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Iara

Me solta seu idiota — estava respirando fundo para não perder o controle.

— Não solto, você é minha — ri alto ao ouvir isso, Vinícios não consegue entender que eu sou uma mulher livre, não sou de ninguém, homem pra mim é uma noite e tchau, se for bom a gente pode até repetir, mas não passa disso.

— Vou fingir que não ouvi isso, agora tchau — forcei meu braço fazendo com que ele se livrasse do homem que o agarrava com força.

Caminhei exausta pelo morro, Complexo da Penha, muitos pensam que eu nasci aqui, mas não, não é assim, eu nasci na zona sul, num bairro nobre, meu pai era um empresário bem sucedido, mas quando minha mãe ficou grávida e eu nasci ele começou a se afastar. Eles acabaram por se separar, minha mãe se envolveu com um traficante e veio pra cá, nessa altura eu estava com apenas 3 anos. Minha mãe estava muito apaixonada, mas cerca de 7 anos depois Jorginho abandonou ela que sofreu muito, e ficou doente, eu também sofri, porque cresci sabendo que Jorginho era o meu pai, não sabia da real história, até que 5 anos depois, quando eu tinha 15 anos minha mãe me contou a história toda antes de morrer de câncer, eu sofri muito, não sabia o que faria da minha vida, sem ela eu estava sozinha no mundo. Fui atrás do meu pai, mas quando cheguei na empresa que supostamente era dele um homem que disse ser meu tio me recebeu dizendo que procurava por mim há anos e contou que meu pai estava morto, não digo que fiquei triste, porque estaria mentindo, ele era um homem estranho para mim, eu nem sequer conhecia seu rosto, mas o bom disso tudo é que ele me incluiu no seu testamento, ele deixou tudo para o seu irmão, mas ele tinha a obrigação de me procurar e me dar uma mesada no valor de dez mil reais, eu não vi o testamento e nem provas de que ele realmente me procurou, então não sei se é verdade, mas esse valor era mais do que suficiente para eu seguir minha vida, então desde que a minha mãe morreu é assim que eu vivo, sem precisar trabalhar, por enquanto prefiro assim.

Com a morte da minha mãe eu me sentia sozinha, tenho alguns amigos aqui no morro e até fora mas não tenho família. Luana é minha melhor amiga, que eu considero como irmã, a prima dela, Vivi, também é minha amiga, a gente vive brigando, mas no fundo eu até gosto daquela doida. Mas o mal é que elas são do Complexo da Maré, e agora que o Coronel, dono daqui e o tal Barão, dono de lá, decretaram guerra está difícil a gente se ver.

[...]

— Menina, tu não vai acreditar — Luana já me olhou curiosa e eu ri, quem não ama uma boa fofoca.

— O babaca do Vinícios, ele continua me perseguindo, não está dando mais para aguentar, cara grudento — bufei irritada, odeio a sensação de um homem querendo me controlar, ainda mais um homem que nem ele, sinceramente não sei onde estava com a cabeça quando me envolvi com aquele maluco.

— Amiga, já sei, tu tá reclamando desse Vinícios faz quase um mês, aqui ele vai te importunar sempre, vem morar comigo e com a Vivi lá na Maré, lá não tem nem como ele te achar — olhei para ela quase rindo, isso só podia ser uma piada, com certeza o dono de lá acharia que eu sou uma x9.

— Tu só pode estar brincando, tá maluca? O Barão me mataria na hora, ele com certeza ia achar que eu sou enviada do Coronel — expliquei olhando para minha amiga que estava aqui para passar o final de semana comigo.

— Tu acha mesmo que o Barão ia ligar pra tu? Ele nem vai saber quem tu é, e se por acaso vocês se cruzarem algum dia e ele perguntar a gente não conta que tu é daqui — olhei para ela indecisa, seria a melhor solução, confesso que não é muito bom viver sozinha aqui, apesar de ter amigos e pessoas com quem me dou bem, nada se compara a Luana, ela é minha única família, mesmo não sendo de sangue, ela é de coração.

— Vou pensar nisso, agora vamos logo — é tarde de sábado e incrivelmente estávamos sem nada para fazer, então decidimos ir pro salão.

— Tu tá cheia da grana hein? — me olhou.

— To podendo querida — rimos.

— Mas aí, tu não trabalha, onde acha essa grana toda? E eu sei muito bem que tu não aceita grana de macho — nunca contei para ela minha história, acho que isso deve ficar enterrado junto do meu querido paizinho, confio na Luana de olhos fechados, mas eu não quero lembrar de muita coisa que já passou, passado só é bom no museu.

— Tenho meus segredos — ela entendeu que eu não queria falar e se manteve em silêncio.

Eu gosto muito da Luana, somos melhores amigas há quase 5 anos, desde que minha mãe morreu ela é a pessoa mais próxima de mim, mas tem coisas da minha vida que nem eu quero lembrar, além da história do dinheiro tem muitas outras coisas que aconteceram na minha vida e eu decidi não dividir com ninguém. Mas confesso que às vezes sinto uma solidão, é como se tivesse algo faltando na minha vida, enfim, talvez ir morar com a Luana me faria bem.

— Já dicidi, eu vou — Luana me olhou sem entender.

— Tu vai o quê mulher? — perguntou e eu ri baixo da cara de desentendida que ela fez.

— Morar com tu e a Vivi — ela sorriu e me abraçou.

— Que felicidade toda é essa? — olhei fingindo desconfiança.

— É mais uma para dividir as contas — rimos.

— Tomara que tenha muitos gatos — ela me olhou de lado com um sorrisinho.

— Não se preocupe meu amor, gato é o que não falta na Maré — rimos mais uma vez, fazendo com que algumas mulheres olhassem para cá, já estamos no salão que está cheio, estamos sentadas esperando nossa vez!

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Eu, Você e o MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora