Capítulo 20

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Não subestimem os homens quando se tratar de intrigas sociais. Declaram que às mulheres interessa de um modo excessivo a vida dos outros, mas também os interessa, e podem ser muito observadores e muito capazes de interferir. Confiem em mim nesse assunto.
Do capítulo intitulado: «Rumores, intrigas e insinuações, e como podem favorecê-las»

Robert não tinha seguido o conselho de Damien para dançar com Rebecca. Tocá-la, mesmo que fosse aceito em sociedade, era uma ideia perigosa.
De maneira que em lugar disso, tinha perdido toda a sensatez e dançado com sua mãe.
—Adoro esta nova melodia, você não, milorde? —Lady Marston sorria com amabilidade, como se não soubesse que ver o notório Robert Northfield dançando com uma mulher casada de meia idade provocaria mais de um falatório. Não que Robert já não tivesse pedido a alguma viúva venerável em alguma ocasião, se a cortesia o exigia, mas a maioria eram parentes mais ou menos longínquas, ou a anfitriã da festa. Lady Marston não era nada disso.
Havia feito um esforço considerável, pois teve que contornar uma fileira de matronas que estavam acostumadas a ficar juntas formando uma massa compacta, para poder falar e fofocar, enquanto vigiavam suas filhas, sobrinhas ou pupilas. Quando Robert se aproximou, mais de uma interrompeu seu bate-papo, e quando se inclinou ante a mão de lady Marston e pediu uma dança, todas ficaram literalmente boquiabertas.
A perplexidade do momento era evidente. E, entretanto ali estava ele.
—É agradável, suponho, mas não tão admirável como a música que escutamos em Rolthven — admitiu enquanto a fazia girar com elegância.
—Sim — foi uma resposta imparcial. — você mencionou várias vezes que desfrutou com a interpretação de Rebecca.
—Ela tem tanto talento como beleza, que é um autêntico louvor.
Lady Marston o olhou com a boca contraída.
—Conheço o interesse que minha filha tem por você, e estou certa que você, que tem tanta experiência do mundo, também sabe disso.
Robert tentava não analisar os motivos pelos quais estava dançando com lady Marston, mas supunha que era para sondar o resultado de sua visita no outro dia. Ainda não estava certo se a diabólica intromissão de Damien tinha sido útil ou a pior ideia do mundo, mas não tinha feito mais que pensar nisso. Seu atual estado de inquietação o impedia de dormir e não conseguia concentrar-se nem nas tarefas mais mundanas.
E se ele pudesse cortejá-la?
—Eu me sinto tão lisonjeado como perdido — reconheceu a contra gosto — e estou certo que você, milady, tem experiência suficiente para compreender o porquê.
—Com minha filha, você não tem as possibilidades habituais — acrescentou ela com secura — e isso é tanto uma observação como uma advertência, milorde.
—Eu tenho possibilidades? —Perguntou ele sem rodeios. —Estive perguntando.
—Depende de quanto você está determinado, suponho. Quando foi em minha casa no outro dia, percebi que não se tratava da visita casual que seu irmão pretendia, admito ter ficado surpresa.
E o baixo nível de entusiasmo foi notável, embora ele fosse muito educado para mencioná-lo.
Naquele momento a música parou. Robert não teve alternativa que não fosse soltar sua a mão e fazer uma reverência. Ela, por sua vez, acenou com uma delicada inclinação de cabeça e o olhou nos olhos.
—Eu acredito que o que acontecer agora depende de você. Pese seu grau de interesse e se for bastante sincero eu, por causa da felicidade de minha filha, o ajudarei com Benedict.
Virou-se e se afastou, deixando-o com o que provavelmente era uma expressão de perplexidade enorme. Robert, percebendo que estava rodeado de olhares ávidos, recuperou a compostura e saiu da pista.
«Pese seu grau de interesse.»
