segredos

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  "Nada é predestinado. Os obstáculos do seu passado podem se tornar os portais que levam a novos começos." ~Ralph Blum

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  Frequentemente me pergunto como seria se eu tivesse nascido em outra cidade que não Jayu, ou em outra família que não a Jeon. Tudo seria tão mais simples se eu fosse filho da Lady Gaga, ou da Madonna, ou de qualquer outra pessoa que apoie a comunidade LGBTQ+ e que tenha uma conta bancária estratosférica... mas acho que isso vai ter que ficar para a próxima reencarnação.

  Mais do que isso, eu me pergunto como seria se eu não fosse vizinho dos Kim. Melhor dizendo: os inimigos declarados dos Jeon. Acaba tudo dando na mesma.

  — Bom dia, Ha-eun. —  minha mãe acena para a senhora Kim, que rega seus girassóis do outro lado da cerca enquanto fuma um cigarro, com um sorriso falso no rosto.

  — Oh, bom dia, Jaehwa, querida. — a mulher retribui o sorriso falso, e então me vê saindo pela porta da frente. — Bom dia para você também, Jeongguk, querido.

  O fato de ela adcionar "querido" ao final de toda frase torna as coisas ainda mais falsas, mas acho que ela não percebe, o que é irritante. Mas dou o meu melhor sorriso e retribuo o cumprimento da forma mais educada o possível.

  — Bom dia, senhora Kim.

  — Tão educado. Você o está levando para o colégio, Jaehwa? — a mulher diz, arqueando uma sobrancelha, mas nunca deixando o sorriso desaparecer de seus lábios avermelhados e cheios de botox.

  Aliás, quem usa tanta maquiagem tão cedo?

  — Sim. Sabe, eu e o Jonghyun nos preocupamos muito com o nosso filho e fazemos questão de levá-lo até à escola. Somos ótimos pais. —minha mãe diz, orgulhosa. Entendo o que ela quer dizer nas entrelinhas: diferente de vocês, que não dão a mínima para os seus filhos.

  Tenho certeza de que a senhora Kim também entende, porque diz: - O Taehyung vai para a escola sozinho desde que tinha onze anos de idade, e agora leva a irmã mais nova também. Meu filho é muito responsável, sabe? Espero que o seu Jeongguk também se torne assim um dia, querida.

  E ela vira a cabeça levemente quando diz isso, com um sorriso que poderia facilmente ser confundido com gentileza, se não a conhecêssemos tão bem e não a odiássemos tanto.

  Eu entro no carro e minha mãe diz mais algumas coisas antes de se acomodar ao meu lado. Assim que liga o motor e vira a esquina de nossa rua, o sorriso desaparece de seus lábios e ela diz:

  — Mulher insuportável. — bufa, apertando o volante com tanta força que o nó de seus dedos ficam brancos. — Viu como ela falou, como se fosse superior a nós? Como se aquele filhinho dela pudesse ser melhor do que você. — ela bufa e quase atravessa o sinal vermelho, por pouco não batendo no carro que faz o cruzamento. É... os Kim conseguem tirar qualquer Jeon do sério. — Ai, como eu queria arrancar aquele sorriso presunçoso do rosto cheio de plástica dela!

  —  Eu vou voltar para casa andando e irei de bicicleta para a escola a partir de amanhã. — digo. Espero que Ha-eun perceba o quão responsável eu sou e que se arrependa de ter nos dito o que disse hoje.

  — Que bom. Faça essa plastificada ver que você é muito mais responsável que aquele filho inconsequente dela. — minha mãe diz, ainda furiosa, e então murmura: - Como se nós não soubéssemos o quanto aquele garoto é problemático... Argh, como eu odeio os Kim!

  E eu também odeio. E tem um em especial.

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