Capítulo 4 - Así soy yo

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POV Mia

Eu sempre achava clichê quando as pessoas faziam aqueles discursos em momentos especiais dizendo "não existir palavras no dicionário para descrever os sentimentos naquele momento" ou que "felicidade era pouco para descrever o que se estava sentindo", achava clichê e brega, pensava ser apenas uma desculpa esfarrapada de alguém que não queria aprofundar ou externalizar os seus sentimentos, porém hoje posso dizer com certeza que me tornei quem eu mais temia.

Digo isso porque o estado de felicidade em que eu me encontro chega a assustar e eu finalmente consigo entender o que as pessoas diziam sobre não haver palavras suficientes para descrevê-la. Eu poderia dizer que sinto que meu coração vai sair do peito de tão forte que bate, que o meu estômago parece repleto de milhares de borboletas, que a minha pele arrepia e que uma corrente elétrica percorre o meu corpo cada vez que eu penso nele, mas nada disso faria jus ao real sentimento que habita o meu espírito nesse instante. Eu não consigo comer, dormir ou fazer qualquer outra coisa a não ser pensar o quanto a vida é linda e o quanto eu sou grata por ela.

Eu costumava pensar que nunca seria amada, que nunca teria alguém ao meu lado para acariciar os meus cabelos antes de dormir ou me abraçar quando eu estivesse triste. Afinal, foi assim durante a minha vida inteira, não é? Apesar de eu nunca ter tido dúvidas que o meu pai me amava imensamente, ele não foi um pai presente, eu chorava escondida quase todas as noites porque queria pais que jantassem comigo, que me perguntassem como foi a escola e me contassem uma história antes de dormir. Queria alguém com quem conversar, pedir conselhos e desabafar sobre o meu dia, entretanto, não era assim que funcionava. Minha mãe me abandonou quando eu era apenas um bebê e meu pai viajava muito a trabalho, dessa forma eu ficava sozinha nessa mansão enorme com milhares de empregados. Eram eles que me levavam e buscavam na escola, me ajudavam nas tarefas de casa, me levavam ao médico quando eu adoecia... tudo isso me magoava muito e obviamente não passava despercebido para os meus colegas de colégio que faziam questão de remexer na ferida e apontar que eu era a menina que ninguém se importava e que era criada pelos empregados.

Toda essa situação se tornou ainda pior na adolescência quando eu fui para o colégio interno, eu via cada vez menos o meu pai e com isso precisei encontrar uma forma de chamar atenção. Me tornei extremamente mimada, gastava horrores nos cartões de crédito e aprontava todas na escola, afinal para me deixar de castigo ele precisava aparecer, não é? Ao menos assim eu ganhava um momento da atenção do meu pai. Foi assim pelo que pareceu muito tempo, até o primeiro ano do ensino médio onde tudo começou a mudar. Nesse ano eu conheci o amor da minha vida, as duas "irmãs" que o destino me deu, novos amigos maravilhosos como a Lupita e ainda me trouxe aquilo que eu sempre pedi em todas as minhas orações: uma mãe.

Alma se comportou como minha verdadeira mãe nos últimos anos: me consolou quando eu chorava, apoiou os meus sonhos mais malucos fazendo o meio de campo com meu pai, conversou abertamente comigo sobre os mais diversos assuntos – incluindo sexo, me aconselhou e me corrigiu quando necessário. Eu me sentia muito mais à vontade com ela do que com a minha verdadeira mãe que vim a conhecer no último ano.

Eu amava a minha mãe biológica obviamente, com todo o meu coração, eu imaginei e sonhei com ela por muito tempo e sou extremamente grata por ela ter retornado a minha vida, mas confiança e intimidade era algo que se conquistava, não é? E infelizmente ainda não tínhamos atingido esse nível. Nós nos víamos toda a semana, conversávamos sobre assuntos aleatórios, mas sempre que a conversa se dirigia para o Miguel ou a banda eu sentia um tom de julgamento na sua fala, como se eu tivesse cometendo o maior erro da minha vida em me comprometer tão cedo e "perder" meu tempo cantando. Um dia quando a questionei sobre isso, ela apenas me respondeu que temia que eu cometesse os mesmos erros que ela. Entendam que por erros, ela se referia a casar e engravidar cedo. Não falei nada, mas aquela frase me machucou. Não é legal saber que você não passou de um erro na vida da tua mãe. Conversei com o Miguel e ele, como sempre, me fez enxergar o lado bom de tudo isso, me fazendo pensar em tudo que eu tinha e não naquilo que me faltava. Afinal, bem ou mal eu tinha uma mãe agora, um pai que me amava, duas irmãs implicantes que me apoiavam em tudo e Alma que foi a presença feminina que sempre idealizei ter dentro de casa. Me sobravam motivos para ser feliz.

A esperada primeira vez  de Mia e Miguel - MyMNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