Capítulo 36

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JACKSON

O restante do dia, não foi possível ver Bevelly. Pensei que conseguiria bolar um esquema para continuar a vê-la sem ter que ser nas aulas, mas ainda não pensei em nada. Falar e estar com a maioria das garotas é fácil, mas não quando se trata de Bevelly que é uma garota de respeito, de família, com uma boa reputação conhecida.

Ajudei o meu pai na oficina e deixei todas as tarefas em dia. Prestei atenção em todas as aulas como havia prometido a mim mesmo e tudo seguia bem. Fredy esteve na oficina enquanto arrumava um carro e me contou de como estava apaixonado por Griselda. De repente, vi o quanto cresceu e amadureceu, apesar de ser bastante brincalhão. Foi a primeira vez que o vi falando com responsabilidade a respeito do seu futuro, falou até em tentar uma vaga na universidade, o que não fazia parte dos seus planos. Não teve brincadeira ou alguma atitude imatura. Fredy era o mais criança entre a nossa turma e agora, se tornou o mais responsável. Contou a mim que os seus pais estavam sem acreditar na mudança de atitude dele. Afinal, o amor pode mudar um homem. Nunca pensei que concordaria com essa frase, mas Fredy é a prova viva. Mas ele pode mudar para o bem e para o mal. Josh mudou para o mal, embora agora esteja de volta ao normal, o efeito foi inverso.

A noite já estava com um compromisso agendado. Encontrar o pessoal no Johnie's. A galera toda estaria reunida, mas não estava tão a fim de ir. Pensei em alguma probabilidade de conseguir ver Bevelly, mas seria um escândalo se alguém nos visse sozinhos a essa hora da noite. Então resolvi que entre ficar em casa sem nada para fazer e ir para o Johnie's, a segunda opção era melhor (ou pelo menos esperava que fosse).

Tudo estava como sempre. Eu e os rapazes em uma mesa e as garotas nos olhando, se mostrando para nós, se oferecendo apenas com o olhar. Isso não me interessou. Os caras adoravam e pareciam nunca enjoar disso, na verdade, até poucos dias atrás, eu também. Mas de repente, me senti deslocado. Não senti desejo ou atração por nenhuma delas. Embora a loira com o laço azul fosse um encanto, não. Não me atraiu. A música conseguia agitar a todos, mas não a mim. Um sentimento estranho domava o meu interior e não tinha nenhum controle sobre isso. Uma sensação de que gostaria de estar em outro lugar. E eu gostaria. Sem sombra de dúvidas.

Ária, com o seu estilo despojado e direto, se aproximou de mim e me deu um beijo na boca. Aquilo me pegou de surpresa. Mas não deveria. Quer dizer, ela sempre fazia isso. Porém, agora isso me parecia errado, não fazia com que me sentisse bem. Com os seus lábios ainda nos meus, ela tentava aprofundar o beijo, mas não sei se estava cedendo muito.

— Jackson, o que foi? — a morena se irritou com o meu desinteresse e me olhou friamente.

— O quê? — me fiz de desentendido. Não tinha o costume de deixar as damas insatisfeitas, mas era exatamente o que estava fazendo agora, ou melhor, tinha feito.

— Você está estranho a noite toda e agora, nem se deu ao trabalho de retribuir o meu beijo. O que você tem? — continuou me encarando, com um ar de exigência.

— Hã... Não sei. — falei a verdade. Não houve mentira, não estava entendendo o que estava acontecendo. Parecia que repentinamente tinha perdido o interesse por festas e mulheres se jogando aos meus pés.

— Não sabe? — cruzou os braços com indignação. — Jackson, tem certeza de que não está acontecendo nada?

— Acho que só estou muito cansado. É só isso. — menti. Foi necessário. Se tinha uma coisa que Ária detestava era a falta de praticidade. Ela nunca seria o tipo de namorada que ouviria o companheiro desabafar abertamente. Ela iria exigir que dissesse logo o que o estava aborrecendo e talvez ajudasse a procurar uma maneira de solucionar o problema.

Um Romance Nos Anos 80Onde histórias criam vida. Descubra agora