Capítulo 17

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Subimos de volta para à terra firme e nos sentamos em uma enorme pedra que havia na beirada do rio. Nós dois estávamos com as roupas encharcadas e pelo tecido da nossa calça jeans e da blusa, não creio que vão ficar secas tão cedo. O cabelo ruivo de Bevelly estava encharcado assim como o meu. A ruiva observava o lugar em silêncio, acho que, no fundo ainda estava preocupada de que os pais descobrissem da sua fuga e a castigasse para sempre. Se tratando de Bevelly, julgo que ela se importava mais com a confiança deles.

— Esse lugar é bonito. — comentou, depois de um bom tempo em silêncio total. — Se não fosse pelos bichos que habitam essa floresta, mais precisamente as cobras, aqui seria um bom lugar para passar o fim de semana.

O lugar era mesmo um encanto. A queda de água e as árvores enormes que ficavam a sua volta, era o que contribuía para a beleza do cenário.

— É, seria mesmo. Mas tudo que é bom tem que ter um ponto ruim. — respondi ao seu comentário.

— Será que eles já deram por nossa falta? — perguntou se referindo a turma.

— Eu não sei. Acho que sim, já faz muito tempo que estamos fora. — deduzi, considerando os fatos.

— Provavelmente entramos aqui atoa. — reconheceu — E eu te arrastei junto comigo para essa furada.

— Ei — tomei a liberdade de colocar a mão em seu rosto e fazê-la olhar para mim — , você não me arrastou, fui eu que decidi vir aqui com você. E não entramos aqui atoa, ainda não sabemos e só vamos saber quando acharmos a cabana. Se Josh estiver lá, pelo menos ele vai estar bem e se não, você foi uma irmã corajosa de ter entrado aqui por ele.

— Não vou ter nenhum valor para ele por ter feito isso. — baixou o olhar, como se já soubesse exatamente o que Josh pensaria e talvez não estivesse errada, ela o conhecia bem.

— Posso fazer uma pergunta meio que pessoal? — a perguntei, um pouco receoso.

— Hã... Pode. — pensou um pouco, mas cedeu.

— O que aconteceu entre você e Josh? Não tem explicação para essa indiferença que existe entre vocês. — isso era uma curiosidade que eu tinha.

Bevelly colocou a atenção no rio e umedeceu os lábios enquanto pensava se era uma boa ideia falar de um assunto tão particular comigo. Os lábios dela eram lindos e delicados. Pareciam ter sido desenhados pelo artista mais talentoso do planeta. Eram rosados naturalmente e isso os deixava ainda mais tentadores.

— Para ser sincera — resolveu me contar — , não aconteceu nada. Não brigamos, não nos ofendemos. Josh e eu costumávamos ser como um só. Fazíamos tudo juntos, combinávamos até as roupas. Quando cresci um pouco, qualquer garoto que se aproximasse de mim, ele o colocava para correr. Sempre o irmão protetor. Foi ele quem começou a me cortar. Nossas brincadeiras e conversas sobre a vida que tínhamos durante a madrugada acabou, assim como o respeito dele por mim. Com os anos, nos tornamos desconhecidos um para o outro e o sentimento que temos um pelo outro hoje, é frio e tenebroso.

Tive a sensação de que ela é inconformada com isso. É como se quisesse uma explicação dele por tê-la abandonado, por ter se afastado e arrancado uma pessoa importante da vida dela.

— Nunca perguntou a ele diretamente? — tirei alguns fios de cabelo molhados do rosto.

— No início, eu perguntava, mas ele gritava algumas atrocidades comigo e batia a porta do quarto. Seja lá o que tenha acontecido com ele, deve ter feito que sofresse muito. — concluiu.

— E os seus pais, o que dizem disso?

— Eles perceberam a diferença de comportamento de Josh e fazem vista grossa com ele. Josh sai de casa a hora que quer e chega quando quer também. Ele não ajuda com nada em casa e só fica trancando no quarto o tempo todo. Josh era um garoto divertido e que tinha amizade com todo mundo, agora ele só tem a consideração dos mais chegados. — suspirou — Meus pais fingem que nada mudou e que é só a idade falando por si. Que todo adolescente tem sua fase de rebeldia, mas sei que não é isso. Algo aconteceu.

Um Romance Nos Anos 80Where stories live. Discover now