Chantagem

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Eu estava em um pesadelo. Essa era a única explicação possível, pensei com o coração batendo dolorosamente dentro do peito enquanto analisava o homem mais velho com cabelos grisalhos e olhos muito azuis no mesmo tom dos meus.

Ele era mais alto que eu e era magro, mas isso não significava que era fraco. Tudo nele, da postura ereta até o jeito displicente que as mãos estavam apoiadas na lateral do corpo, transmitiam poder. Poder sobre mim.

O homem à minha frente sorriu como se soubesse o que se passava na minha mente e pegou o meu braço, me puxando para fora do caminho, para perto de um prédio comercial às escuras.

Corri os olhos pela rua ao nosso redor. O trânsito intenso de fim de tarde era caótico, mas se ume jogasse no meio dele provavelmente não morreria, morreria? Os carros não estavam rápidos demais...

Antes que ue pudesse calcular os prós e contras de me jogar na frente de um carro em movimento, ele agarrou o meu pulso. Seus dedos gelados lançaram arrepios pela minha pele.

— O que você quer? — chiei me afastando do seu toque enojada.

O homem que se dizia meu pai sorriu ainda mais, fazendo meu estômago pesar.

— Assim você me magoa — murmurou falsamente ferido e fechei as mãos em punhos cerrados. — Só quero passar um tempo de qualidade com a minha filha depois de tantos anos longe. Cheguei a imaginar que você estava me evitando.

Estreitei os olhos e recuei um passo.

Voltei a olhar para a rua. Embora estivesse tão perto, parecia outro continente. Era estranho estar ao lado de uma rua movimentada vendo as pessoas saindo de seus trabalhos e me sentir presa ao chão, literalmente incapaz de me proteger mesmo tendo aulas de boxe com Bryan há semanas.

— Acredito — respondi com a voz pesada de sarcasmo. — Vai, fala logo porque eu tenho mais o que fazer.

Ele suspirou e olhou as unhas. Sob a luz amarelada do poste onde estávamos, ele parecia mais velho, com as suas rugas bem destacadadas no rosto muito cansado.

— Você sabe, Mimi... — Ele sorriu ainda mais quando eu estremeci ao ouvir o meu apelido. — Seria uma pena se alguma coisa acontecesse com a sua mãe, não é?

— Vo-você não faria isso — gaguejei como uma idiota, tremendo. — A polícia...

— A polícia não me achou até agora, garotinha — cortou dando de ombros como se estivesse falando do clima. — Não vai ser agora que vai encontrar. Mas se você me dar mil reais talvez eu decida deixar você e a sua mamãezinha em paz.

— Eu não tenho mil reais — sussurrei. Pelo amor de Deus, aquilo era praticamente o meu salário inteiro!

Meu pai torceu o nariz e soltou um suspiro pesado. Sua mão deslizou para a cintura e a coronha de metal de uma arma reluziu sob as luzes artificiais. Engoli em seco.

— Por que você não pede para o seu namoradinho tatuador? — sugeriu inocentemente. Como se alguma coisa naquele homem pudesse ser inocente. — Ele tem um Camaro, com certeza mil reais não vão fazer falta.

Senti o sangue congelar dentro das minhas veias.

— Como você...

— Eu sei de tudo, garotinha — contou com a voz baixa. — Sei onde você mora, o nome dos seus amigos e onde eles moram. Sei que você sai todo dia seis e vinte para a aula, que sai uma da manhã do trabalho. Seria uma pena ter que usar esse conhecimento, não é? Ou talvez a sua amiga Hannah, que sai todo dia às seis, sozinha... Mas Barbie mora sozinha, talvez eu devesse fazer uma visitnha.

Rosas Azuis [CONCLUÍDA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora