo corpo da jovem, porém ninguém fazia ideia da ferida feita no coração dela.

Lavínia se aproximou devagar e ao ver o caixão fechado, pediu para que abrissem. Como todos ficaram calados e não agia, ela por iniciativa própria começou a deslacrar o caixão, para o espanto de todos no local. Os pais de Felipe tentaram contê-la e ela então começou a bater na tampa do caixão e perguntava de forma aleatória e repetindo: "por que"? As lágrimas brotavam de sua face e pareciam que iam regar o caixão enquanto ela abraçava-o e chorava muito. Amanda docemente chamou a amiga irmã para saírem do salão. Lavínia pediu só mais alguns minutos e declarou:

― Meu amor, eu sei que não vai ser fácil daqui para a frente. Mas quero me lembrar dos nossos poucos, mas melhores dias que vivemos juntos. Eles tiraram a sua vida, mas nosso amor nunca vai morrer ― Lavínia disse alisando o caixão de Felipe.

Ela olhou para a coroa de flores e se engasgou com choro e depois continuou dizendo:

― Saiba que vou te amar para sempre ― ela finalizou se despedindo de Felipe.

E aquela despedida se prolongou pela madrugada. O fato de o caixão estar lacrado foi pedido pela família Meireles para evitar a exposição do filho, em razão da história ter ficado famosa não só na cidade, como em todo o país. 

Um Amor PeculiarWhere stories live. Discover now