Encerramento

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Assim que cheguei em casa eu comecei a chorar.

O lado bom de Tati estar sempre ocupada com o estágio no Jornal Universitário era que a minha amiga raramente parava em casa durante as tardes, de modo que eu pude ficar sozinha para chorar as pitangas sem precisar me justificar para ninguém.

Bryan me ligou cerca de cem vezes, mandou mensagens de texto e voz, mas eu não olhei nenhuma delas. Meu coração estava destroçado demais depois de vê-lo tão próximo daquele homem desgraçado.

Eu me sentia uma garotinha outra vez, com medo e sem saber a quem me agarrar.

Como Bryan poderia ter feito aquilo comigo? Com nós. Porque havia um nós, um lindo e glorioso "nós" que teria um futuro brilhante. Eu podia praticamente visualizar as lindas criancinhas de cabelos castanhos e olhos verdes correndo pela casa enquanto assistíamos algum filme jogados no sofá da sala de uma casa pequena mas aconchegante em uma noite fria de inverno. meus braços estariam cheios de tatuagens coloridas feitas por ele, uma rosa azul estaria no mesmo lugar que ele tinha a flor tatuada, como se fossem aneis de compromisso, uma promessa para nós dois. Nós não seríamos ricos, mas teríamos um ao outro e isso era tudo o que importava.

Depois de umas boas duas horas de choro, a tristeza e desolação por esse lindo futuro que nunca aconteceria finalmente deram lugar à raiva quente da traição.

Desejei poder ir até o apartamento dele tirar tudo a limpo, mas também socá-lo.

Socar coisas parecia ser a melhor solução então comecei a descontar todos os sentimentos negativos no meu pobre travesseiro.

Infelizmente a vida não podia parar e eu tive que engolir todos aqueles sentimentos sombrios  e me preparar para trabalhar. Era engraçado como o meu mundo estava desmoronando e mcada pequena parte, mas o mundo exterior ainda estivesse funcionando como sempre, alheio aos meus problemas.

Eu não estava exatamente no auge da minha beleza com os olhos vermelhos inchados, mas dei o meu melhor com o kit de maquiagem e forcei um sorriso para o espelho. Eu precisava do meu trabalho e precisava do dinheiro. Só até o fim do semestre, prometi para mim mesma. No fim do semestre eu trancaria a faculdade e recomeçaria em outro lugar, onde eu não conhecia ninguém e não me apegaria a ninguém. Fugindo como sempre.

Assim que abri a porta, é claro, Bryan estava sentado diante da porta do próprio apartamento, o rosto cansado e triste de uma forma que partiu meu coração traidor.

Ele se levantou imediatamente.

— Mimi — sussurrou se aproximando e me afastei sentindo a queimação conhecida nos olhos, mas eu já não tinha mais lágrimas para derramar. — Por favor, me deixa explicar.

— Explicar o quê, Bryan? — resmunguei me virando para trancar a porta. — Como você estava colaborando com a pessoa que eu mais odeio no mundo? Não quero ouvir.

Demorei um pouco mais que o estritamente necessário e puxei a maçaneta duas vezes fingindo testar se ela estava bem fechada antes de me virar para o homem que até horas antes eu apostaria a minha vida que jamais me trairia.

— Eu não tive outra opção, Mimi — sussurrou erguendo a mão para afastar a franja dos meus olhos com familiaridade. Seus dedos quentes deslizaram para a lateral do meu rosto. Meu coração parou por um segundo doloroso dentro do peito com o cuidado que ele empregou, com ose eu fosse a coisa mais preciosa do mundo todo.

— Você sempre tem uma opção — cortei afastando a sua mão. Estar em contato com Bryan não faria maravilhas pela minha sanidade. — Agora eu realmente não tenho tempo para isso.

Rosas Azuis [CONCLUÍDA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora