Capítulo 19

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A hipocrisia sempre tem um preço.
Do capítulo intitulado: «O que seus maridos escondem»

Colton se sentia como um mentiroso. Um trapaceiro.
Se ele estivesse errado, estava insultando-a da pior forma possível. Infiel? Brianna?
«Deus, por favor, faça com que eu esteja errado.»
Bebeu um gole de vinho e observou sua esposa no outro extremo da mesa. Estava bela, como sempre. Mas havia algo nela que transmitia inquietação. Para começar estava mais calada e parecia preocupada. Não estava acostumado a ser ele quem iniciava a conversa, mas essa noite teve que se esforçar para preencher os silêncios entre ambos.
Era porque se sentia culpada?
Ele é que se sentia culpado, maldita seja, por contratar um homem para que seguisse todos seus passos.

—É muito agradável, não é verdade? Estarmos os dois sozinhos, para variar.
—Uma noite tranquila em casa é uma ideia encantadora. —Brianna bebeu um gole de vinho. Seu cabelo cintilava sob a luz das velas. —Não costumamos fazer isso com muita frequência.
O que não faziam com frequência ultimamente era amor. A culpa era dele, porque não conseguia superar suas dúvidas; mas a desejava. Raios e trovões, ele a desejava. Esse sacrifício tinha sido uma autêntica tortura.
Esta tarde lhe entregaram o primeiro relatório. Apesar do nó que tinha na garganta, disse:
—Diga-me, o que fez hoje, querida?
«Por favor não minta. Por favor.»
—Cartas acima de tudo. A chapeleira e esse tipo de coisas. —Ela ergueu os ombros com elegância. — Fui ver Arabella a caminho de casa.
—É?
Colton esperou.
—Sim.
Nada mais. Sabia da visita, é obvio. Conhecia detalhes de todos seus movimentos. Por exemplo, informaram que um cavalheiro se apresentou na casa de Arabella Smythe vinte minutos depois que Brianna entrou no edifício. Sabia que as cortinas do salão dianteiro tinham permanecido fechadas. E sabia que o cavalheiro ficou mais de uma hora, depois ele saiu da casa e, em seguida, Brianna. Hudson ainda não conhecia a identidade desse misterioso desconhecido, mas estava investigando. A descrição era um pouco vaga, porque o empregado de Hudson estava vigiando do outro lado da rua, mas o relatório dizia que o desconhecido era ágil, como um jovem.
Arabella era amiga de Brianna há anos. Era possível que facilitasse um encontro discreto para sua esposa e seu amante? Colton questionava o incidente com uma angustia interior, esperando que não refletisse em seu rosto.
Tudo o que foi capaz de fazer foi trespassar outro pedaço de cordeiro assado, mastigar e engolir. A comida era perfeita, mas tinha o sabor de serragem. Conseguiu engolir com um pouco de vinho.
—Entendo — murmurou. —Como está a condessa?
—Bem.
Outra resposta curta? Esperou que se estendesse, mas ela não o fez e se limitou a servir-se de mais batatas. Seria suspeito perguntar se Arabella estava acompanhada quando ela chegou. Como ele podia saber algo assim se ninguém tinha contado? Não disse nada, mas o silêncio era um pesadelo.
Quando demônios ia dizer que estava grávida?
Colton deixou de lado 
o garfo, incapaz de continuar fingindo que tinha fome.
Talvez devesse perguntar-lhe sem mais nem menos. Talvez devesse perguntar também por que, de repente, estava claramente desconfortável em sua companhia.
—Desejo ir visitar meus pais. Acredito que partirei amanhã. —Sua esposa falou tão baixo que ele mal ouviu suas palavras. Sob a luz das velas, as maçãs do rosto ficaram sombreadas por suas longas pestanas.
—Não. —A resposta autoritária surgiu sem que Colton pudesse evitar.
Brianna olhou para ele, com evidente choque.
—Como. Como disse?
Colton precisava tê-la por perto, no caso de estar no certo. E se seu amante era alguém que conhecia desde antes do casamento e agora que tinha entregado sua pureza ao marido e o erro não poderia ser detectado, ambos podiam desfrutar com liberdade de uma tórrida aventura? E se fosse um amigo da família ou um vizinho e ela desejasse falar do filho com ele primeiro?
Colton tinha torturado a si mesmo com dezenas de teorias. Uma voz interior prática e desumana lembrou que alguém a estava ensinando a deixá-lo louco na cama. Se ele não era o seu instrutor, então quem era?
Quando se obrigava a analisar a situação sob a fria luz da lógica, não conseguia chegar à outra conclusão que não fosse um amante. Não havia dúvida que Brianna sabia à perfeição o que estava fazendo.
Bem, já havia dito, assim era melhor deixar claro sua posição.
—Não, não dou permissão para ir.
—Per. Permissão? —alfinetou Brianna, e o guardanapo de linho caiu da mão para o chão.
—Necessita da permissão e eu não a dou — pronunciou cada palavra com clareza.
Estava se comportando como um tirano mesquinho, mas tanto fazia. A falta de sono e a intensa incerteza não propiciavam a cortesia.
—Colton — ela murmurou atônita e magoada — por que não te parece bom que visite meus pais?
—Eu mesmo a acompanharei quando tiver tempo.
—Tempo? Você? Por Deus santo, e quando será isso? Eles vivem em Devon, e isso está há vários dias de distância. Para conseguir que fosse a Rolthven tive que coagi-lo, e está muito perto de Londres.
—Não blasfeme em minha presença, madame. —Agora estava reagindo de forma exagerada, sem dúvida, mas passou semanas pensando de forma obsessiva em uma possível infidelidade de sua esposa, e isso o corroia por dentro. Ela tinha toda a razão, mas ele não estava disposto a reconhecer.
Nas maçãs do rosto de Brianna apareceram duas manchas de rubor.
—Colton, que diabo está acontecendo?
—Não está acontecendo nada.
—Sim, algo está acontecendo. —Brianna ergueu o queixo e seus olhos azuis escuros o olharam desafiantes. —Ou preciso de permissão para dizer o contrário?
Ela não deveria tê-lo provocado, não em seu estado de ânimo atual. Colton se inclinou para frente, sustentando o seu olhar.
—É melhor você se lembrar de que necessita da minha permissão para quase tudo o que faz. No dia em que nos casamos jurou ser fiel e me obedecer. E espero ambas as coisas. É minha esposa e acatará minhas regras.

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