Capítulo 17. Mistérios da vida

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A ficha ainda não havia caído para Lavínia e a família Meireles. E viver sem Felipe não estava sendo tão fácil. Ele mesmo com toda sua rebeldia fazia um diferencial na vida de todos. Eles tiveram um longo dia de velório cansativo, mas um enterro rápido. Uma despedida que a Jovem prefere não ficar relembrando, vendo a imagem daquela terra vermelha caindo sobre o caixão de Felipe, que parecia mais ser um pesadelo do qual ela gostaria muito de acordar.

Na casa dos Meireles os enlutados se sentaram à mesa para um almoço. O lugar de Felipe estava vazio ao lado de Lavínia. Ela ainda não conseguia comer como deveria e pediu licença. Diante da preocupação da família, ela respondeu ao dar as costas que só precisaria de alguns minutos sozinha.

Ela tomou coragem, subiu as escadas da casa entrou no quarto de Felipe. Lavínia sentou-se na cama do falecido, pegou algumas roupas e as abraçou. Havia muito de Felipe naquele lugar. Suas fotos, suas roupas, seu cheiro e seu jeito de ser. Era como se ele nunca tivesse saído daquele espaço. Quando a jovem notou que no canto do quarto havia um pouco do enxoval do bebê começou a chorar novamente.

Amanda bateu na porta do quarto interrompendo a cunhada e com a mão estendida entregou-lhe uma correspondência endereçada a mesma. Não havia remetente e quando a jovem abriu a carta, viu que se tratava de algo escrito por Felipe e enviada há alguns dias pouco antes dele morrer. Amanda deixou a amiga irmã sozinha e então ela começou a ler o que Felipe dizia:

"Quando esta carta chegar a suas mãos, talvez eu não vá estar aqui e espero que tenha feito de tudo para que você e nosso filho ficassem bem. Quero te pedir desculpas por não vivermos nosso amor como devido e que tudo o que eu fiz foi para protegê-la de mim. Eu sei que não sou a melhor pessoa, mas quero que meu filho pense diferente a meu respeito. Abrace a ele por mim todos os dias e diz o quanto eu amo vocês. Eu estou chorando agora Lavínia, isso foi você quem mudou em mim! Não posso dizer que seja ruim, mas eu precisava viver isto, de ter alguém com quem verdadeiramente me importasse. E você não tem a dimensão do quanto é responsável por minha mudança! Você é o meu lado bom e trouxe cores a minha vida. Ensine nosso filho a ser como você. E, por favor, termine sua faculdade!".

Ela fez uma pausa para limpar as lágrimas e continuou lendo as palavras de Felipe:

"Não quero que se culpe pelo o que vier acontecer comigo. Eu sei bem aonde me meti quando decidir fazer o que era certo. Se não me pegam agora, pode ser em algum outro momento e será um sofrimento para você e todos aqueles que amamos. Meu pai tem razão em dizer que eu escolhi um caminho sem volta. Abrace meus pais por mim e diga que são os melhores pais que alguém pode ter. E serão os melhores avós para nosso filho. Por favor, cuida da minha irmã chata também por mim."

Lavínia desceu as escadas da casa e continuou a ler a carta de Felipe:

"Sabe a Praia Tribo do Sol? Vai lá e toda vez que ver o pôr- do- sol, lembre-se de mim e quanto formos felizes juntos. Mesmo que talvez, eu não tenha tido o tempo de me despedir, quero que saiba que jamais amei tanto alguém na minha vida e seja como for, Lavínia siga você o caminho que planejamos e lembre-se que sempre estarei do seu lado. Com amor, José Felipe".

Lavínia foi de encontro a família Meireles e os abraçou se sentindo confortada pelo o que Felipe concedeu a ela, apesar de tudo.

***

Passaram-se os dias e nas férias, a família Meireles partiram todos para o litoral. A barriga de nove meses de Lavínia a atrapalhava se sentar na areia junto com Amanda que sorriu e a ajudou.

As amigas irmãs admiravam o horizonte, aonde o sol se escondia aos poucos na água do mar. Não demoraria muito e Gabriel Felipe viria ao mundo e Lavínia já o imaginava brincando na areia da Praia.

Lavínia leu um trecho de livro que estava em suas mãos e se identificou:

"A vida tem as consequências pelas quais um dia nós plantamos uma importante lição que ela nos entrega, para que saibamos através das experiências mesmo estas sendo ruins, que sempre temos algo a aprender de fato".

Ela sabia que foram muitos os problemas que assumiu ao desejar estar ao lado de Felipe e sabia também o quanto foi ruim a colheita de tal escolha. A começar pelo filho que iria crescer sem ter conhecido o pai, e no tempo certo ele precisaria saber de tudo que aconteceu, mas ainda assim não iria deixar de sentir falta, mesmo com o amor e carinho de toda família.

Todas as vezes que Lavínia vai até o litoral, relembra o seu amor e como era forte a atração entre eles. Felipe entrou na vida dela de forma misteriosa e se foi muito antes que ela percebesse. Mas Lavínia sentia que era como se Felipe nunca tivesse saído do seu lado.

A jovem refletiu sobre sua vida e tocava a barriga sorrindo e dizia para si mesma que a melhor parte de Felipe ficaria para sempre com ela.

Ao longe, na imensidão de areia branca da praia, Lavínia observava a um rapaz de óculos escuros brincando com o mar e sorrindo sozinho. "Deve ser algum maluco" ― pensou a jovem. O rapaz lembrava muito a Felipe, a mesma estatura, parecia ter o mesmo peso e até a mesma idade. Quando o rapaz se virou para Lavínia, ele fez um gesto de silêncio, como daquelas placas que se viam em hospitais. Lavínia ficou intrigada com a imagem e o rapaz desapareceu logo em seguida.

***

Alguns dias depois, o sogro José Ricardo chamou Lavínia para contar-lhe dos bastidores do que aconteceu no dia da morte de Felipe. Os três homens: Wesley, José Ricardo e Felipe planejaram o resgate da jovem das mãos de Rubem. Segundo o plano, Felipe estaria com colete a prova de balas no momento do confronto, o que lhe renderia somente feridas não mortais, mas ainda assim ele se passaria por morto diante de todos.

Acobertado pelo o pai e o recém aposentado Wesley, Felipe viveria agora tendo outra identidade, livre para não responder por seus crimes e com a condição de não se aproximar da família pelo menos por hora.

Lavínia ficou emocionada com a confiança do sogro em lhe contar a verdade e entendeu que foi preciso toda a armação para poder salvá-la ao mesmo tempo que queria matar a Felipe de verdade por todo o sofrimento que lhe havia causado.

E Felipe continuou como a sombra que sempre foi. Aquele que aparecia e desaparecia quando bem entendesse e Lavínia ficou em parte feliz em saber que ela e o filho estavam seguros enquanto um estranho, "O Estranho Felipe" os vigiasse e estaria sempre à espreita para protegê-los.

Um Amor PeculiarDove le storie prendono vita. Scoprilo ora