Foi até uma das salas de jogo e se sentou em uma das mesas, mas era óbvio que estava distraído, e quando ganhou à última partida, o cavalheiro que estava ao seu lado deu-lhe uma pequena cotovelada para que recolhesse seu prêmio. Maldita seja, pensou enquanto se levantava da mesa e se despedia, era melhor que enfrentasse sua incapacidade para se concentrar em outra coisa. Custava a acreditar, mas tinha chegado a imaginar como seria percorrer o corredor de sua casa, ouvindo o som de fundo um piano que alguém tocava com arte.
O resultado de toda essa melancólica introspecção parecia inevitável.
Talvez não quisesse cortejar ninguém, talvez não desejasse se casar, mas não podia tirar Rebecca Marston da cabeça, simplesmente. Desejava-a, desejava saborear novamente seus lábios, desejava senti-la em seus braços, cálida e acolhedora; mas não era só isso o que desejava.
Balbuciou uma desculpa e partiu sem mais para um lugar que não lembrasse essa mulher que o deixara tão obcecado.
Quinze minutos depois Robert desceu de sua carruagem, encontrou a deslumbrante iluminação da casa que tinha diante de si, e sorriu para outro dos visitantes.
—Palmer. Como vai?
Lorde Palmer, claramente um pouco bêbado, aproximava-se pela calçada cambaleando.
—Muito bem, Northfield. Obrigado. Uma festa impressionante, não é? Entendi que Betty enviou algumas de suas melhores garotas.
Robert fez um gesto pouco comprometedor. Infelizmente, agora que já estava ali, a verdade é que não estava interessado em um grupo de mulheres de vida fácil.
—Parece divertido.
Necessitava desesperadamente alguma diversão.
—Bem, não há nada como as apostas e as mulheres para entreter um homem, não é verdade? —Palmer deu uma cotovelada em suas nas costelas enquanto subiam os degraus. —Sei que você concordará.
Talvez costumasse a estar de acordo. A única razão pela qual tinha escolhido abandonar o baile e participar desta festa em particular foi porque este era o único lugar onde acreditava ser impossível se encontrar com Rebecca. Se fosse para casa e passasse o resto da noite a sós com seus pensamentos, ficaria louco. Uma noite de devassidão selvagem parecia ser justamente o que precisava. Já tinha participado muitas vezes de festas de solteiros como esta, e sempre envolviam champanha em abundância, mulheres condescendentes e mimosas contratadas para tal efeito, e passatempos obscenos.
—Sim — murmurou e cruzou antes de lorde Palmer a soleira da porta, que um empregado de uniforme mantinha aberta.
Passou a hora seguinte imerso em um tédio atroz, fingindo que estava bem, quando não era verdade.
Era um problema do demônio. Não queria ir para casa e sentar-se e ficar pensando no assunto. Não podia ir aos lugares onde estava acostumado a se divertir, muito menos ver Rebecca. Tampouco queria estar ali, isso era evidente.
A voz de alguém bêbado gritou que as garotas tinham chegado, e um murmúrio de expectativa invadiu a sala.
Robert decidiu que em seu atual estado de inquietação, o melhor seria que partisse agora. A verdade é que não estava de humor para contemplar mulheres meio nuas, penduradas em um grupo de idiotas bêbados. Como pôde ter acreditado no passado que se divertir era isso? Pediu a capa para um lacaio, e reprimiu a vontade de bater os pés enquanto esperava.
Tal como estava previsto, as portas se abriram e uma massa de jovens risonhas entrou na casa. Betty Benson mantinha o bordel mais refinado de Londres, e suas empregadas eram limpas, saudáveis, bonitas ou pelo menos graciosas. Este grupo não era uma exceção. Havia loiras, morenas e pelo menos duas ruivas impressionantes. Cruzaram a soleira e imediatamente lhe ofereceram champanha. O bulício da festa subiu de nível, enquanto os homens começavam a escolher as parceiras para a noite. Enquanto esperava o casaco, Robert observou o processo com um olhar de suspeita. Todos os homens presentes eram solteiros, salvo alguma exceção; as garotas receberiam bom tratamento e bom pagamento, e de qualquer maneira, desde quando ele tinha adotado a moral de um bispo?
De repente, enquanto agarrava o objeto que o criado entregou, ficou paralisado, sem acreditar no que os seus olhos viam. O traje da última garota que cruzou a entrada não era nem um pouco provocante. Usava uma capa azul escuro que cobria com recato seu vestido e a cabeleira morena presa com distinção, de tal modo que Robert sentiu o desejo de tirar os alfinetes do cabelo para sentir a cascata cálida entre seus dedos.
Que demônio Rebecca estava fazendo?
E por que tinha chegado com um bando de prostitutas?
Ficou imóvel, apavorado. Que demônio de brincadeira era esta?
Assim que pôde voltar a mover os músculos, agarrou o casaco, atravessou a toda pressa o vestíbulo e a segurou pelo braço com mais força que pretendida.
—Explicará tudo isso mais tarde. No momento vou tirá-la daqui. Juro que se resistir, eu a colocarei no ombro e a levarei como se fosse um saco de batatas.
Rebecca reprimiu um gemido. A mão de Robert segurou seu braço tão forte que quase a machucou, e mais do que conduzi-la pelos degraus da porta principal, arrastou-a de volta ao frio da noite.
Sua expressão ao vê-la chegar era algo que não esqueceria na vida.
Estava horrorizado. Seu atraente rosto tinha uma careta impressa de perplexidade e consternação inconfundível, e não muito lisonjeira, considerando os problemas que ela teve para chegar até ali.
Por quê?
Por que tinha chegado sozinha? Bom, não exatamente sozinha. Uma carruagem parou um pouco antes que o carro que tinha alugado chegasse à frente da mansão espetacularmente iluminada, e tinham descido algumas jovens. Rebecca, que estava se perguntando como entraria sem convite, seguiu-as para dentro sem problemas.
—Milorde. —começou a dizer.
Ele a interrompeu sem olhá-la.
—Não tenho ideia do por que você está aqui, mas não diga nenhuma palavra até que estejamos longe e a salvo, e fique de capuz, por Deus.
Rebecca sabia desde o principio que corria o risco de que a censurassem e de desgostar seus pais, quando escapou do baile e foi a sua procura. Se não houvesse sentido uma necessidade desesperada de falar com ele, não o teria feito.
Robert quase a empurrou para dentro da carruagem subiu de um salto, deu um golpe seco no teto, e se afastaram sacudindo. Quando a olhou de frente naquele reduzido espaço, suas sobrancelhas se converteram em uma linha tensa.
—Você se importaria de me dizer simplesmente o que estava fazendo na reunião de Houseman? Sei muito bem que não foi convidada. Não estava a salvo com seus pais no Tallers? —resmungou entre dentes.
Rebecca abriu a boca para replicar, mas ele a interrompeu.
—Eu a estava observando durante toda a noite. —Seus olhos azuis brilhavam. —Acho que dançou com todos os cavalheiros presentes.
—Você não me pediu — disse isso ela em voz baixa.
—Claro que não.
«Claro que não.» Essas três palavras doeram e Rebecca levantou o queixo.
Mas tinha dançado com sua mãe. Certamente isso significava alguma coisa. Esse simples ato lhe tinha dado coragem para segui-lo.
Robert continuou, antecipando-se a algo que ela pudesse dizer, embora não estava certa de como responder.
—Quanto a sua aparição de alguns minutos atrás, no caso de não ter percebido, as demais damas presentes procedem de um ambiente um tanto diferente do seu. Rezemos para que ninguém a tenha visto.
Isso era verdade, Rebecca não tinha reconhecido nenhuma, mas tinham vestidos suntuosos e. Oh. Não.
Caiu em si.
—Sim. —ele interpretou corretamente a expressão de horror e o gemido involuntário. —Isso é justamente a que me refiro. Elas ganham a vida de uma determinada maneira e por isso as contrataram, enfim, não é necessário que diga nada mais. Rebecca, por que você estava ali?
Ela juntou os dedos sobre o colo com tanta força que se machucou.
—Ouvi alguns cavalheiros falando desta festa. Mencionaram seu nome como um dos convidados e disseram que era provável que se dirigisse para lá quando partiu tão de repente. Não percebi que. —titubeou.
