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TAEHYUNG

Eu queria não pensar no meu pai o tempo inteiro, na verdade eu queria esquecer que ele existiu, porque a dor que eu sinto é surreal, simplesmente não cabe em mim. Eu tenho a briga da minha mãe com ele na minha cabeça o tempo inteiro, cada palavra dita, se repetindo várias e várias vezes, e a cada vez é como se ficasse mais doloroso.

Eu penso no rosto dele, nos olhos, o cenho franzido enquanto me encarava. Me senti uma criança, me senti como se tivesse voltado mais de dez anos no tempo, quando ainda morávamos juntos, me lembro de descer as escadas correndo quando ele chegava do trabalho, ele sorria e me pegava no colo. Gostava de ouvir as histórias do trabalho dele, ele é advogado e eu achava incrível, porque eu queria ser como ele. Eu queria ser como o meu pai.

Quando ele foi embora, me lembro de esperar todas as noites que ele voltasse para casa, de perguntar repetidas vezes para a minha mãe:

"Quando o papai vai voltar?"

"Por que ele não liga?

"Ele foi embora pra sempre?".

E ela nunca me contou a verdade, nunca me disse o real motivo dele ter ido embora, apenas dizia que ficaria tudo bem, e na minha cabeça "vai ficar tudo bem", significava que meu pai iria voltar, então me dei conta de que não era bem assim, me lembro de ter me perguntado se ele tinha morrido, eu sabia o que a morte significava e sabia que se fosse isso, então ele não iria mais voltar, passei semanas com esse pensamento até decidir finalmente tirar a dúvida.

E minha mãe chorou, chorou muito, eu tenho essa memória clara na minha mente, porque foi a primeira vez que eu vi a minha mãe chorar, e eu desabei em lágrimas por simplesmente vê-la assim. Eu não sabia o motivo, eu não entendia, eu apenas chorava. Naquele dia ela me disse que ele tinha ido embora, para bem longe, e que talvez ele nunca voltasse.

Depois disso o meu mundo desabou, eu não sabia o motivo dele ter ido embora, o porque dele não voltar mais pra casa e na minha cabeça era culpa minha. Eu tinha certeza de que tinha feito algo, tinha certeza de que eu era o motivo.

Depois daquilo é como se minha mente ficasse nublada, não me lembro de metade das coisas que aconteceram durante aquele tempo, quase não me lembro da escola, ou das babás, não me lembro das idas ao psicólogo, e há vezes em que ouço minha mãe comentar algo de quando eu era criança, cujo a memória se perdeu há tempos na minha mente. Sequer sei dizer como tudo acabou, mas sei que fiquei bem por um tempo.

Nós nos mudamos para uma casa menor do que a anterior, eu tinha uma escola nova, amigos novos, e foi quando eu conheci o Jungkook. Então, o meu inferno se iniciou outra vez.

Queria poder dizer que não tenho medo do Hoseok fazer a mesma coisa, mas seria mentira. Eu tenho um medo absurdo dele simplesmente ir, e sinto que é apenas uma questão de tempo até ele fazer isso, porque ele vai fazer, eu sei que vai, todos sempre fazem. Pensar que as coisas seriam diferentes com ele só alimentaria ainda mais essa ilusão de que alguém vai realmente gostar de mim, gostar de verdade. No fim, eu sei que vou acabar sozinho. Apenas eu.

No entanto, agora, eu tenho o meu pai bem na minha frente, me encarando como se eu fosse um ser de outro mundo, como se qualquer coisa que ele dissesse fosse me causar uma reação inesperada, quando na verdade sou eu quem está morrendo de medo de falar com ele.

Meu coração bate tão forte que eu posso senti-lo contra o meu peito, minhas mãos tremem sem parar e eu tenho certeza que ele percebeu, isso me faz sentir menor ainda. Estou com tanto de acabar surtando de vez, de não saber me controlar na frente dele.

Me irrita o fato de sermos tão parecidos, me irrita ele estar usando um terno preto, simetricamente perfeito, exatamente como eu me lembrava.

O silêncio entre nós dois já está constrangedor demais, nunca desejei tanto levantar e ir embora como agora, e fica pior quando lembro que minha família inteira está na cozinha,  esperando para ouvir o que quer que saia dessa conversa, e eu sei que qualquer sinal de perigo que minha mãe detecte, vai fazê-la vir aqui como um furacão, e pela primeira vez na vida eu quis que ela fizesse isso.

VANTE: GIRASSÓIS DE DANTEWhere stories live. Discover now