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⚠️ AVISO DE GATILHO: depressão, ansiedade.

TAEHYUNG

Minha mãe e Youngsoo não estão se falando direito. Há sempre um clima pesado na atmosfera, angustiante, a sensação é tão ruim que constantemente quero fugir para o mais longe possível.

Quero acreditar que é um momento difícil, mas um momento passageiro. No entanto, é como se estivéssemos vendados, sobre uma corda bamba, a quase dez metros do chão, apenas esperando a queda. Não vai haver sobreviventes.

Hoseok sabe, e estou com medo dele desistir de mim por isso. Parece egoísta da minha parte, mas não consigo deixar de pensar nisso.

Não quero que ele desista de mim, mas também não quero que nossos pais se separem.

No momento, tentar equilibrar as coisas é o que estamos tentando fazer.

Acho que hoje é segunda-feira, mas não tenho certeza. Faz mais de dois meses que minha mãe deixou de trabalhar, para ficar de olho em mim.

Acho que nunca passamos tanto tempo juntos como nos últimos dias.

Não é de todo ruim, mas eu me acostumei a estar sozinho, agora com uma pessoa me vigiando o tempo todo chega a ser estranho.

Eu me viro sozinho desde os meus catorze anos, quando as babás pararam de vir, quando a única pessoa que eu via em casa era a diarista e ela só vinha, me fazia comida e ia embora logo depois. Toda essa atenção repentina que tenho recebido da minha mãe está me sufocando, detesto dizer isso, mas a sensação é de que eu sou um bebê, que não sabe comer nem usar o banheiro sozinho.

Tento levantar da cama assim que acordo. Tento descer e me juntar a ela na mesa. Tento comer. Tento todos os dias, mas nem sempre consigo.

Quando chego na porta da cozinha, percebo que é cedo demais. O relógio acima da porta marca 7h02. Tem pratos na pia, o cheiro de café ainda está forte.

Ela está sentada na mesa, segurando uma caneca amarela, o olhar baixo, olhos vermelhos. Esteve chorando.

Eu não via a minha mãe chorar desde que o meu pai foi embora, agora quase todos os dias eu a vejo triste assim, cabisbaixa, a culpa é minha, eu sei que é minha e se eu pudesse voltaria no tempo para impedir de contar todas as coisas ruins da minha vida pra ela.

Minha mãe tenta parecer bem quando me vê, com um sorriso fraco, pergunta se eu quero alguma coisa. Não respondo.

Em vez disso, só me aproximo. Puxo uma cadeira para perto da sua e me sento. Cruzando os braços por cima da mesa, mantendo a nossa linha de olhares por um tempo.

– Como está se sentindo hoje?

– Disposto – respondo. Preferindo não me estender no assunto e pelo visto nem ela – Que dia é hoje?

– Quarta.

É, parece que me enganei.

– Quer que eu faça algo pra você? – pergunta, passando a ponta dos dedos no canto dos olhos.

– Não, eu faço.

– Tem certeza?

– Tenho.

Ela suspira, balançando a cabeça em concordância. Quero perguntar o porque dela ter estado chorando, mas sei que não vai me contar, vai preferir contornar o assunto.

Quando começo a preparar algo para comer é que sua voz se faz presente outra vez.

– Às vezes me pergunto, o porquê de você nunca ter me dito nada.

VANTE: GIRASSÓIS DE DANTEWhere stories live. Discover now