Epílogo

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Era incrível como eu quase não sentia nada... Digo, sentia, mas ao mesmo tempo conseguia não sentir... Parecia que a dor tinha se tornado tão grande que chegara a me anestesiar, parecia que meu peito estava entorpecido com tudo o que acontecera e para o meu grande alivio, eu quase não sentia nada. Quase. Eu me recusava a sentir porque sabia que se me deixasse sentir, mesmo que por um segundo, tudo iria ser muito pior e aquela avalanche de sentimentos iriam vir a tona, então era melhor eu tentar me fazer acreditar que não sentia nada ou quase nada para evitar mais sofrimento.

Eu já não chorava mais, não tinha mais lágrimas para chorar e nem fôlego para elas. Em meu peito só tinha um enorme buraco que fora deixado por todas as pessoas que eu amava e que eu perdi; meus pais, meus bebês, Steve... Nada mais fazia sentido, não era mais viver e sim sobreviver... Sobreviver, era isso que eu iria fazer, até porque eu só havia reaprendido a viver de verdade quando um par de olhos azuis cruzaram minha vida, mas agora eles se foram e mais uma vez eu me via quase que sem vida. Não conseguia dizer como exatamente eu estava, parecia que eu estava em “off”, desligada, era como se eu esperasse acordar ou voltar a realidade e ver que meu bebê continuava seguro em meu ventre ou que eu ainda estava nos braços de Steve, era como se eu esperasse alguém aparecer e falar que tudo o que acontecera era apenas um teste para ver se eu era forte de verdade ou quanto de sofrimento eu aguentava, mas infelizmente, isso não iria acontecer e eu tinha que encarar a minha realidade.

A única coisa que eu sabia era que deveria ser forte, que iria ser forte como sempre fui desde quando meus pais morreram, não iria falhar, não depois de tudo o que havia passado, não depois de tempos em que a única coisa que possuía era a força. Eu tinha que erguer a cabeça, seguir em frente, não iria cair por mais uma decepção mesmo que tivesse sido uma enorme decepção. Eu tinha que ser forte, tinha que superar, mas não iria ser naquela noite, talvez no dia seguinte ou na semana seguinte, por enquanto eu tinha que encontrar mais uma válvula de escape, mais um motivo para seguir em frente.

Era tão ridículo e patético pensar que um homem havia me ensinado a viver, mas por mais que isso soasse mesquinho era a pura verdade. Depois que eu conhecera Steve tudo começou a fazer mais sentido, a ter mais valor, ele havia me ensinado o que era amar e me mostrado um novo mundo que nunca pensei conhecer dentro da prostituição, Steve, definitivamente, havia me salvado e me mostrado novos horizontes, ele havia ressuscitado aquela Natasha que havia morrido há sete anos e que estava enterrada no cemitério principal junto com seus pais e isso era o que eu mais era grata a ele. Mas com a mesma facilidade que Steve me dera a felicidade, ele a tirou de mim... Isso era tão injusto porque até o meu pedacinho de Steve, até meu mini Steve, havia sido retirado de mim e nada daquele homem me restara para que eu pudesse amar ou provar que tinha sido real.

Ah meu bebê, se eu ao menos tivesse meu pequenino naquele momento as coisas estariam bem melhores, mas até a única coisa que eu tinha de Steve fora tirada de mim, a coisa mais preciosa que uma mulher pode ter e que um homem pode dar a ela... Se o aborto estava sendo difícil de superar mesmo ao lado de Steve, agora longe dele iria ser muito pior e sinceramente, eu não tinha esperanças de que iria conseguir superar a perda daquele bebê. Para mim, meus bebês seriam as feridas que nunca iriam sarar, mesmo que passasse muito tempo.

Suspirei fundo e tomei o ultimo gole de café de minha caneca, o sol já havia nascido e eu não tinha conseguido dormir a noite inteira, Marcos havia improvisado uma cama para mim na sala e eu fiquei sentada no colchão na companhia de meu amigo, de frente a grande sacada da sala do apartamento, olhando para a rua com um olhar extremamente vago enquanto ele adormecera ao meu lado enquanto afagava minhas costas para tentar me reconfortar. O relógio da sala marcava oito da manhã e eu me perguntava como que o tempo havia passado tão rápido sem que eu percebesse. Eu ainda estava fora da realidade, minha cabeça parecia estar oca mas isso era devido as lagrimas e a noite em claro, precisava me situar e começar a dar um jeito em minha vida, aquele seria um longo sábado e quanto antes eu começasse a fazer o que precisava ser feito, melhor seria. Levantei-me do colchão e segui para a cozinha que era separada por um balcão no estilo americano e Marcos se mexeu ao meu lado, acordando lentamente.

Soho Dolls - RomanogersWhere stories live. Discover now