Robert mantinha a mandíbula rígida, como uma estátua de mármore.
—Tenho muito interesse em falar com você — acrescentou Rebecca. Era uma desculpa esfarrapada, e assim pareceu, inclusive para ela.
—Tanto que se arriscou a manchar sua reputação sem reparação? —perguntou em tom ácido. Meneou a cabeça, virou-se e durante um momento ficou olhando para um lado do veículo. —Isto — disse com moderada ênfase — é um desastre.
Rebecca tinha muito medo de que tivesse razão, mas ergueu a coluna.
—Eu só sabia que havia uma festa que meus pais não tinham intenção de ir, e pensei que se conseguisse entrar, talvez tivesse finalmente a oportunidade de falar com você. Não tinha ideia.
—Onde eles pensam que você está? — disse Robert, beirando a descortesia.
Rebecca, que começava a ter uma ideia clara do que podia ter lhe custado sua imprudente ocorrência, sentiu uma ligeira vertigem.
—Fingi que ia para outro baile com Arabella e seu marido.
—Em outras palavras, enganou seus pais.
Bem, sim, ela pensou. Embora por um momento defendeu-se acreditando que era uma mentira necessária.
Robert disse uma palavra que Rebecca nunca tinha ouvido antes bem baixo, embora não o suficiente para evitar que ela se perguntasse o seu significado, mas pareceu-lhe que não era o momento de perguntar.
—Não acredito que alguém tenha visto que escapuli e onde parei a carruagem — replicou à defensiva. —Arabella sabe, é obvio, mas ninguém mais.
Ele voltou a olhá-la no rosto.
—E se alguém mais a viu?
Ela não conseguia pensar em mais nada para dizer.
—Jogarão a culpa e mim. —Robert passou a mão pelo rosto. —Seus pais me culparão. E Deus sabe que o mundo inteiro acreditará.
—Como eu ia saber que isto era uma. Uma.? —Não era capaz de encontrar a palavra adequada para descrever a festa que esteve prestes a participar.
Robert afundou um pouco mais no assento com uma careta de ironia.
—Uma reunião de homens depravados e condescendentes? Não perguntou a si mesma por que nem você nem seus pais estavam convidados, querida? Seus nomes aparecem nas listas das anfitriãs mais distintas de Londres. Por outro lado, quando um proscrito como Gerald Houseman dá uma festa, não é mais que uma desculpa para que os homens se reúnam e se comportem com muito menos educação do que costumamos quando há damas presentes.
—Por isso você estava lá? Para poder se comportar sem educação?
—Acredito que essa foi a ideia original — parou e logo acrescentou com secura: — mas estava a ponto de ir embora, tal como você comprovou.
—E por quê?
A mão que Robert apoiava no joelho se esticou de forma agitada.
—No final descobri que não estava de humor.
—Damien me disse que agora você passa muito tempo em casa.
—Há algum problema nisso? Contra a crença geral de que passo quase todas as noites perambulando por Londres, o certo é que estou acostumado a ficar em casa muitas vezes. De qualquer modo minhas atividades não importam, já que não é minha reputação que está em perigo, a não ser a sua. Teremos que planejar uma forma discreta para que volte para casa sã e salva.
Considerando todos os problemas em que se colocara, e o possível desastre que a ameaçava, Rebecca não estava disposta a permitir que Robert se limitasse a acompanhá-la de volta, sem dizer ao menos aquilo pelo qual tinha se arriscado tanto.
—Uma vez que o mal está feito e a esta altura investir um pouco mais de tempo é irrelevante, você poderia pedir ao seu chofer para fazer um pequeno desvio para que possamos falar disto?
Ele apertou um músculo da mandíbula.
—Minha experiência me diz que conversar muito com uma mulher nunca é boa ideia. E embora eu odeie perguntar, poderia definir «isto»?
Ela vacilou. Sabia que as seguintes palavras podiam modificar seu futuro. Inspirou com força.
—Nós.
Robert resmungou novamente uma palavra desconhecida, e seu corpo ágil se ergueu sobre o assento oposto.
—Rebecca.
—Não podemos negociar?
