Capítulo 15

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Annabeth

     Ouvi pelo que contei ser a décima vez, as batidas incessantes de minha mãe à porta.
     — Annabeth! Abra a porta! O que aconteceu? Annabeth, conte-me!!
Eu só queria ficar sozinha. Era pedir demais?!!
Continuei ignorando suas suplicante batidas à porta, na esperança de que me deixasse sozinha, quando ouvi a voz de Liza, conversando com alguém.
Levantei-me abruptamente.
Eu conhecia aquela voz... Era ele.
      Enxuguei as lágrimas de meus olhos e abri a porta do aposento.
Ao fazê-lo, vi mamãe diante de mim. Ela avaliou-me atentamente e perguntou:
     — O que aconteceu...?
Suspirei.
     — Harry está aqui?
Ela assentiu.
Palavras ditas, tratei de desvencilhar-me de minha mãe, descendo as escadas.
      Quando cheguei ao primeiro andar, vi Harry com uma expressão triste no rosto, com Liza.
      Os olhos dele ergueram-se e fitaram à mim, esbanjando completa dor.
"Mantenha-se firme, Annabeth."— lembrei à mim mesma. 
      Liza alternou o olhar entre mim e Harry, com uma expressão intrigada no rosto.
Pigarrei, tentando recuperar a compostura.
      — Mamãe, Liza... Poderiam nos dar um pouco de privacidade, por favor?
Liza levantou-se de onde estava e foi ao encontro de mamãe, que com relutância, atendeu meu pedido.
Cruzei os braços sob o peito, fazendo um tremendo esforço para não chorar.
Harry fechou os olhos com força, parecendo também, lutar contra as suas lágrimas.
Depois suspirou profundamente, e ergueu o olhar.
Seu semblante era de completa desolação.
     — Anna... Precisamos conversar...
Assenti.
     — Eu já sei, Harry. Sua... "Amiga" já fez a gentileza de vir até aqui, e contar-me pessoalmente, hoje mais cedo.
Harry franziu as sobrancelhas.
      — Amanda fez o quê?!
Desviei os olhos para o chão.
      — Não importa, de todo modo...
Ele deu avançou um passo e eu recuei outro.
     — Anna... — disse ele, com os olhos suplicantes—, E-Eu não... Foi um imprevisto e...
Descruzei os braços e elevei o tom da voz:
     — Imprevisto?! Acha que isto foi um mero imprevisto? Como pôde fazer isto comigo, Harry?
As lágrimas que havia tentado evitar, já escapavam por meus olhos.
      — Não! Anna você entendeu tudo errado! Aquilo foi antes de você... Foi antes de nós... Eu não traí você!
Deixei as mãos caírem ao lado de meu corpo, sentindo-me chorar fervorosamente.
      — De quê importa agora, Harry? Já está feito! Você terá que casar-se com ela, Harry...
Ele balançou a cabeça.
      — Não... Eu não... Consigo...
      — Então o que pretendes? Deixá-la desamparada? É seu filho, Harry!
Ele desviou os olhos para o chão e começou a esfregar a nuca, nervoso.
      — Eu sei! Mas... E nós...?
Empertiguei-me.
      — Não haverá um nós, Harry. Deves fazer o que é correto.
Ele fitou-me intensamente.
       — Com correto você quer dizer, trair meu coração?
Fiz que não, com a cabeça.
      — Com correto, quero dizer, casar-se com ela.
Ele avaliou-me atentamente, até acrescentar:
      — Eu te amo, Annabeth...
Desviei os olhos para o chão.
As lágrimas escorriam descontroladas por todo o meu rosto.
      — Eu também te amo... — sussurei—, Mas não posso fazer isso, Harry... Não com uma criança inocente à caminho...
Ele assentiu e continuou a olhar-me com os olhos tristes.
       — Arque com as consequências de seus erros, Harry. E... Por favor, não me procure mais.
Ergui o queixo e acrescentei, decidida:
      — Agora saia, e nunca mais volte.
Lágrimas escorreram pelos olhos dele e hesitante, ele saiu, partindo de minha vida para sempre...
       Quando ouvi o som da porta bater, pude deixar a tristeza consumir-me.
       Comecei a chorar desesperada, sabendo que Harry havia levado consigo, metade de mim.
       Deslizei no chão e não lembro de mais nada, apenas de ter chorado, chorado e chorado...

