Eu, Você e o Morro

10

Iara

Precisava que o tal Gui me notasse, mas tava impossível com ele lá no camarote e eu aqui, bufei tomado minha caipirinha até que tive uma ideia, mas precisaria de sorte.

Entrei na pista e dançava com meu copo na mão, vi onde tinha duas garotas de costas uma para a outra e uma delas tinha um copo vazio, andei até elas na maior cautela para que ninguém me notasse, joguei toda bebida do meu copo na garota que não tinha copo e cutuquei a que tinha um copo vazio, saí me escondendo entre as pessoas.

O barraco estava armado, as duas começaram a brigar logo chamaram atenção de todo mundo, e adivinhem? Ícaro e Gui desceram para resolver.

Quando a briga terminou Ícaro ficou olhando para tudo quanto é lado e eu me escondi rezando para que ele não me visse, e graças a Deus não viu e voltou pro camarote, corri para alcançar Gui que também estava quase subindo. Fingi esbarrar nele sem querer.

— Quê isso porra — disse sem virar pra mim.

— Desculpa — falei suave, ele se virou e ficou me encarando por um tempo.

— Tá desculpada novinha — sorriu olhando pros meus seios, pronto, caiu feito um patinho, homens.

— Que bom — olhei pra ele.

— É nova aqui? — perguntou desviando seu olhar dos meus seios para meu rosto.

— Não exatamente, tou passando uma temporada com umas amigas, me falaram que aqui tem tudo que uma mulher precisa — eu não imaginava que algum dia protagonizaria uma cena tão patética.

— Pode crer gata, quer subir comigo? — Sorri assentindo.

Ele colocou seu braço na minha cintura e assim entramos no Camarote, ele me conduziu até onde suponho que ele estava sentado antes e me colocou sentada em seu colo.

— Então, me fala de tu? — perguntou, o idiota do Ícaro deve estar comendo alguma puta porque não está aqui.

— Hei? — me chamou após perceber meu silêncio.

— Na verdade eu prefiro fazer e não falar — disse quando vi Ícaro surgir e me virei para Gui dando um beijo em sua boca, ele apertava minha cintara enquanto eu mantinha minhas mãos em seu pescoço.

— QUE PORRA É ESSA? — Ícaro gritou e Gui me afastou, sorri sem mostrar os dentes.

— Que foi Ícaro? — Gui perguntou sem entender nada, Ícaro me arrancou do colo do Gui.

— COMO ASSIM O QUE FOI PORRA? PORQUÊ TU TAVA BEIJANDO ELA? — ele perguntava para Gui que estava visivelmente perdido, e eu me segurando para não rir.

— Desde quando tu controla quem eu beijo? — perguntou.

— Desde quando tu beija a minha mulher — oi? Minha mulher? Ok, o cara surtou.

— O quê? — Gui e eu perguntamos em simultâneo.

— O que tu ouviu, essa aqui é minha cara, procura outra — disse segurando meu braço e saiu me puxando para fora do baile.

Todos olhavam mas ninguém se atrevia a falar qualquer coisa, Ícaro estava nervoso, muito nervoso, mas mesmo assim eu não tinha medo, a vida me ensinou a não ter medo de homem.

Ele segurava forte meu braço e eu tentava me largar, até que quando já estávamos fora da quadra consegui me soltar e saí correndo feito uma louca, agradeci por estar usando tênis, Ícaro estava atrás correndo para me pegar.

Eu corria e acabei entrando em ruas que não conheço, agora eu me fodi, mas por sorte parece que despistei Ícaro, hahaha, banca o machão mas corre feito uma princesinha.

Me encostei  num muro para descansar, estava ofegante, porra, estou exausta. Mas agora tinha que descobrir como voltar pra casa, e adivinhem? Não levei celular.

— Achou que tinha fugido Iara? — olhei pro lado vendo Ícaro que tal como eu estava respirando pesado pela bela corrida.

— Conheço esse lugar como a palma da minha mão — disse se aproximando mais, eu nem me castiguei em correr novamente, não sei nem onde estou, é até bom ele ter me achado, não quero morrer em beco de favela não.

— Ok Ícaro, o que tu quer? — ele se aproximou e me colocou presa na parede.

— Tu ainda não percebeu? — olhei pra ele sem entender.

— Eu quero tu porra — disse mais baixo, pensei que quando ouvisse isso eu daria uma risada irônica e falaria "mas eu não te quero e tu não vai me ter" mas agora estou sem reação, não sei o que pensar e nem o que dizer, eu não posso me envolver.

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