Capítulo 7

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O desejo é um jogo. Você pode praticá-lo com uma leve sutileza, ou com um flerte evidente.
Do capítulo intitulado «Como fugir e ter certeza de que não a apanharão»

Brianna se agarrou à correia para manter o equilíbrio quando entraram em uma estrada especialmente estreita do caminho. Colton, sentado na frente dela, mal se moveu no assento. Estava lendo outra carta do pacote de correspondência que levava com suas longas pernas estendidas, de modo que roçavam suas saias com as botas que calçava, e a expressão ausente. Em algum momento do trajeto havia caído uma mecha do cabelo castanho que dava a ele um ar quase infantil, mas estava muito distraído para perceber, e de qualquer maneira a largura de seus ombros e a nítida masculinidade de suas feições não tinham nada de infantil.
Brianna cedeu por fim ao impulso que estava tentando-a durante os últimos quilômetros. Inclinou-se para frente e com um gesto de familiaridade colocou a rebelde mecha em seu lugar.
Ele levantou os olhos do pedaço de papel que tinha nas mãos e, para alivio de Brianna, o deixou de lado.
—Não estou dando-lhe atenção, perdoe-me.
— Disse que teria que tratar de seus negócios enquanto estivéssemos em Rolthven, porém admito que este silêncio seja um tanto pesado. — Na verdade, Brianna não esperava que ele compreendesse o nervosismo que sentia ante sua primeira incursão real no papel de grande anfitriã. Colton estava tão acostumado a tudo o que se referia ao luxo e grandes eventos, que ela duvidava que houvesse parado para pensar nisso. Santo Deus, seu marido saudava o príncipe regente por seu primeiro nome.