Harry

      A cada passo que dava, sentia a dor em meu peito apenas aumentar.
Era como se tivesse levado uma facada, no meio do peito... Bem no coração.
      Teria de voltar à Londres o mais rápido possível, para poder... Fazer o que era correto.
Iria casar-me com Amanda.
"Arcar com as consequências de meus erros..."
      Ainda assim, nada tirava-me da cabeça, que teria de deixar metade de mim, ali, com aquela mulher.
Com Annabeth...
      Quando cheguei à casa Laurence, pedi à Amanda que arrumasse suas bagagens. Voltaríamos hoje mesmo para Londres.
       Sem mais delongas, contei toda a verdade para Edward, que respondeu a tudo com um palavrão e um discurso emocional, ressaltando como eu deveria "pensar, antes de agir..."
       Mal sabia ele, que eu estava fazendo exatamente isto agora. Estava agindo com a razão e não com o coração.
       Eu faria o que Annabeth havia dito-me: faria o correto.
Não importava o quanto eu gostaria de contrariá-la e ficar ali, com ela.
      Amanda apareceu em meu campo de visão, com uma subordinada à seu lado, carregando todas as suas bagagens.
      Olhei para frente e vi Edward com olhos penosos. Ele socou meu ombro, nosso legítimo cumprimento e eu sorri, ou pelo menos tentei.
Lilianna estava ao lado de seu marido e fuzilava-me com o olhar.
Eu não a estava julgando; ela tinha  razão de estar brava. Por minha culpa, sua irmã estava sofrendo.
      — Boa sorte... — Edward sussurrou.
       — Obrigado..  — agradeci e dei às costas para aquele casal.
Amanda já estava posicionada em seu aposento na carruagem, quando entrei. Ela dirigiu-me um sorriso que não fui capaz de retribuir.
Pelo menos não estava sendo desonesto.
Eu não estava e nem seria feliz.
Não com ela...
       Dei uma última olhada para a grande propriedade à minha frente, antes do cocheiro iniciar o percurso.
       Eu sentiria saudades de Petersburg.
Sentiria saudades dela...
       Não sei quanto tempo passou-se, até que por fim, pude fechar os olhos. Ao fazê-lo, todavia, foram aqueles olhos azuis que eu vi.
Annabeth Riggs estava tatuada em meu coração e minha alma;
E eu sabia que nada e nem ninguém, seria capaz de tirá-la de lá...

                          *****

      Ao abrir os olhos, vizualizei as belas construções de Londres.
Já estávamos em minha cidade natal;
      Notei Amanda agarrada a mim, tirando um cochilo despreocupado.
Não pude deixar de ficar bravo.
Comigo e com ela...
Eu sei o que você deve estar pensando: Eu era um homem desprezível...
Eu havia destruído o sentimento mais lindo que já havia descoberto em toda a minha vida.
Além de tudo, estava magoando as duas: tanto Amanda quanto Annabeth...
Olhei para a barriga de Amanda.
Aquela criança, eu tinha de ser um bom pai. Eu não podia cometer os mesmos erros de meus pais... Precisava dedicar tempo e amor para ele ou ela...
Meu filho...
Suspirei e afastei os braços de Amanda de mim.
     Quando olhei pela janela, vi que já estávamos diante da casa Hampton.
Ótimo.
Precisava preparar-me para o sermão de meu pai.
O quão irônica a vida pode ser... Há exatamente um mês atrás, eu saí de Londres porque não queria casar-me e agora, eu estava voltando porque ia casar-me...
      O cocheiro parou a carruagem e eu acordei Amanda com leves cutucadas.
       Descemos da carruagem e de onde estava, já era possível ver a marquesa Hampton, correndo até mim.
      — Filho! — disse mamãe, sem fôlego.
Ela abraçou-me apertando e abriu um sorriso enorme.
       Os olhos dela desviaram-se de mim para a mulher que estava ao meu lado.
      — Quem é ela? — estreitou os olhos— , Amanda Smith...?
Amanda assentiu e abriu um sorriso.
Infelizmente, o mesmo não ocorreu comigo.
      — Mamãe, Amanda e eu vamos nos casar.
Mamãe arregalou os olhos.
       — Oh, querido! Não acredito que finalmente vai casar-se!
Permaneci em silêncio e mamãe foi diretamente até Amanha, guiando-a com entusiasmo até nossa casa.
Fiz uma careta, ao pensar na reação de meu pai, ao meu inesperado noivado.
Ele ficaria mais do que satisfeito, ao perceber que seus planos haviam sido cumpridos com perfeição...
Suspirei e olhei para o céu.
      Porquê o céu daqui não era tão límpido quanto o de Petersburg?

Tinha que ser você - Irmãs Riggs 02Where stories live. Discover now