—Negociar? — Ele a olhou diretamente nos olhos. —Como?
Ela engoliu o nó de nervos que tinha na garganta, e ainda com o coração descontrolado, prosseguiu esperando aparentar serenidade:
—Por favor, compreenda que eu sou totalmente diferente de você.
Pela primeira vez desde que a descobrira entrando naquele vestíbulo, apareceu um brilho do encanto habitual e descontraído de Robert.
—Infelizmente eu notei senhorita Marston.
Ante esse comentário frívolo, ela começou a rir com uma mescla de tensão e alívio reparador.
—Quero dizer, eu entendo que não sinta o desejo de renunciar a sua liberdade. Bem. Como alguém que não tem liberdade para se pronunciar, acredito compreender por que dá valor a isso. Talvez possamos conseguir que as coisas sejam satisfatórias para ambos. Faremos um trato, se quiser. A única coisa que peço é que me dê uma oportunidade.
Ele não se moveu.
Realmente ia fazer isso? Dizer algo tão escandaloso apoiando-se em um livro escrito por uma perdida? Arriscar sua felicidade pelo conselho de uma prostituta?
Sim, ela faria. Porque embora Damien estivesse fazendo todo o possível para ajudá-la, não demoraria em voltar para a Espanha e, além disso, este era um problema de mulheres e necessitava de um toque feminino.
Inclusive sua própria mãe havia dito: «Nós sabemos o que querem melhor que eles mesmos».
Rebecca tinha lido o livro malicioso do principio ao fim, e dizer que continha revelações instrutivas era pouco. Oh, sim, ficou muito escandalizada com a franqueza das descrições, mas também a fascinara, e essa reação a tinha feito pensar que talvez ela fosse mulher apropriada para Robert Northfield.
O que realmente desejava era fazer todas essas coisas proibidas com ele.
Assim continuou. Pareceu-lhe impossível. Pareceu-lhe incrível, mas o fez.
— Você quer casar comigo?
Ele abriu a boca com evidente assombro. A expressão de perplexidade de seu rosto teria parecido cômica, mas Rebecca se sentia terrivelmente nervosa e tinha a impressão de que este era o momento mais importante de sua vida.
—Se nos casarmos — continuou, notando que a voz tremia — e não o satisfizer de todas as formas possíveis, considere-se livre para viver a vida que vivia antes. Se começar a se sentir desconfortável porque não sou capaz de segurá-lo, de minha parte não porei a menor objeção a sua falta de interesse. — fez uma pausa e deu-lhe um sorriso estudado antes de acrescentar com um sussurro: — Mas para não abandonar o espírito esportivo que preside este assunto, devo avisá-lo que tenho a expressa intenção de preencher todas suas necessidades.
Robert tinha a impressão que seu rosto refletia sua incredulidade. Desde os dezessete anos, ninguém tinha feito uma proposta com tanta franqueza. Elsa era uma atriz doze anos mais velha do que ele, e suas intenções eram estritamente lascivas. Em um verão sufocante foi buscá-lo depois de uma representação que Robert tinha assistido, acompanhado de sua família, nada menos, e sussurrou ao seu ouvido tudo o que desejava fazer com ele. Ela adorava os jovens bonitos, conforme explicou com sua característica voz rouca e um sorriso indulgente de sensualidade explicita.
Naquela época, ele sentia muita curiosidade sexual e se sentiu lisonjeado. É obvio que ele deu um jeito para encontrar os aposentos da dama. Aquela primeira aventura tinha marcado o princípio de sua notoriedade, e ao longo dos anos tinha devotado favores sexuais de formas muito distintas, a muitas mulheres distintas.
Isto era algo completamente diferente.
Talvez estivesse alucinando. Talvez uma jovem muito inocente tenha se limitado a dizer, em termos bem explícitos, que desejava atrair seu interesse sexual e que de algum modo, até considerando sua inexperiência, tinha a esperança de conservá-lo.
Se ele se casasse com ela.
Robert fechou a boca e se esforçou para pensar em algo remotamente inteligente para usar como resposta. Não pensou em nada.
