Capítulo 4

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Evitem aos homens que fingem ser o que não são. A personalidade de um amante sempre é importante, mesmo que a única coisa que procure em seus braços seja um gozo transitório. Eu sinto um carinho especial pelos jovens licenciosos, porque são francos e claros sobre a natureza fugaz de seu interesse. Também possuem um encanto irresistível. A mulher que conseguir conquistar o carinho sincero de um deles será realmente afortunada.

Do capítulo intitulado «Esses adoráveis cavalheiros rebeldes»

Os cavalos eram dois animais magníficos que avançavam ao mesmo tempo, mas os homens que os montavam eram muito diferentes. Robert, é obvio, tinha escolhido um garanhão árabe, sua raça favorita; uma besta que podia ser difícil de dominar, mas o esforço valia à pena se o que procurava era resistência e velocidade. Seu irmão mais velho, como era de se esperar, montava um puro-sangue com as patas esbeltas, ancas enormes e quartos de milha criados para curtas distâncias. Tinha uma velocidade extraordinária e era famoso entre os puros-sangues britânicos. Thebes ganhou fortunas em prêmios, e agora estava aposentado e dedicado à cria, mas Colton o montava porque além de ser um investimento, era seu cavalo favorito.
Robert pensou com ironia que eram muito apropriados um para o outro: um duque aristocrático e um distinto campeão. Embora nesse momento a serenidade e superioridade contida, habituais em seu irmão, ocultavam-se sob uma expressão severa.
— Minha mulher me confunde.
—Confundido por uma mulher? —Era impossível não rir. — Que conceito novo.
Colton lançou a ele um olhar reprovador.
—Suas brincadeiras não me ajudam.
—É ajuda o que quer?
Depois de um momento, Colton se mostrou evasivo.
—Talvez. Ela se comporta de forma irregular.
Era uma bela tarde de outono e o parque estava cheio. Ambos saudaram vários conhecidos e seguiram avançando em silêncio, até que voltaram a ficar sozinhos. Sobre eles se estendia um céu de um azul maravilhoso, salpicado de nuvens brancas.
—Semana passada, no almoço de aniversário de nossa avó, Brianna me pareceu normal — comentou Robert com discrição. —Eu não a teria qualificado de irregular, mas também é verdade que não a vejo diariamente.
Isso era verdade. Tinha casa própria na cidade, e preferia não viver na grandiosa residência familiar de Mayfair. Robert não era o duque, nem sequer o segundo na linha sucessória (seu segundo irmão, Damien, era quem ostentava tal distinção nesse momento), e gostava de agir como bem entendesse, sem restrições.
Novamente Colton vacilou de modo evidente, e esticou tanto as rédeas que Thebes sacudiu a cabeça. Acariciou-lhe o pescoço como um modo de desculpar-se.
—Não é algo que se possa perceber por fora, mas tenho a diabólica convicção de que existe algo diferente.
Não era frequente ver seu irmão em um desconforto tão evidente. Robert teve que admitir que sentia uma curiosidade terrível. Olhou-o com o cenho franzido.
— Vai ter que explicar Colt.
—Sim, por todos os diabos, eu sei.
A resposta irada de Colton foi ainda mais intrigante que a proposta incomum de sair para cavalgar de manhã. Robert esperou com paciência, aproveitando à pacífica calidez do tempo bom enquanto suas montarias avançavam indolentes ao longo do caminho que transcorria sinuoso entre a relva e as árvores.
—A outra noite ela. Bem, digamos que foi inesperado.
Não que isso esclarecesse algo, mas Robert teve finalmente a noção do que se referia, ou do que não se referia de fato, porque no rosto habitualmente sereno de seu irmão apreciou um leve rubor.
— Você quer dizer na cama? —perguntou-lhe com franqueza.
Colton olhou-o por um segundo e apenas assentiu.
—Sim.
—Inesperado, em um sentido bom ou mau?
Afinal foi Colton quem havia enviado uma nota propondo sair para cavalgar de manhã e era Colton quem pedia conselho. Se ele tinha que renunciar a se levantar tarde para aquela conversa, era necessário que falassem a sério sobre o assunto e parassem de rodeios.
—Bom — Colton não disse mais nada. E logo retificou: — Muito bom, se precisa de mais detalhes.
—Eu não preciso de nenhum detalhe sobre as intimidades de seu casamento, Colton, mas você tocou no assunto.
— Percebi. —O duque de Rolthven parecia fora de si. —Desculpe-me. —E acrescentou em um tom mais conciliador: — Uma coisa é falar sobre mulheres em geral, mas quando se trata de minha esposa é muito diferente.
Robert não tinha nada para dizer a respeito. Em sua vida não havia precedentes que permitissem falar sobre uma esposa, assim como ia saber?
—É pessoal — concluiu Colton.
—Imagino. —Seu irmão era uma pessoa muito reservada geralmente, de modo que a conversa era cada vez mais intrigante.
Colton fixou o olhar em um grupo de árvores, como se fosse à coisa mais fascinante sobre a terra.
—Oh, demônios, bem, tudo bem. Ela. Bem, fez algo que nunca tinha feito.
«Ah, isso é de grande ajuda.»
— Pediu um chá? —Murmurou Robert. —Cantou uma canção enquanto se despia? Dançou sobre o parapeito da janela completamente nua? Propôs que a empregada se unisse a vocês? Vai ter que ser mais direto. A sutileza é para mulheres que ficam tomando goles de xerez e fazendo fofocas. Eu não posso ler sua mente.
—De acordo, de acordo — grunhiu Colton. —Brianna o colocou na boca. E o que é pior, fez muito bem.
Embora a primeira coisa que pensou, foi que o incidente transformava seu irmão em um homem de sorte, Robert se absteve de comentá-lo.
—E você é contra isso? —perguntou com cautela.
— Santo Deus, claro que não. —Mas o riso de Colton foi breve, e em seus olhos azuis havia um olhar de preocupação. —Só me pergunto de onde tirou a ideia.
—De você, não?
—Não, de mim não. É uma dama. Nunca me ocorreria pedir algo assim.
Ficou claro. Sentado em sua sela com naturalidade, Robert reprimiu uma gargalhada.
— Percebeu que se preocupa com algo que a maioria dos homens estaria celebrando e brindando? O sexo é um processo normal e instintivo. Brianna tem amigas casadas, pode ser que haja algum marido que não seja tão correto. As mulheres falam entre elas. É um de seus passatempos favoritos.
— Sobre o que acontece quando se fecha a porta do quarto, não, não com certeza.
— Por que não?
—É um assunto muito delicado.
Robert se perguntou com ironia se crescer à sombra das restritivas responsabilidades do ducado minava a tal ponto a capacidade de atenção de um homem que deixava de olhar para mundo real.
— Pense Colt. As mulheres ficam fascinadas com os assuntos do amor por natureza. Elas são muito mais preocupadas com o tema do que nós.
— Não, eu não acredito que falem a toda hora sobre a mecânica do ato, para que?
— Trata-se de um fato bastante universal. Há uma parte que entra em outra parte. Se o fizer bem, será prazeroso para ambos, e embora existam algumas variações, os princípios básicos são sempre os mesmos. Os homens se prendem em coisas como o tamanho dos seios, ou a disposição e a destreza do parceiro, mas as mulheres gostam de outras coisas. Palavras carinhosas, a carícia lânguida dos dedos emaranhados em seu cabelo, uma frase poética sobre o sol que desponta à alvorada, quando ambos ficam abraçados na cama. E em tudo isso não há nada indelicado.
—O que confirma o que disse — Colton falou com mordacidade. —Quem a aconselharia que talvez me agradasse esse comportamento tão lascivo?
— Pensei que tinha acabado de admitir que havia gostado.
—Isso é outra questão, Robbie.
Essa era a questão, mas Robert se recusou a dizer. Em vez disso explicou pacientemente:
—Embora elas vejam a relação sexual de um modo diferente do nosso, parece natural que uma de suas conhecidas comentasse o quanto um homem fica fascinado quando uma bela mulher chupa o seu membro. Não da forma como nós falaríamos disso, é claro, mas do modo mais delicado com o que as mulheres tratam essas coisas. Imagino que elas falam do que nós gostamos. Elas não são tão exigentes nem tão egoístas como nós, que só estamos acostumados a pensar em nossas preferências.
Seu irmão mais velho o olhou desconcertado.
—Mas de que lado você está?
Robert era homem até a medula, mas em assuntos de poder reconhecia a falta de igualdade entre os sexos, tanto na cama como fora dela.
—Do nosso, sem dúvida — afirmou. —Mas sejamos sinceros. Nós temos o controle. Isso as mulheres inteligentes sabem e se nos fizerem felizes sua vida é mais fácil, sobre tudo se estiverem a nossa mercê, como nossas esposas.
—Brianna não está a minha mercê. —Colton girou na sela, as sobrancelhas arqueadas e com uma expressão arrogante desenhada no rosto, ofereceu sua melhor amostra de desdém ducal. —É minha esposa, não minha prisioneira e nem minha escrava.
Robert se divertia e não podia esconder.
—Estou convencido de que dá a ela um subsídio generoso, mas também estou certo de que controla o modo como gasta. Do mesmo modo que permite que aceite convites a diversos eventos em nome dos dois. Mas apostaria que se reserva o direito de autorizar ou contradizer suas decisões. Brianna pode sair sozinha, mas sempre que for acompanhada de sua acompanhante ou de alguma substituta apropriada, de maneira que só é um termo relativo, não é assim?
—Eu não sou uma espécie de déspota.
—Não — interrompeu Robert —não é. É só um marido típico. Nós transformamos as mulheres em seres dependentes, não te parece? Isso que consideramos amparo pode ser interpretado facilmente como uma dominação encoberta.
Depois de um momento, Colton exalou um suspiro prolongado com certa exasperação.
—Digamos que admita tudo isso, embora Brianna nunca tenha se queixado dessas pequenas normas.
Ao ouvir a palavra "pequenas", Robert bufou pesadamente de um modo muito pouco elegante. Irritava-o sobremaneira que alguém sequer tentasse opinar sobre como devia gastar o dinheiro, ou revogar sua decisão sobre qualquer assunto, ainda que fosse tão corriqueiro como ir ao teatro ou a alguma noitada. Também era certo que ele era homem e que assim que ficou maior de idade, obteve carta branca para viver sua vida. Mas a norma entre os casamentos era que os maridos tivessem a última palavra. As mulheres casadas tinham tão pouco poder como as solteiras, que deviam obedecer a seus pais em tudo.
Seu irmão mais velho ignorou o impropério sarcástico e prosseguiu com empenho:
— Continuo dizendo que Brianna age de forma estranha.
—E eu digo que se limita a estar cheia de vida e que talvez seja mais aventureira do que pensou a princípio. Por que se preocupar com um assunto tão delicioso como ter uma mulher entusiasta na cama, principalmente quando é sua esposa?
Colton esfregou o queixo com a luva e fechou os olhos parcialmente para protegê-los do sol.
—Suponho que visto desse modo, é ridículo que perca tempo pensando nisso, mas reconheço que me pegou de surpresa. Quando perguntei a ela de onde tirou este tipo de comportamento, se mostrou evasiva.
Robert lutou contra o impulso de voltar a rir.
—Colt, só a você ocorreria fazer um interrogatório depois de um episódio sexual dos mais satisfatórios. Tem tendência a analisar muito as coisas. Sempre foi assim.
—Estou acostumado a mulheres mais experientes — murmurou seu irmão. —Tudo isto é novo para mim e talvez tenha razão, talvez seja natural que ela vá se adaptando a intimidade conjugal. Entretanto, suas duas melhores amigas são Rebecca Marston e a condessa de Bonham, que se casou um mês depois que nós, além de que não imagino Bonham instruindo-a nesse tipo de assuntos. A senhorita Marston é solteira e muito fina, e tem um pai muito protetor que a controla muito. Não acredito decididamente que nenhuma delas seja a responsável por sussurrar conselhos ousados no ouvido de minha esposa, e não me ocorre ninguém mais com quem Brianna comentaria coisas tão pessoais. Suponho que minha cunhada possa ter dito algo, mas na verdade é uma matrona respeitável com três filhos.
A menção da encantadora Rebecca com seus olhos verde mar e seu resplandecente cabelo negro fizeram com que Robert rememorasse a sensação de segurá-la contra aquele muro vegetal, com a boca suspensa sobre seus lábios e aquele corpo curvilíneo e trêmulo junto a ele. Foi um incidente corriqueiro: apenas alguns instantes de educada conversa, e a subsequente pressa para se esquivar do persistente lorde Watts. Mas nos últimos dias Robert tinha descoberto que voltava a pensar nisso mais de uma vez, e o confundia não poder esquecer tudo.
«Esse maldito perfume de jasmim», disse com sarcasmo. Evocava fantasias de jardins exóticos, pele suave, tenra e um singular suspiro ofegante.
Devia estar realmente enfastiado para dedicar-se a pensar em alguém totalmente proibido como a senhorita Marston. «É solteira», disse a si mesmo e com isso suprimiu o menor traçado de interesse romântico. Por outro lado, depois daquele incidente, seu pai, sir Benedict, tinha tirado uma conclusão equivocada, e nas ocasiões em que ambos se viram frente a frente, custava-lhe inclusive ser educado.
—Se quer saber minha opinião, Colt, esqueça todo este assunto — disse Robert sucinto, — ou se arrisca a que sua bela esposa volte a ficar tímida. E já que está assim, eu diria que enquanto não exagerar, pode gerenciar o dinheiro para seus gastos pessoais como desejar, e faça alguma outra concessão que não o incomode muito. É óbvio que deseja agradá-lo. Devolva-lhe o favor. — Esporeou o cavalo com o calcanhar. —E agora, vamos apostar uma corrida? Gosto de fazer Sahir competir com Thebes. Está em boa forma esta manhã.

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