Capítulo 04

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Annabeth

     Acordei naquela manhã, sentindo-me realmente muito bem.
Apesar do desastre e das frustrações, que haviam ocorrido-me ontem, eu não deveria e nem ia permitir que me atingissem.
       Levantei da cama já observando o belo dia que fazia lá fora. Penteei os cabelos, prendendo-os num coque frouxo e desci as escadas.
        Quando estava no último degrau da escada, vi papai vestir seu casaco de frio. A casa estava em completo silêncio.
        — Bom dia, papai! — eu disse.
Papai, que já estava prestes a sair de casa, virou-se de modo a fitar-me.
        — Bom dia, querida.
Olhei por todos os lados, procurando por mamãe.
        — Onde está mamãe?
        — Foi à residência dos Johnson, tomar chá.
Assenti.
        — Pensei que hoje fosse seu dia de folga, papai...
Ele me deu uma piscadela.
         — E é, mas vou buscar Liza e aproveitar a oportunidade para ver Lili.
Sorri.
        — Certo, aproveite a visita.
Ele veio até mim e beijou minha testa.
        — Não vou demorar. Não tens problemas em ficar sozinha?
Fiz que não.
Ele sorriu e depois se dirigiu à porta, saindo de casa.
       Dei meia-volta e olhei mais uma vez pela janela. Estava realmente fazendo um dia muito bonito.
Sorri para mim mesma e depois corri em direção a escadinha que dava acesso ao sótão de nossa casa.
Era lá que eu pintava.
Eu não gostava de plateia enquanto pintava, pois a pintura era para mim,  um momento extremamente íntimo e pessoal.
       A pintura fazia parte de mim, da minha verdadeira essência, e era por isso, que eu prezava a solidão enquanto o fazia.
      Sempre que surgia inspiração, eu corria para o sótão e trancava-me lá por horas.
Soltei os cabelos, e tirei as sapatilhas.
Liberdade... Era assim que me sentia, enquanto pintava... Livre.
Eu não precisava fingir quem eu não era, quando pintava.
Eu podia ser eu mesma... A desengonçada e estranha versão de mim que eu escondia.
Retirei a parte de cima de meu vestido, deixando a pele de meu pescoço e braços expostos.
O sótão era realmente muito quente, fazendo-me soar, deplorávelmente.
       Abri as janelas, fazendo a brisa refrescante de Petersburg atingir aquele escaldante cômodo.
O sótão era repleto por pinturas, todas de minha autoria.
     Peguei a caixa de pincéis e a tela, preparando em seguida, a tinta que seria usada em minha pintura.
Observei todo o ambiente iluminado que era o sótão, e em seguida peguei de uma caixinha, uma flor que eu havia retirado de um dos campos silvestres daqui de Petersburg,  posicionando-a bem ao centro do cômodo, sob uma caixa velha.
E então, comecei a iniciar minha nova tela...

Harry

  
     Acordei com uma terrível dor de cabeça, devida à péssima noite de sono que eu havia tido.
     Levantei-me surpreendentemente cedo, considerando que o sol mal havia nascido, quando o fiz.
     Ontem a noite, Amanda havia feito-me prometer que resolveria o
"problema" com Annabeth.
E antes que percebesse, me vi saindo da propriedade Laurence, indo rumo à residência dos Riggs.
Eu precisava resolver aquela situação de uma vez por todas.
Sabia exatamente o que aconteceria se descobrissem sobre o meu caso com Amanda Smith: seríamos obrigados a nos casar.
Mas caso fizéssemos isto, eu teria todos os meus problemas resolvidos.
Teria uma esposa e o título de Marquês em minhas mãos.
Mas eu não queria casar-me com Amanda.
E eu sabia exatamente o motivo...
Se me casasse com ela, tornaria -me uma cópia fiel de meu pai...
Seria inevitável. Eu não a amava, e sabia que continuaria a me divertir com outras mulheres, caso nos  casássemos.
Eu não queria ser como meu pai... Não queria causar tanta dor a Amanda, como meu pai fazia com minha mãe...
Balancei a cabeça, esvaindo-me destes pensamentos. Tudo daria certo.
    Fui até o estábulo da propriedade, pegando um cavalo emprestado.
Não teria paciência de esperar por uma carruagem e queria resolver este problema o quanto antes.
     Fiz todo o percurso até a residência dos Riggs, sentindo a brisa fria de Petersburg atingir-me em cheio.
Mas que lugarzinho frio!
Mais rápido do que esperado, cheguei ao meu destino.
Desci do cavalo e o prendi próximo a uma árvore.
Olhei para a propriedade a minha frente:
Era uma casa realmente grande, com um jardim rodeando seu território.
Observei atenciosamente a fachada da casa: apesar de grande, era uma casa com adornos realmente simples.
       Bati na porta três vezes e na quarta, já estava ficando sem paciência. Não era possível que eu teria perdido meu tempo, vindo da ala oeste até aqui!
       Toquei na fechadura da porta, e para minha surpresa, estava aberta.
Entrei e dei de cara com uma casa realmente muito agradável.
O piso era de madeira e a mobília, pareceu-me muito antiga, como num estilo retrô.
Chamei pelo nome de Annabeth e  nada... A casa estava em completo silêncio.
Estremeci com a possibilidade de encontrar Laura Riggs ali.
" Que Deus me proteja!", Pensei.
       Dei mais alguns passos pela casa, procurando por algum sinal de vida e mais uma vez, vi-me sozinho.
Quando estava prestes a dar meia volta e sair, vi uma escadinha que dava acesso ao sótão, e sem pensar, subi nelas.
        A cada degrau que subia, via o vislumbre de uma figura à minha frente.
Quando cheguei ao último degrau, parei abruptamente.
Notei que a " figura" era na verdade uma mulher.
De onde estava, podia ver seu perfil.
        Fitei-a atentamente, começando pelos seus pés ( que estavam descalços), e fui subindo os olhos pelo resto do corpo.
Os cabelos eram loiros e cumpridos,  caindo até metade de suas costas.
        Ergui um pouco o olhar para o decote e notei que aquela mulher estava usando apenas o corpete de seu vestido. Franzi o cenho.
Que tipo de mulher usa apenas o corpete do vestido?
Quando olhei para seu rosto, quase caí para trás.
Era Annabeth Riggs...
Arregalei os olhos de surpresa e mais uma vez, fitei seu corpo.
Aquela era a primeira vez que eu via Annabeth sem aqueles vestidos de puritana.
Fixei novamente meu olhar em seu  generoso decote.
Os seios eram bem maiores do que eu imaginava...
        O que chamou minha atenção, todavia, não foram suas vestimentas.
Foi a expressão que vi em seu rosto.
Ela fitava a tela a sua frente com total concentração. Seus olhos brilhavam com intensidade.
Seu rosto tinha um semblante sério, completamente diferente da expressão que ela costumava esboçar no rosto.
Estava linda...
         Observei atenciosamente suas  pequenas mãos traçarem algo por sob aquela tela. Foi neste momento, que ela pareceu notar minha presença.
Seus olhos azuis arregalaram-se e seu rosto alterou-se de surpreso, para complemente horrorizado.
Ao invés de gritar, como pensei que faria, ela atirou um pincel contra mim.
Repito: A maluca atirou um pincel contra mim!
Notei que ela possuía uma excelente pontaria, pois caso não tivesse desviado-me, o pincel teria me acertado em cheio.
       — M-Mas o que diabos você está fazendo aqui?!!! — perguntou-me ela, num tom completamente diferente do que costumava usar.
Franzi o cenho, e ela pôs as mãos sob a boca, ao dar-se conta do que havia acabado de  falar.
        — Bem, vim até aqui para pedir-lhe que não conte à ninguém, o que viu ontem à noite.
Ela piscou, inocentemente.
        — Não sei do que o senhor está falando.
Bufei.
         — Não se faça de boba. Eu a vi.
Ela arregalou os olhos.
         — C-Como foi que o senhor me viu?
Ergui uma sobrancelha.
         — Creio que esta reação deveria vir de minha parte, devido ao fato de que fui eu, quem foi flagrado fazendo algo inadequado.
Ela soltou uma risadinha debochada.
         — Como se alguém como o senhor, tivesse o mínimo pudor...
Sorri.
        — De todas as formas, creio que agora estamos quites.
Ela ergueu uma sobrancelha.
        — Como é?
Sorri, fitando seu decote.
        — Se a senhorita não contar á ninguém sobre o que viu ontem a noite, eu não contarei que vi seus seios.
Ela fixou o olhar no próprio corpo, como se apenas agora se desse conta de que seus seios estavam quase expostos.
Ela corou, mas não como sempre fazia, deixando apenas um leve rubor surgir, desta vez, seu rosto ficou vermelho como tomate.
Achei aquilo encantador.
Ela fitou-me nos olhos, com fúria.
       — Saia daqui...
Sorri.
        — Não posso. Pelo menos não até termos um trato.
Ela bufou.
         — Já não me bastou presenciar seus atos profanos e libertinos, e agora vens à chantagear-me?
Ergui uma sobrancelha.
         — Então admite que viu?
Ela fuzilou-me com os olhos.
Suspirei, acrescentando:
         — Não é chantagem. É um acordo.
Ela permaneceu em silêncio, cruzando os braços por sob os seios.
Ergui uma sobrancelha.
         — Então... Temos um trato?
Ela revirou os olhos.
         — Não quero ter nada a ver com alguém como o senhor.
         — Bem, querida, então creio que temos um problema já que ambos  sabemos alguns podres um do outro.
         — Por Deus... Apenas vá embora! Eu prometo que não direi nada à ninguém! Tens noção do que nos aconteceria, se minha mãe nos visse aqui, juntos?
Estremeci, com a menção à Laura Riggs.
          — Basta concordar que temos um acordo.
Dei alguns passos em sua direção, ficando frente à frente com ela.
Annabeth era realmente uma mulher baixinha: media na altura de meus ombros.
Ergui minha mão para ela, enquanto observava a carranca em que seu rosto se encontrava.
Ela bufou e finalmente tocou a minha mão, apertando-a de leve.
Sorri e desviei os olhos novamente para seu decote. Ela seguiu meu olhar e cobriu os seios.
       — Saia daqui, seu libertino!
Ri, erguendo as mãos em sinal de rendição.
Desci as escadas do sótão e ouvi por sob o ombro, o som de alguma coisa sendo arremessada contra a parede.
Sorri.
       Eu estava enganado com relação aquela mulher...
Annabeth Riggs era realmente muito, muito interessante...

Tinha que ser você - Irmãs Riggs 02Where stories live. Discover now