Deus do céu, nunca estivera tão intrigado. O mais provável era que ela nem sequer soubesse o que prometia, mas a ideia de ser seu professor era tentadora.
Robert tinha a certeza de que não seria capaz de afastar os olhos dela, nem sob pena de morte. Era verdade que Rebecca lhe havia proposto matrimônio?
Seus luminosos olhos de um tom azul esverdeado o observavam do outro extremo do reduzido espaço, enquanto circulavam pela rua. Assustou-se tanto ao vê-la cruzar a soleira da festa, que não tinha dado nenhuma indicação ao chofer, de maneira que embora Rebecca não soubesse, o pedido de dispor de mais tempo que ela pediu, estava garantido. George esperaria que lhe indicassem uma direção determinada. Sem dúvida tinha visto uma dama jovem subir à carruagem com ele.
Essa era outra questão. Com capa ou sem ela, alguém podia reconhecê-la. O que Robert havia dito antes era pura verdade. Se corresse o boato que a tinham visto em um local como a festa de Houseman, haveria um escândalo enorme.
Talvez tivesse que se casar com ela.
«Talvez deseje me casar com ela.»
Ele desejava? Tal como Damien havia dito, sem dúvida, Robert não estava certo de não querer se casar com ela, e tinha a aterradora certeza de que não queria se casar com nenhuma outra.
—Seu pai não aprovará — soltou de repente.
«Se não o satisfizer de todas as formas possíveis.»
—Pode ser que sim. Minha mãe gosta de você. Não que esteja a favor de nosso matrimônio de forma explicita, mas tampouco se opõe. Acredito que a intriga da situação a atrai. —Rebecca arqueou uma sobrancelha. —A verdade é que dançar com ela foi uma manobra genial.
—Eu não tentava ser genial —murmurou ele — só.
Ela esperou, pelo visto lhe interessava sua resposta.
Ele não tinha ideia do que queria dizer. Por que tinha dançado com lady Marston? Finalmente decidiu replicar:
—Rebecca, você não tem por que ser tão altruísta. É bela, é uma herdeira, tem talento. Ambos sabemos que todos os solteiros de Londres estão aos seus pés.
—Bem, isso deve incluir você. Meus pais insistem em que escolha um marido logo. Eu escolho você. Posso deduzir que aceita minha oferta?
—Não é tão simples, ou muito menos.
—Diga-me por que. Você é solteiro, não é verdade? —Seu sorriso era cândido e tentador. —A menos que tenha uma esposa secreta que ninguém conhece.
Maldita fosse, sabia que estava ganhando. Não, pior ainda, sabia que tinha ganhado.
Tinha chegado o momento de ele recuperar o controle da situação.
Ao menos Robert teve a satisfação de provocar nela uma exclamação de surpresa quando de repente cobriu a curta distância que os separava, enlaçou-a pela cintura, colocou-a no colo e tocou a testa com os lábios.
—Por que está fazendo isto?
—Eu tenho feito essa mesma pergunta muitas vezes, pensando no efeito que você provoca em mim. —Seu riso tinha um toque hesitante. —Tenho receio de que não haja uma explicação fácil.
Os lábios de Robert viajaram ao longo da curva acetinada de sua face, como aquela primeira vez no jardim. Mordiscou-lhe o canto da boca para recriar o momento em que a abraçou contra o muro, quando ela fugia de lorde Watts.
—De acordo, aceito seus termos se você aceitar os meus.
Ela jogou os braços ao redor do seu pescoço.
—Duvido que vá objetar qualquer coisa que diga.
Robert sorria com deliberada malícia.
—Se eu não a satisfizer de todos os modos possíveis, considere-se livre de procurar consolo em outra parte, mas a advirto, tenho a intenção de conservar seu interesse.
Ela se agarrou ao corpo dele, tremendo.
Então ele a beijou. Não com a moderação daquela primeira vez, mas com um beijo de amante, apaixonado, intenso e prolongado. Foi uma promessa e um juramento mudos. Robert tomou, mas também deu, e deixou que ela notasse seu desejo, mas também sua contenção.
