CAPÍTULO 13 - BEBÊ APROVADO

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Desci de Uber, porque não sou que nem Lexxa para ficar andando de Táxi VIP para cima e para baixo nessa cidade. Vou ver meu boy!!! Tem uns dois dias que não nos vemos, o grelo chega estoura de tesão!

Eu e ele estamos juntos há seis meses... Lexxa não sabia no início, bem, eu escondia porque ele pedia para eu esconder. Gael é atleta local, multimodal. Ele foi participar de provas para reconhecimento estadual recentemente. Seu sonho era competir no internacional. Filho de pais cristãos, tradicionais, um moço bem para os padrões americanos... Alto, atlético malhado, mal se raspa, apenas se apara... circuncidado e pequeno. Branco, cabelo liso até as sobrancelhas quando os deixa para frente... Cor do cabelo: castanho claro... Os olhos são azuis... Ele morre de vontade de pintar de loiro, como era quando pequeno.

Gael é muito talentoso... Muito carinhoso, apesar de Lexxa achar ele um desnecessário, homofóbico, heteronormativo, agressivo... Bem, eles estavam se dando bem ultimamente, após o incidente com Lexxa... Oops, Alex... Esqueço que aquela bicha rejeitou o nome de travesti que dei a ela.

E eu, uma travesti, como as manas latinas chamam. Eu não quero tirar meu brinquedo, me sinto adequada com meu órgão, apesar de toda construção de gênero que tenho e de seios bem desenvolvidos. Bem, eu digo que sou trans, apenas para não ter que explicar toda a minha construção de gênero e identidade, isso cansa... Somos pessoas, por que essa corja heteronormativa tem que ficar querendo entender as pessoas, classificar e perseguir quem desvia?

My ass!

É hoje que eu vou ver meu macho! Ele disse que vai dar uma escapadinha apenas para me beijar. Ele não pode transar, para não dar nada de ruim para ele lá na prova, coisa de atleta.

Eu estava tão animada! Ele... que foge de tudo como o diabo foge da cruz... Que não pode sair em público direito, que anda se escondendo, que só conseguimos fazer amor uma vez na vida e outra na morte por conta de um regime totalmente estranho e...

É, eu não sei como consigo viver isso... Logo eu, toda torta, desviante, filha do demônio, travesti negra, afroamericana, gerente de uma distribuidora de perucas... não preciso de nenhuma, inclusive, tenho aos montes em casa, e adoro sair com as basiquinhas, bem natuais, e às vezes com meu black power de cachos abertos, cultivados ao longo dos anos. Quando saio com as manas do feminismo negro vou assim, e entorto toda ideia transfóbica de algumas radfem porque sou dessas, beijos na periquita! Bem ousada, pra dar na cara de gente "fóbica".

Eu estou precisando de receber na cara mesmo, bem que Lexxa tem razão... Toda militante e ainda submeto a esse tipo de relação presa, com um macho agressivo... É... Toda confusa eu... Gael é agressivo muitas vezes... Mas ele é safadinho e eu adoro isso nele, Deus do céu... O mais safado de todos! Nem Rebecca era tão safada assim... Ele é muito put...

-A senhora é... homem? Ou... Aqueles que não são homens mas nasceram homens e... – o Uber gatíssimo interrompeu minha reflexão da manhã.

-Trans... Nasci homem... Ainda tenho uma espada de vinte e um centímetros – disse rindo quase afrontosa.

-MEU DEUS! MINHA NOSSA SENHORA – ele exclamou.

-O que foi, meu lindo? – o perguntei

-Olha, dona, eu não quero parecer racista, até porque sou Filipino... – ele começou o discurso introdutório de racismo – Mas de fato, os Afros são... os espadachins mais... Entende? E é... Não é o pênis que faz do homem, um homem.

-Olha só para ele, esperei algo muito pior! – disse sorrindo.

-Meu filho é trans, ele tem dezanove anos, e a gente não se falava por quatro anos – disse ele quase chorando – Mas semana passada ele foi espancado... pelo povo desse... presidente... Eu olhei, achei que ia apontar o dedo em sua cara e falar "bem feito"... Mas sabe o que aconteceu quando eu o vi, todo quebrado, todo... acabado...

FemmeWhere stories live. Discover now