— Como foi sua infância? —Parecia uma pergunta apropriada no momento, pois se aproximavam da propriedade onde ele cresceu, e ela sentia curiosidade.
Colton levantou um pouco as sobrancelhas.
— Minha infância?
— Imagino que não seja fácil crescer sendo o primogênito de um duque. —Brianna se lembrou de suas sobrinhas correndo como loucas pelo parque dias atrás, entre um vendaval de risadas infantis. Ela também teve uma infância maravilhosa. — Você tinha permissão para jogar, montar em um pônei, aprender a nadar. E todas essas coisas típicas que as crianças gostam de fazer?
— Na verdade, sim. Até certo ponto, suponho. —Seus olhos celestes a olhavam de um modo que só poderia descrever como cauteloso. — Posso perguntar por que estamos tendo esta conversa?
—Duvido que isso seja uma conversa — ela disse. — Você apenas disse algumas palavras. Eu pergunto por que no dia a dia dedica tão pouco tempo para se divertir, então queria saber se o educaram para acreditar que é assim que deve viver a vida.
Colton respondeu secamente:
- Conhece meu irmão. É obvio que não nos educaram para repudiar as frivolidades. Com isso não quero dizer que Robert seja frívolo, mas não se priva de nenhum prazer.
Mas Robert não era o irmão mais velho, pensou Brianna, observando seu marido por baixo dos cílios.
— Assisto as apresentações musicais, vou à ópera e a outros espetáculos. Monto a cavalo todas às manhãs a menos que chova, e vou ao clube. — Colton havia enumerado a lista devagar, depois baixou a voz: — Desde que me casei, desfruto sobre tudo das noites.
Qualquer resposta que ela pudesse dar ficou silenciada pelo estalar da carruagem ao entrar no longo caminho. A fachada de Rolthven Manor, de pedra cinzenta, de linhas elegantes e nítidas, não era exatamente medieval, mas causava uma sensação que evocava a época.
Talvez fossem as torres colocadas em ambos os lados da impressionante fachada, altas e imponentes, que acompanhavam a estrutura, como grandiosos símbolos de uma era em que os Northfield haviam sido senhores feudais. Colton havia explicado durante sua primeira visita que só conservaram partes do castelo original e que a residência principal fora demolida e reconstruída há vários séculos. Um magnífico conjunto de escadas enormes conduzia a um esplendido terraço e o vestíbulo era descomunal, com portas duplas decoradas com vitrais e madeira escura. O brasão de armas da família foi esculpido na porta, para que ninguém duvidasse que o solar da propriedade ducal era dele, e somente dele.
Vista do lado de fora em um dia cinzento, à Brianna parecia um lugar um tanto assustador, mesmo com um jardim bem cuidado e impecáveis canteiros de flores. Entretanto, quando reluzia um sol glorioso, conseguia parecer quente e acolhedor, e esperava que seus convidados pensassem o mesmo.
Já que ia fazer isso por Colton, queria fazer bem.
O veiculo subiu pelo atalho e sentiu borboletas esvoaçando em seu estômago.
A falta de entusiasmo de Colton com o evento era evidente, pensou resignada. Seu empenho para que fosse prazeroso para um homem que não tinha intenção de desfrutá-lo, aumentou por causa de seus atuais triunfos, que repassou mentalmente para reafirmar sua coragem. Até o momento eram três. Havia anotado e escondido o papel no livro proibido de lady Rothburg.
Um selvagem e erótico passeio de carruagem.
Uma noite em que ele. Enfim, Brianna notou que ruborizava ao pensar, mas a verdade é que ele a tinha beijado em um lugar onde jamais teria sonhado que um homem beijasse, e havia sentido um devasso prazer.
Um banho memorável, e depois o interlúdio que havia ocasionado.
No pedaço de papel escreveu: A ÓPERA. SEU DORMITÓRIO. MEU BANHO.
Queria evitar a possibilidade de alguém descobrir a anotação, interpretar suas intenções e envergonhar tanto Colton como a ela mesma. Uma coisa era certa, ele não ficaria nada satisfeito. Por outro lado, precisava anotar seus progressos, porque em ocasiões como esta, quando viajava com ela durante horas e horas em uma carruagem fechada, tão obcecado que apenas havia falado nos últimos quilômetros porque foi forçado, Brianna necessitava manter uma noção clara de seus objetivos, ou estava condenada ao desânimo.
Ela desfrutava de suas noites. A paixão era satisfatória, mas não era só paixão. A amizade também. E logo o amor.
A carruagem parou de repente.
Depois dessa reunião campestre, esperava ter mais sucesso para acrescentar à lista.
— Chegamos — disse animada.
— Assim espero — seu marido replicou com a ameaça de um sorriso nos lábios — caso contrário teríamos parado sem motivo.
Colton merecia o olhar fulminante que ela lançou, mas ele ignorou. Saiu e ofereceu sua mão para ajudá-la a descer do veículo.
Brianna noto u que os serventes se colocaram em fila nos degraus, mas ele registrou suas presenças com gesto de ligeiro assentimento enquanto a escoltava até a porta principal. A bandeira que tremulava sobre a casa indicava que ele estava na mansão, o que ela sabia não acontecer com frequência.
Para que visitar sua preciosa residência no campo e descansar, quando podia enterrar-se em seu sombrio estúdio de Londres, perguntou-se Brianna com sarcasmo. Não que Colton não fosse a Rolthven de vez em quando, mas até aquela data foram visitas rápidas e ela tinha a impressão de que isso era o habitual. O certo é que a avó de seu marido se queixava de sua ausência sempre que tinha oportunidade.
— Espero que nossos convidados possam desfrutar de bom tempo — comentou enquanto o mordomo abria a porta com um gesto enfático.
Colton emitiu um som ambíguo e dirigiu-se ao velho empregado.
—Como está, Lynley?
—Muito bem, excelência. —O homem fez uma reverência cortês e seu cabelo prateado brilhou sob o sol vespertino. —É bom vê-lo novamente.
—Sim, devo atribuir esta visita a minha esposa. —Colton apenas deu-lhe uma olhada. — Diga-me, chegou mais alguém?
—Lord Robert e Lord Damien estão aqui, senhor. Faz uma hora que chegaram. —Lynley, que tinha um porte impecável e se vestia com a elegância de um aristocrata, deu um passo para trás para deixá-los passar pelo enorme salão principal.
O local produzia um impacto poderoso inclusive em alguém que já havia estado ali várias vezes. Havia nada menos que seis lareiras, inumeráveis tapeçarias antigas, cujo valor deveria ser incalculável, penduradas nas paredes imensas. As janelas com cristais contribuíam para filtrar a luz exterior, que iluminava de um modo muito agradável a enorme sala, se é que alguém podia chamar de sala um espaço tão grande. Estranho mas acolhedor, embora Brianna ignorasse como podia ser assim. Talvez pela atmosfera íntima que conseguiam os pequenos grupos de elegantes mobiliários postos aqui e acolá; colocados para estimular a conversa entre os convidados, ou talvez pelos macios tapetes sobre o chão encerado. Não estava certa. O que sabia era que gostava Rolthven Manor e desejava que Colton se dignasse a passar mais tempo ali.
— Vamos subir para nos trocar? — seu marido perguntou, segurando-a pelo cotovelo e levando-a para a escada dupla no final do vestíbulo. Brianna era incapaz de saber se ele notou alguma vez naquele majestoso cenário. —A mim, pelo menos, seria bom um banho e um conhaque.
Água quente e trocar de roupa soavam muito bem, e Brianna assentiu e deixou que a conduzisse até a curva da escada esquerda para os seus aposentos. Eles eram magníficos, igual ao resto da casa, talvez mais do que o necessário. Não gostava nem um pouco daquele mobiliário pesado e escuro, nem essa abundância de rendas em seu quarto. Também era óbvio que à mãe de Colton, que estava casada em segundas núpcias com um conde italiano e vivia no campo perto de Florência, gostava da cor lavanda. No entanto, Brianna não compartilhava dessa paixão, e embora meses atrás Colton dissesse a ela com um gesto de despreocupação que podia redecorá-la a seu gosto, nunca ficavam o tempo suficiente para que pudesse realizar esse projeto. Talvez se ele gostasse desta breve viagem, poderia convencê-lo a sair de Londres mais vezes.
Estava determinada a fazê-lo gostar.
Sua empregada e o ajudante de quarto de Colton se adiantaram com a bagagem, e Brianna descobriu que seu baú já estava desfeito, e as escovas e demais objetos pessoais colocados na vistosa penteadeira. As grandes cortinas estavam abertas ao calor da tarde, e os tecidos flutuavam a mercê da brisa que chegava do parque em flor.
— Traremos a água quente em seguida, excelência. —Sua empregada, uma doce jovenzinha da Cornualia, começou a ajudá-la a se despir. —O que deseja vestir esta noite?
—Nada em tons lavanda — murmurou, olhando ao redor. —Pode ser o de seda azul claro. Esta noite haverá um jantar tranquilo em família. Os convidados não chegarão até amanhã.
—Muito bem, excelência.
Depois de se limpar da sujeira da viagem e se vestir, Brianna escovou o cabelo e com a ajuda de Molly, fez um ligeiro coque na nuca. Sentada em frente ao grande espelho dourado, perguntou-se quando deveria oferecer ao seu marido o malicioso presente de aniversário que tinha planejado.
Tinha que escolher o momento perfeito.
Pretendia que Colton se lembrasse pelo resto de sua vida.

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