Na verdade, quando finalmente ele levantou o rosto e levantou um milímetro a boca, não tinha a menor ideia de que lugar de Londres eles estavam, mas depois de tomar aquela monumental decisão, descobriu em seu interior um lugar maravilhoso cuja existência nunca tinha sequer suspeitado.
—Devemos nos casar logo — sussurrou junto aos lábios.
—Para salvar minha reputação se por acaso alguém me viu esta noite? —A risada de Rebecca entre seus braços foi como um sopro leve, doce, exuberante e quente.
—Porque eu não posso esperar muito. Talvez tenha percebido. — Moveu-se para que ela notasse sua ereção na curva do quadril.
—Oh.
Ele riu da incerteza implícita nessa exclamação, feliz por ter recuperado a iniciativa.
—Tenho certa reputação, você já sabe.
Então ela virou o jogo. Deslizou a mão pelo ombro de Robert, desceu por cima de sua jaqueta, pousou-a na parte superior da coxa e então o acariciou. Por cima das calças, mas ele prendeu o fôlego com um suspiro alto, enquanto ela pressionava a palma contra a superfície de seu membro rígido.
—Por que esperar? —Disse de um modo que só podia ser descrito como um murmúrio sedutor. —Estamos prometidos e acabamos de concordar com um casamento rápido.
Ele ficou estupefato. Pela sugestão, mas também pela ousadia com que o pressionava com a mão. Era um ato muito arriscado em uma donzela inocente.
—Jesus, não diga isso. —Robert se moveu, mas ela se reclinou sobre ele, de modo que sentiu o peso delicioso de seus seios e o atravessou uma pontada de desejo. —Não necessito que me tente, pode acreditar.
—Sua casa está perto daqui. —Rebecca baixou as pestanas. — Leve-me até lá. Meus pais não me esperam antes de algumas horas.
«Leve-me.»
Não devia. Fazia só um momento que aceitara unir-se às filas dos homens casados respeitáveis que honram suas esposas com as devidas promessas.
—Rebecca. Não. Posso esperar.
—E se eu não puder? —Parecia sem fôlego. —Não esqueça que estou há um ano sonhando com isto. Desde a primeira vez que o vi. Eu o desejo. — Puxou o laço da gravata com sua mão graciosa e a desamarrou. — Dei a entender que talvez ficasse com Arabella. Já fiz isto outras vezes. Temos a noite toda. Meus pais não se assustarão se não voltar para casa.
Rebecca não tinha ideia do que estava dizendo, do que estava oferecendo. Robert segurou seus pulsos.
—Continua sendo bem possível que seu pai se negue, e se me comporto de modo desonroso.
—Você tem intenção de contar? Eu não.
Soltou a mão e voltou a beijá-lo, inexperiente, mas curiosa. Varreu sua boca com uma carícia indecisa da língua e arrancou-lhe um gemido. Mantinha as mãos sempre ocupadas; tirou-lhe a gravata e se dedicou aos botões da parte superior da camisa. Colocou uma mão tímida e fria, e apoiou a palma sobre seu torso nu e ardente.
Desconcertado, excitado e indeciso, Robert interrompeu o beijo apaixonado, tentando ser fiel a sua honra.
—Tenho que levá-la a casa de seus pais.
—Não se preocupe com meu pai. Eu me casarei com você de qualquer maneira, com ou sem sua permissão. Certamente se negará a pagar sua parte do acordo matrimonial.
—Eu não me importo com o seu dinheiro — interrompeu Robert imediatamente. —Nem sequer que nos dê sua bênção. Eu quero você.
O mais prudente era voltar a acomodar Rebecca no assento da frente, e ele a colocou novamente a essa pequena distância, mas não resolveu nada. Estava um pouco despenteada e tão deliciosa, com sua boca rosada e as faces ruborizadas. Seus olhos de água-marinha cintilavam.
—Por favor.
Sua decisão fraquejou ante aquela simples palavra. O apelo de Rebecca era tão poderoso que Robert teve que fechar as mãos para não voltar a tocá-la. Amaldiçoou a si mesmo e bateu com rudeza no teto para avisar o chofer.

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