Capítulo 2. Ethan

35 8 6
                                    

Lavínia despertou de um pesadelo. Ela se sentiu aliviada por estar em sua casa e em sua cama. Pensamentos a acompanharam até a madrugada, preocupada em como poderia ter sido o desfecho daquele encontro no Lorde Hotel.

"Seria vítima de estrupo. Outra vez"? ― pensou ela, pois não se lembrava de seu consentimento no primeiro encontro com Ethan. "Mas, se ele queria seu mal, por que não o fez? Ela estava sozinha com ele naquele quarto" ― as dúvidas ainda a perturbavam. 

Lavínia estava confusa e precisava muito desabafar tudo aquilo com alguém. E ela não tinha nenhuma pessoa em quem confiar, somente Andreia e os colegas da faculdade. Havia pouco tempo que ela decidiu ir morar naquela cidade com o objetivo de cursar seu tão sonhado curso de medicina, em uma das mais bem-conceituada Universidade de toda aquela região. 

Andreia chegou naquele fim de tarde e quando viu a Lavínia apreensiva dentro de casa, a chamou para juntas irem ao centro da cidade. Lavínia para distrair decidiu aceitar o convite da amiga, se produziram e saíram de casa.

Elas pediram bebidas já sentadas no quiosque do bar Memphis. Andreia chamou outras meninas que conheceu nas "baladas" dos finais de semana. Todas elas bebiam e conversava até o anoitecer, Lavínia não diferente se embebedou e se alegrava muito naquela noite. 

Algumas horas mais tarde, como se fossem miragens voltaram alguns flashes na cabeça de Lavínia do Sábado em ocasião de sua amnésia e ela aos poucos buscava por imagens do rosto de Ethan. Ela olhava para o rosto de cada rapaz que passava pela mesa do bar, tentava de todas as formas encontrá-lo naqueles rostos, mas nenhum deles se pareciam com o estranho.

Quando o álcool já respondia mais que Lavínia pelas suas ações, ela percebeu que do outro lado do bar, mais adiante havia um rapaz escorado na parede perto dos banheiros, bebia e olhava em direção a mesa das jovens. Ela sentiu um arrepio que a percorreu dos pés até a nuca. Ele estava de capuz, mas deixava escapar um pouco de seus longos cabelos castanhos e a aquela forma que segurava o copo de bebida não poderia ser outra pessoa. Lavínia se levantou de inesperado e procurava vê-lo melhor. Andreia começou a sorrir com as demais jovens e disse que Lavínia já estava ficando bêbada, querendo subir na mesa do bar. Quando o estranho percebeu que a jovem o havia visto, se misturou a outras pessoas e desapareceu. Lavínia procurou por Ethan o restante da noite em que ficaram naquele local.

Na volta para casa, Lavínia perguntou a Andreia sobre o rapaz que a levara para casa na madrugada do Sábado anterior. Ela em tom de deboche somente disse:

― Aproveitou-se bem daquele gatinho, não é? ― Andreia respondeu perguntando e não deu mais detalhes sobre Ethan.

Lavínia dormiu naquela noite e sonhou com a imagem de Ethan, girando a taça de vinho nas mãos. Quanto mais ela se aproximava dele, mais ele se afastava e quando enfim ela o segurou pelo capuz Ethan se desfez nas mãos dela, como se virasse pó. Lavínia acordou com um grito na madrugada e solidão de seu quarto escuro.

Depois de um dia pouco produtivo, Lavínia girou a chave de seu carro e deu partida no carro seguindo seu caminho até a faculdade. Ela precisava colocar em dia suas atividades estudantis. Observava o movimento em todas as esquinas e em cada parada nos semáforos procurava por Ethan. Ela estava com paranoia de estar sendo seguida. 

Depois daquele dia do bar Memphis ela ficou com muitas "neuras", mas no fundo de sua alma, parecia que ela gostaria mesmo de estar sendo perseguida por aquele estranho e descobrir enfim quem ele era. "E se aquele dia ela não tivesse fugido? E se ele quisesse apenas conversar?" ― Lavínia bateu no volante do carro e insultou sua estupidez. São tantos "serás" e "porquês"!

Ela não conseguia se concentrar na aula da faculdade. Já no intervalo, Andreia interrompeu o lanche de Lavínia e a chamou para apresentar uma amiga dela, que a princípio a jovem não deu muita ideia, mas já no final do intervalo Amanda a conquistou com seu jeito simples e inteligência nas palavras que dizia. Lavínia acabou se identificando muito com aquela moça.

Andreia seguiu para a sala de aula, já que Amanda e Lavínia praticamente a tiraram do assunto, parecendo velhas amigas de infância. Por coincidência, Amanda era praticamente vizinha de Lavínia e de Andreia. Ela morava no mesmo quarteirão a poucas casas de distância.

Elas combinaram de sempre irem juntas para a faculdade, reversando a carona, já que não dava para contar com Andreia que sempre tinha um "boyfriend" para levá-la para casa.

Passaram-se os dias. A amizade de Amanda foi o que de melhor aconteceu a Lavínia naquela cidade. Pela primeira vez ela teve com quem contar de verdade. Elas conversavam sobre a cidade, suas famílias e seus últimos namorados. Lavínia esperava uma oportunidade para contar para a amiga sobre o misterioso Ethan e o que eu estava sentindo em relação a ele. Ela não sabia se a nova amiga entenderia ou ainda se alguém entenderia, o que nem mesmo ela entende.

Lavínia gostava de correr pelas manhãs, assim que tinha uma folga dos estudos da faculdade. Amanda disse não ser "fitness", mas que qualquer dia a acompanharia na corrida. 

Em torno do parque municipal é um bom local para correr, o tempo foi que não ajudou a Lavínia, o céu estava ficando nublado e o vento anunciava a chegada de uma tempestade. Começou a pingar algumas gotas da chuva e as pessoas que se exercitavam no parque começaram a se dissipar e Lavínia ainda tinha um bom percurso. Não se arriscaria em se esconder debaixo das árvores por atrair relâmpagos e então ela continuou a correr. Numa curva, com bastante água tapando–lhe a visão, para a surpresa dela trombou de frente com Ethan que também estava todo encharcado e ele não lhe sedia a passagem, ela olhou para os lados e viu estar sozinha com ele e então o desafiou:

― O que você quer de mim? ― perguntou Lavínia não escondendo seu medo dele.

Ele se aproximou dela e a puxou para perto dele e a respondeu:

― Eu quero você, Lavínia ― o estranho segurou a jovem e não deixou que ela saísse facilmente de seus braços.

Ethan a colocou contra a parede de uma casinha de ferramentas dos zeladores do parque. Quando ela deu por si já o estava beijando e grudados com a ajuda da chuva. Lavínia não queria deixar que acontecesse, mas aconteceu. O coração dela estava disparado, com uma adrenalina que nunca havia sentido. E ela já desejava aquele misterioso homem que lhe escondia o rosto. 

Eles não se contentaram com um beijo e foram além. Em meio aquele intenso movimento, naquela chuva fria, ela queria muito ver detalhes do rosto dele, mas ele não permitiu. 

Pouco depois que eles ficaram ela começou a questioná-lo, ele tapou a boca de Lavínia sem colocar força e disse:

― Eu não posso permitir que você me conheça por agora, mas tenha a certeza de que estou gostando muito de você, Lavínia ― Ethan disse para que ela se calasse.

Ela queria saber mais de seu misterioso amor e ele nem esperou por uma resposta dela, saindo correndo na então intensa chuva.

Um Amor PeculiarWhere stories live. Discover now