Proteção

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Eu não fazia a menor ideia de quanto tempo fiquei ali nos braços de Bryan até ele me afastar gentilmente e tocar a minha franja com os dedos. O trânsito ainda estava barulhento e insuportável ao nosso redor e o vento rugia, mas o sentimento opressor no meu coração se aliviou um pouco quando olhei dentro dos olhos do meu primeiro amor, do meu melhor amigo.

Eu me sentia muito melhor sabendo que não estava sozinha.

— Vem — chamou baixinho acariciando meu rosto como se para secar as lágrimas. — Vou te levar para casa.

Senti meus lábios tremerem e respirei fundo para tirar o nó que obstruía a minha garganta.

— Eu não posso. Tenho que ir trabalhar.

Ele arregalou os olhos tanto que eu pude ver todo o branco dos olhos dele ao redor das íris verdes, tão chocado que dava vontade de rir. Ou de chorar.

— Mimi...

Sacudi a cabeça. Ele não entendia — claro que não —, mas eu realmente precisava ir trabalhar. Puxei o  celular e xinguei baixinho. Droga, já era para eu estar na Toca.

Uma notificação de mensagem chegou trazendo o nome de Artur, mas eu apenas puxei a notificação para o lado, tirando-a da minha tela inicial. Eu não precisava lidar com mais um problema naquele dia eterno.

— Eu preciso trabalhar, B — cortei antes que ele me convencesse do oposto. Eu sabia bem que Bryan era capaz de me convencer de qualquer coisa e no momento eu não podia me dar ao luxo de faltar um dia sequer. Todo o dinheiro era necessário para proteger os meus amigos do monstro que se dizia meu pai.

Eu não podia ficar faltando sem motivo, agora, mais que nunca, eu precisava do meu emprego.

Me olhando como se eu fosse uma completa maluca, ele soltou o ar.

— Eu vou te dar uma carona então — respondeu com um sorriso bonito e uma animação bastante suspeita fez os as íris verdes reluzirem.

Estreitei os olhos na direção dele, um pouco desconfiada, mas eu estava atrasada.

— Ok, mas promete que vamos para a Toca, não para casa.

Bryan assentiu solenemente e eu confiei nele.

— Eu vou te levar para a Toca — concordou e apertou o botão do alarme do seu carro. Um Camaro, me recordei do que aquele homem horrível disse. Até mesmo eu que não entendia nada de carros sabia que Camaros eram caros.

Bryan ligou o aquecimento do veículo assim que entramos nele e eu tremi. Não tinha percebido que estava tão frio assim, mas o inverno estava chegando.

Coloquei as mãos diante da saída de ar e ele riu baixinho antes de ligar o som, onde uma música de quando éramos adolescentes tocava.

Bryan pegou a minha mão por cima do câmbio, entrelaçando os nossos dedos gualmente gelados.

— Sempre que ouvia essa música eu lembrava de você — comentei antes de acompanhar  Di Ferrero cantando.

Eu passo tanto tempo

Só te procurando

Em um outro alguém

Mas não posso me enganar

Sinto sua falta

E ninguém pode ver*

— Ela resume muito bem o que eu passei pelos últimos anos — contou baixinho desviando o olhar e sua mão deixou a minha para ele segurar o volante com as duas mãos. As sobrancelhas castanhas abaixaram formando uma carranca que eu conhecia muito bem. — Transei com muitas e muitas meninas, bem mais que deveria, procurando uma coisa que só você tinha.

Rosas Azuis [CONCLUÍDA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora