Girassóis e Uma Dose De Sinceridade

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                 "Se você tem uma irmã e ela morre, você para de dizer que tem uma? Ou você é sempre uma irmã, mesmo quando a outra metade da equação se foi?" ~ A Guardiã da Minha Irmã

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  Quando eu tinha sete anos e Taeyeon ainda não era nascida, a família Kim costumava ter dois filhos. Kim Taehyung e Kim Taeyong. Esse último era o mais velho, e, na época, tinha quatorze anos. Não me lembro muito dele, além do fato de que ele sempre estava sorrindo, embora eu nunca o visse rodeado por amigos, como acontecia com Junmyeon.

  Um dia, eu vi o carro da polícia parar em frente à casa azulada dos Kim, e dois policiais conversaram por um tempo que pareceu eterno com a senhora e o senhor Kim, os oficiais com a expressão mais séria que eu já tinha visto. Poucos segundos depois que eles saíram, os Kim estavam no chão, chorando desesperadamente. Foi a única vez que eu realmente senti pena daquela família e quis confortá-los. Junmyeon, que na época tinha doze anos e passava muito tempo brincando na rua, entrou em casa dizendo que Taeyong estava morto. Uns garotos mais velhos o pegaram comprando roupas femininas em um brechó pequeno da cidade, e o espancaram na saída. Foi horrível.

  — Isso é terrível. — minha mãe, que geralmente passava 90% do seu tempo falando mal da senhora Kim, tremia, com uma tristeza no olhar que eu jamais havia visto. — Espancar um menino assim, tão novo...

  — Se os Kim o tivessem educado bem, ele não teria ido para aquele brechó e não teria tido esse fim tráfico. — meu pai balançou a cabeça, parecendo inconformado com a morte do Kim primogênito. — Deus guarde bem esse menino lá no céu.

  Naquela época, eu já sentia algumas coisas por garotos, e tinha consciência disso. Mais do que isso: eu sabia que, se eu continuasse sentindo aquilo, as chances do meu fim ser igual ao de Taeyong eram grandes.

  Naquela noite, meus pais tiveram que me acalmar até eu dormir. Mas eu não estava chorando pela morte do Kim, como eles achavam; estava chorando pela morte de todos aqueles que, iguais a mim, morriam por simplesmente amarem.

  Não seria exagero se eu dissesse que aquele dia mudou a minha vida completamente. Foi naquele momento, exatemente ali, que eu percebi que, se eu quisesse sobreviver, teria que seguir as regras deles.

  Se eu quisesse uma chance, então eu teria que fingir.

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  — Jeongguk? — Jimin chamou e, pelo seu tom de voz, aquela não era a primeira vez que ele tentava atrair a minha atenção.

  — Hã?

  — Eu te perguntei que roupa é essa. — ele franziu o cenho. — Você está todo estranho hoje. O que aconteceu?

  Balanço a cabeça, dando de ombros, e então volto a observar Taehyung, que está rindo de uma piada que Hoseok contou, com Yoona abraçada a si, pensando nas palavras que ele me disse ontem.

  — Eu queria ter ajudado o hyung também.

  Pode ser apenas impressão minha, mas, de repente, seus sorrisos não me parecem mais tão felizes.

  — Nada. — murmuro, finalmente desviando o olhar.

  — Sei. — Yoongi arqueia uma sobrancelha enquanto come seu ketchup com batata frita (não o contrário!). Nunca vi alguém gostar tanto desse molho quanto ele. — De qualquer forma, eu gostei da roupa, combinou com você.

  — Ah, é? — olho para a calça moletom cinza e a camiseta preta que estou usando, que deixa meus braços pouco atléticos expostos.

  Hesitei muito em vestir as roupas de Taehyung essa manhã, porque:

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