Reencontro

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— Eu vou esganar você — foram as minhas primeiras palavras quando Tati chegou no apartamento depois do trabalho.

Os cabelos cacheados volumosos estavam escapando do coque e o batom preto tinha saído em algumas partes, mas esses eram os únicos sinais de cansaço que a minha amiga demonstrava.

Ela ergueu uma sobrancelha arqueada na minha direção.

— O que eu fiz? — perguntou com os imensos olhos negros arregalados inocentemente, mas o sorriso malicioso que curvava os lábios fartos deixava claro que ela sabia muitíssimo bem.

— Bryan! — eu rosnei apontando para a porta fechada do nosso apartamento, na direção do apartamento dele. — Eu simplesmente descobri que ele é nosso vizinho de porta!

Meu estômago vibrava só de pensar na forma como Bryan me olhou naqueles breves segundos antes de abrir a porta e me deixar sozinha plantada no corredor. Os lindos olhos verdes estavam escuros ao correr pelo meu rosto, me devorando da mesma forma desesperada como eu o devorava.

Fiquei tentada a bater na porta do seu apartamento, me explicar ou buscar uma resposta que para o seu comportamento, mas eu não queria forçar a barra. Por isso estava ali, andando de um lado para o outro esperando a minha amiga voltar, incapaz de me concentrar em qualquer coisa que fosse, apesar de ter tentado e muito.

Tati piscou os olhos na minha direção antes de se deixar cair sentada no sofá, despreocupada com o meu nervosismo.

— E como ele reagiu? — quis saber levemente interessada. Um dos cantos dos seus lábios estava para cima, embora ela parecesse estar lutando contra o sorriso.

Soltei o ar pelo nariz, cruzando os braços diante do peito, me lembrando com muita precisão do horror que cruzou o seu rosto bonito.

— Como se eu tivesse uma doença contagiosa — contei.

Tati assentiu com a expressão irritantemente neutra e começou a brincar com uma linha solta da sua camiseta preta, aquela que tinha o desenho das fases da lua.

Ela deixou a linha de lado e ergueu o olhar na minha direção.

— Imaginei que fosse alguma coisa do gênero. Ele nunca foi muito bom em lidar com as próprias emoções — comentou, maliciosa, dobrando as pernas para se sentar em posição de lótus, com os pés apoiados nas coxas.

— Não tem graça, Tatiele — recriminei jogando uma almofada na cara dela e a minha amiga fez careta, ajeitando o piercing de septo prateado. — Eu fiz papel de boba. Você deu mancada em não me contar que ele estaria tão perto!

Minha amiga deu de ombros e se inclinou para tirar os coturnos pesados. Eles caíram com um baque contra o chão.

— E o café com o seu veterano? — mudou de assunto ainda sem me olhar.

Com tudo o que tinha acontecido, eu tinha esquecido completamente que tinha marcado de tomar café com Artur, o veterano fofo.

— O café! — ofeguei.

Levei uma mão à testa e puxei o celular com a outra. Passava pouco das seis horas. Eu tinha cerca de meia hora para me arrumar e chegar no endereço que ele tinha me enviado horas antes.

Corri para o banheiro e tomei o banho mais rápido da minha vida inteirinha.

Peguei um conjunto de roupas na minha cômoda: calça jeans clara, camiseta branca e cinto. Calcei meus all-star azuis e me olhei no espelho. Eu estava com uma aparência bem ok, embora meu cabelo decididamente não estivesse no seu melhor momento.

Rosas Azuis [CONCLUÍDA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora