Capítulo 35

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Faltava um bom tempo para começar a me arrumar para ir ao colégio, mas acabei acordando mais cedo hoje. Ainda deitado e encarando o teto do meu quarto, a minha mente vagava para outro universo. Um universo que continha apenas lembranças da viagem com Bevelly no final de semana. Eu a tive. Não por completo, mas a tive. Na verdade, conheci um lado dela que não fazia ideia que existia, um lado ousado e conciso. Me deleitei da sua inocência, lhe proporcionando um pouco do que a minha experiência podia oferecer.

Bevelly é muito mais do que mostra. Se antigamente as ruivas eram consideradas bruxas, consigo compreender um pouco o porquê. Essa garota conseguiu me deixar enfeitiçado como nenhuma outra foi capaz. Ela não precisou usar o corpo, ousadia ou nada disso. Porque mesmo antes dessa viagem, já estava gamado nela. Bevelly apenas foi ela mesma. E me encantei ao descobrir o quão profunda poderia ser. Estar com ela é pura magia, cada segundo é importante, cada instante é mágico.

Passei a mão pelo rosto, suspirando e praguejando. Sim, praguejando. Não posso negar que o que sinto por ela é forte, é nobre e o mais assustador de tudo: É real. Não é uma mera fantasia. Porém, não consigo compreender. Nunca senti nada assim por uma garota. É engraçado tentar explicar que quando ela está por perto, sinto a necessidade de impressioná-la. Mas não deveria fazer isso. Eu não vou mudar. Não posso dar o que ela quer: um namorado. Um cara romântico que leva flores, bilhetinhos com coraçãozinhos e beijos na chuva. Minha essência é ser assim, livre, solto e de todas. Não sou digno dela. Não sou. Mas como posso manter distância? A cada instante a desejo. Não consigo vê-la com outro cara.

A necessidade de levantar se fez. Mesmo que ainda esteja cedo, ficar torturando a minha mente com pensamentos assim não é uma boa coisa, principalmente antes da aula. Antes de ir dormir ontem à noite, disse a mim mesmo que seria capaz de prestar atenção enquanto a professora explica. Poderia encerrar as aulas com Bevelly, mas não queria deixar de vê-la. Não queria. Na verdade, não podia.

Após estar arrumado, desci até a copa, onde os meus pais se encontravam tomando café. Eles sorriram ao me ver. Amava os pais que tinha e por isso era grato todos os dias. Me sentei com eles na mesa. Faz tempo que não tomamos café, juntos e com tempo.

— Acordou cedo, filho. — minha mãe bebericou o café na sua xícara branca.

— Estava sem sono. — pensando em Bevelly. Minha mente torturadora completou.

— Filho, esqueci de te agradecer por ter feito a entrega para mim. — meu pai sorriu e mordeu um dos biscoitos.

— Não tem que agradecer, pai. — me servi com um pouco de café, estava esfumaçando.

— Como foi a viagem com Bevelly? — minha mãe perguntou. Ela é curiosa, um tipo curiosa extremista. Não é atoa que mora em Massburgys.

Foi fantástica. Gostaria de ter levado mais uma semana com essa entrega só para poder estar ao lado dela.

— Foi normal. — dei de ombros, fingindo que não entendera muito bem o que queria dizer, embora conhecesse minha mãe muito bem. Tinha uma ambiguidade nessa pergunta.

— Vocês dormiram fora. Pararam em uma hospedaria, certo? — meu pai pegou mais um biscoito e o mordeu, essa tática era velha. Ele fazia perguntas invasivas como se fosse normal e fazia alguma outra coisa para parecer algo casual.

— Certo. — confirmei. Novamente tentando parecer normal, mas estava começando a ficar nervoso.

— Dormiram na mesma cama? — minha mãe ousou mais dessa vez. Ela e meu pai iriam revezar nas perguntas o tempo todo.

Jamais, ninguém deveria saber do que Bevelly e eu chegamos a fazer. Se alguém ao menos sonhasse com a possibilidade, a reputação dela estaria detonada, até porque a minha fama era horrível. Sei como Bevelly preza bela boa reputação, creio que ela mesma não ligue para os mexericos alheios, mas ela liga pelo fato dos pais ligarem.

Um Romance Nos Anos 80Where stories live. Discover now