Capítulo 13

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Harry

        Perdi a conta de quantas bebidas eu já havia ingerido. Mesmo com todas elas, eu ainda não havia conseguido espantar a dor que sentia em meu peito.
Estava sentado num lugar isolado do resto dos outros homens que ali, estavam. A diferença entre eu e eles era óbvia: enquanto eles bebiam por puro prazer, eu bebia para afogar as mágoas. Era um maldito hábito meu.
     De onde eu estava, era possível ouvir o som da chuva que vinha do lado de fora. Hoje era realmente um dia muito triste...
     De repente, o som de risadas e conversas cessou, dando lugar à um silêncio desconfortável. Eu estava tão absorto em meus pensamentos e bebidas, que nem me dei ao trabalho de erguer o olhar para saber o que estava ocorrendo.
       Ouvi o som de passos e murmúrios aproximando-se de mim. Como disse  antes, não estava interessado em nada, que não fosse a minha bebida.
       — Harry... — disse uma voz extremamente familiar, bem diante de mim. Era a voz dela...
Seria possível que eu estivesse alucinando? 
O quão bêbado eu estava?
Inesperadamente, senti um toque gélido em meu ombro e ao erguer o olhar, vi Annabeth à minha frente.
Ela estava completamente molhada, com o vestido amarelo todo enlameado e os cabelos loiros desgrenhados.
Arregalei os olhos.
      — Annabeth...? — eu perguntei, ainda incrédulo.
Olhei para seu rosto e percebi que ela tremia de frio.
Levantei-me abruptamente e cedi o colete de minha vestimenta, oferecendo-lhe.
Ela arfou.
       — Harry, eu...
Interrompi-a, avaliando-lhe.
       — O que você está fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa?
Ela respirou fundo e então, ergueu o olhar, fitando-me decididamente.
      — Você estava certo, Harry. Eu sou realmente muito insegura e manipulável. — lágrimas escorreram por seus olhos azuis — M-Mas eu quero que você saiba que estou fazendo pela primeira vez na vida, uma escolha minha. Eu não vou me casar com Frederick, Harry... Porque eu... Porque é com você que eu quero estar.
Ela fez uma pausa, esperando por minha resposta e como nada me veio, ela prosseguiu:
     — Eu quero ser feliz, Harry, e para poder fazê-lo, eu preciso estar livre. Preciso ser eu mesma. Você é a única pessoa que me conhece. Que me conhece de verdade... Então, por favor, me diga que você me perdoa, por favor...!
      Toquei os dois lados do rosto dela, observando atentamente seu rosto. Ela estava com a mesma expressão decidida e intensa que eu vi aquela vez, em que a flagrei pintando.
A respiração dela estava ofegante, provavelmente por estar nervosa.
Ela... Acabara de se declarar...?
Abri um sorriso e notei que automaticamente, ela também esboçou um. Era um sorriso esperançoso.
      — Você está falando sério... Não é? Isto não é um joguinho, certo?
Ela fechou a cara.
      — Por Deus, Harry! Achas mesmo que estou a brincar, com algo tão sério?!
Não pude deixar de sorrir.
Aquela boca atrevida...
Era esta Annabeth Riggs que eu amava.
A Annabeth que chorava descontrolada, que estressava-se com facilidade e que quando estava nervosa, mordia a unha do polegar.
     Toquei sua nuca, e apertei seu corpo gélido junto do meu.
Ela retribuiu o abraço com força, enquanto soluçava.
Beijei o topo de sua cabeça, inalando o cheiro de lavanda molhada, que ela tinha.
      Foi neste momento, que percebi que todos que estavam no bar, nos fitavam com curiosidade.
Com relutância, afastei-a de meus braços e olhei para seus olhos azuis.
     — Vamos sair daqui. Não é um local apropriado para uma moça como você.
Ela assentiu e secou as lágrimas com as costas das mãos.
Saímos os dois de mãos dadas, seguidos pelos olhares curiosos de todas aquelas pessoas.
Quando saímos do bar, notei que ainda chovia.
Suspirei.
     — Vamos ter que esperar a chuva passar. Eu vim de cavalo, e você já está muito molhada, não quero que se resfrie.
Ela abriu um sorriso.
      — Sabe, Harry... Tem uma coisa que eu sempre quis fazer.
Ergui uma sobrancelha.
     — O que é?
Ela puxou minhas mãos e me guiou até o meio da chuva. A chuva caía como pingos de gelo sob nós, mas eu estava realmente muito curioso para saber qual seria o próximo passo dela.
      Ela pegou uma de minhas mãos e a pôs de encontro a sua cintura; Juntou as nossas mãos em uma posição de dança.
Abri um sorriso.
      — Você quer dançar na chuva?
Ela assentiu.
Olhei ao redor e vi que várias pessoas nos observavam.
Voltei o olhar para ela.
     — Annabeth, as pessoas estão olhando...
Ela balançou a cabeça.
     — Eu não me importo...
Passei alguns segundos apenas olhando para a mulher diante de mim, com seus cabelos loiros desgrenhados e seu vestido todo enlameado. De todas as vezes em que a tinha visto, aquela com certeza, era a que ela estava mais bela. Seu sorriso era a coisa mais linda que eu já havia visto. Ela não sorria apenas com os lábios; seu sorriso vinha até os olhos, formando marquinhas ao redor dele.
Abri um sorriso.
     — Como a senhorita quiser...
Ela riu e começamos a valsar no meio da chuva. Sempre que eu a rodopiava, via de soslaio as pessoas que nos observavam, cochicharem.
O melhor de tudo foi que Annabeth não se importou; Ela não desviou os olhos dos meus um segundo sequer. Estava radiante.
      Quando finalmente nos cansamos, eu a levei até onde o cavalo com quem vim, estava. Estávamos ensopados.
Olhei para ela.
Ela tremia, mas ainda assim, não perdia o sorriso lindo. 
       — Acho que é hora de retornarmos. — eu disse e ela assentiu.
      — A casa de Edward fica um pouco longe daqui, mas daremos um jeito.
      — Eu não quero voltar para lá, Harry. Não quero voltar a ver Frederick ou... Mamãe.
Franzi o cenho.
     — Aconteceu alguma coisa entre você e sua mãe?
Ela suspirou.
     — Sim. Bem, o que aconteceu foi que mamãe queria que eu me casasse com... Você sabe quem.
Olhei para os braços dela, e vi que as manchas avermelhadas de ontem, estavam agora arroxeadas.
     — Ela não viu isto? — apontei para seus braços.
Ela desviou os olhos e abraçou-se.
     — Pior que sim...
Eu ouvi certo? Que tipo de mãe era aquela mulher? Até onde ela iria, para poder manipular suas filhas?
Eu devo ter feito uma cara brava, pois os Annabeth fitou-me preocupada e pôs as mãos junto das minhas, apertado-as.
      — Está tudo bem, Harry. Vou tomar minhas próprias decisões agora.
Avaliei seu belo rosto, e depois depositei um beijo em seus lábios.
      — Não vou permitir que ela a manipule. Nunca mais. — eu disse enquanto a abraçava.
Ela afastou-se um pouco e avaliou meu rosto.
     — O que isto quer dizer?
Sorri.
     — Quer dizer— fitei seus lábios —, que eu a tirarei daquela casa e em breve, você vai morar comigo em Londres.
Ela arqueou uma sobrancelha.
    — Em breve?
Toquei seu lábio inferior.
   — Isso mesmo, querida. Mas primeiro precisamos nos casar, não achas?
Ela abriu um sorriso enorme.
    — Estás pedindo minha mão?
Dei de ombros.
    — Por favor, nós dois sabemos que eu não preciso pedir sua mão. Você já está caidinha por mim.
Ela socou meu ombro.
    — Convencido!
Nós dois rimos.
Passamos mais um tempo abraçados, no aguardo até que a chuva cessasse e quando ela de fato o fez, perguntei:
     — Se não quer ir para a casa de Edward, para onde quer ir?
     — Para casa. Para a minha casa.
Assenti.
Ajudei-a a subir no cavalo, e em seguida fiz o mesmo.
Cavalgamos em silêncio o percurso inteiro.
Fiz questão de apertar os braços em torno da cintura dela, como forma de certificar à mim mesmo,  de que aquilo era real. 
Estava seguro de minha decisão: eu tornaria aquela mulher a minha marquesa.
     Não seria mais covarde: Não fugiria do casamento ou do amor.
Eu teria ambos, e seria muito feliz...

Tinha que ser você - Irmãs Riggs 02Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon