Penúltimo capítulo

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Capítulo 47

Iara

Alguns dias depois

Acordei com o barulho da obra. Mas fiquei na cama por mais alguns minutos até conseguir finalmente levantar.

Depois de escovar os dentes e tomar um banho quente e relaxante. Peguei meu celular e fui para a cozinha onde as meninas, Luana e Gabi, estão preparando o café.

— Bom dia casal safadeza — falei me sentando.

— Bom dia Gata — Gabi piscou par mim e Luana cruzou os braços.

Nunca vi mais ciumenta.

Logo, Vivi se juntou a gente. Tomamos o café em meio à uma conversa animada. Quando terminamos, Luana, Gabi e eu saímos para o salão.

Vivi vai ficar em casa de olho nos pedreiros.

[...]

Já é meio dia. E estamos almoçando.
Mas algum ser me interrompe, com uma ligação mais que inoportuna.

Atendi, pronta para insultar o sujeito. Mas meu corpo congelou quando ouvi a voz do outro lado da linha.

— Iara — por mais que passem meses, anos, eu nunca esqueço essa voz. Binho. Sua voz está fraca, mas sei que é ele.

— O que tu quer? — tentei parecer firme.

— Eu preciso te ver. Falar com você — ri. Eu não vou cair nessa.

— Pra quê? Quem tu vai tentar matar dessa vez? — as meninas me olharam preocupadas.

— Por favor, Iara, eu sei que fiz coisas imperdoáveis, mas preciso falar com você, uma última vez.

— Não, eu não vou até você — falei decidida, ou talvez nem tanto.

— Por favor — ele tossiu — Se eu pudesse, eu iria até você, mas não posso. Se quiser vem com seu novo namorado. Ou alguém de confiança, sei lá — faz uma pausa — Acredite, eu não estou mais em condições de te fazer mal, nem a você e nem a ninguém.

— Binho, eu... — não consegui terminar.

— Eu te mando o interesse, por favor, vem em menos de uma hora — e desligou.

Segundos depois meu celular apitou.
Uma mensagem do mesmo número. Com um endereço.

As meninas perguntaram o que está acontecendo, mas eu disse que explicaria depois. Que preciso resolver algo. E saí correndo.

Talvez eu seja burra demais. Talvez eu seja uma idiota.
Mas algo me diz que eu preciso ir.
Essa parte da minha história precisa de uma ponto final, que talvez só esse encontro pode colocar.

Mas não sou tão burro assim.
Então. Fu para a boca.
Quando cheguei Ícaro estava parado com Gui e Nandinho no lado de fora.

— Oi gente — eles acenaram para mim — Preciso de um favor seu — Ícaro se aproximou de mim.

[...]

— Tem certeza que quer fazer isso? — Ícaro perguntou.

Estamos em frente ao endereço enviado por Binho. É uma casa simples. Numa zona de classe média.

— Eu preciso fazer isso — ele assentiu.

E caminhou comigo.
Do meu lado.
Como prometeu fazer.

Depois de tocar a campainha um homem abriu a porta. Ele veste um uniforme de enfermeiro.

— Boa tarde. Eu... — ele me interrompeu.

— Ele está te esperando. — assenti e ele deixou que nós entrássemos.

A casa é ainda mais simples por dentro. Quase sem nenhum móvel. Nem mesmo uma televisão.
O homem nos mostrou uma porta.

E caminhamos até lá. Ele abriu a porta.

O quarto parece um hospital. É todo branco. A cama é de hospital. Tem um monte de aparelho ligados ao homem deitado sobre a cama.
Do lado tem uma cadeira de rodas.

Binho estava tossindo quando entramos. O enfermeiro nos convidou a nos aproximarmos. Ícaro disse que iria ficar ali, na porta.

Assenti e fui até Binho. Ele está horrível.
Seu rosto parece ter envelhecido uns dez anos. Sua barba está enorme. O olhos fundos.

— Você... — não consegui dizer nada.

— Oi Iara. Você não precisa dizer nada. Esse é Paulo, ele é médico, clandestino. — sorriu — Em algum tempo, ele irá injetar uma vacina em mim que irá fazer com que eu pare de sofrer — tossiu — Eles chamam isso de Eutanásia — sorriu mais uma vez — Eu contraí uma infecção grave e estou num estágio terminal, como vê. Mas não aguento esperar o meu dia que não chega, e enquanto isso eu sofro e sofro. Decidi antecipar minha partida. E você, bom, você é a única pessoa que eu queria me despedir. Não sei se você já se perguntou, mas eu preciso dizer. Eu te amei. Te amei muito. Mas infelizmente, acabei me desviando. E te perdi. As drogas e o poder me tiraram você e a nossa criança, que eu próprio matei. Te culpei por anos por estar nessa cadeira de rodas, mas nesses últimos dias eu percebi que eu me coloquei nela. Sei que o que fiz é imperdoável. Mas mesmo assim eu me atrevo e peço que me perdoe, ou pelo menos não me odeie. Tente me perdoar. — ele tossiu — Eu levei meu amigo a morte, te perdi, e perdi tudo que eu tinha — seus olhos deixaram cair algumas lágrimas — Me perdoa Iara.

Ele não disse mais nada.

— Eu vou tentar — foi o que eu consegui dizer. — Onde quer que você vá, te desejo boa sorte Fábio — ele sorriu, mal conseguia abrir os olhos.

Eu não podia ficar e vê-lo morrer. Então me despedi. Ele sorriu, uma última vez.

Ícaro me esperava, e juntos seguimos o caminho, de volta ao morro.

E como eu pressenti, uma parte da minha história termina hoje. O medo, a insegurança e a angústia se vão. Hoje estou completa e aberta para amar e viver novamente. Sem um passado me atormentando.

[...]

Quando chegamos no morro Ícaro me levou para casa. Ele se despediu, mas quando se virou eu o chamei.

— Obrigada — disse e ele sorriu.

— Não precisa agradecer. Eu te amo, e já disse, estarei aqui sempre.

— Eu também te amo Ícaro — ele abriu um sorriso largo e me abraçou — Promete que nunca mais vai me trair?

— Eu prometo. — beijou meus lábios. — Obrigado Iara. Por me dar uma segunda chance. Te juro que nunca irá se arrepender.

Penúltimo capítulo...

Eu, Você e o MorroWhere stories live. Discover now