Capítulo 17

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Harry

     Um mês...
Fazia um mês desde que eu havia partido de Petersburg.
      Daqui à um dia, ocorreria o jantar de noivado que uniria para sempre Amanda Smith à mim.
      Sendo totalmente franco, foi uma escolha minha, esperar um tempo até que finalmente noivássemos.
O por quê?
Eu tinha esperança de que Amanda estivesse apenas mentindo; que não houvesse bebê algum... mas no final das contas, depois de um mês, já era possível visualizar a pequena protuberância em sua barriga.
Não havia como fugir, ela estava realmente grávida...
Suspirei.
Meu pai ergueu os olhos dos papéis diante de si, e fitou-me.
      — O que aconteceu? Não me pareces entusiasmado. Seu noivado será amanhã, Harry.
Bufei.
Não precisava ser muito esperto para notar que eu não estava feliz.
Eu nem sequer fazia esforço para fingir, que estava.
Estava triste e queria que Amanda soubesse.
Eu sei. Eu estava portando-me como um canalha com ela mas...
O que mais ela podia esperar de mim?
Ela sabia que eu amava outra mulher e ainda assim... Vinha todas as noites para o meu quarto. Havia virado uma rotina, trancar-me em meu aposento já que ela parecia não entender.
       Voltei o olhar para meu pai, que ainda aguardava por minha resposta, com uma das sobrancelhas arqueadas.
       — É óbvio, que não estou entusiasmado, pai.
Ele abriu um meio sorriso.
      — Estás parecendo-se comigo, quando tinha a sua idade. Eu também não queria casar-me, mas veja só! Hoje tenho uma bela família, graças à Margareth.
Revirei os olhos.
      — Claro que sim, pai. Mas sinto em informar que você e eu, somos completamente diferentes, então por favor, não nos compare!
Ele franziu as sobrancelhas.
      — Porque estás dizendo isto?
      — Porque eu amo outra mulher, papai. Não sou como você, que ama apenas à si mesmo.
Ele riu, debochando.
       — Você diz que ama essa mulher, mas mesmo amando-a, deitou-se com outra e bem, cá estamos nós.
Fechei a cara.
       — Você não sabe de nada, pai! O que aconteceu entre Amanda e eu, foi antes de Annabeth!
Ele ergueu uma sobrancelha.
       — Annabeth...? É este o nome da mulher que você ama?
Praguejei-me mentalmente, por ter revelado o nome dela.
Ignorando a pergunta de meu pai, levantei-me da poltrona em que estava sentado e deixei-o sozinho.
       Saí daquele escritório pisando forte. Meu pai conseguia ser muito desagradável quando queria.
      Mal bati a porta atrás de mim, e já dei de cara com minha mãe, que subia às escadas.
Ela sorriu e fiz o possível para retribuir seu gesto. 
      — Filho, era exatamente com você que eu estava querendo conversar.
Assenti e ela ergueu o braço, juntando-o ao meu.
       Descemos as escadas juntos, em completo silêncio. Minha mãe guiou-me até a sala íntima de nossa propriedade e ao chegarmos lá,  fechou a porta, dando-nos privacidade.
Arqueei uma sobrancelha.
Mamãe não costumava agir assim, com sigilo. Como ela mesma dizia, a vida dela era um "livro aberto".
         Mamãe virou-se para mim com uma expressão preocupada no rosto.
        — Filho... Precisamos conversar sobre aquela moça... Amanda.
Estreitei os olhos.
        — Pensei que gostasse dela, mamãe.
Ela deu mais alguns passos, sentando numa poltrona que estava diante de mim.
       — E eu gosto — ergueu os olhos para mim — , Mas você não... pelo menos não da forma como deveria. 
Suspirei.
        — Estás correta mamãe. Mas tanto eu quanto Amanda, temos ciência de que nosso matrimônio...
Mamãe franziu as sobrancelhas e interrompeu-me:
        — Diga-me, meu filho... Quando você desflorou esta moça, ela ainda era pura?
Franzi o cenho.
Em nossa primeira vez, Amanda já não era mais virgem...
Percebendo meu momento de reflexão, mamãe acrescentou:
        — Como podes saber que a criança que ela espera é sua?
Estreitei os olhos.
        — Bom... Eu...
Mamãe suspirou.
        — Não quero que você una sua vida à de uma mulher que está sendo desonesta com você, filho...
Franzi as sobrancelhas.
Amanda não poderia estar mentindo.
Não, não. Ela não faria algo assim comigo... Faria?
Aproximei-me de minha mãe e beijei-lhe as mãos. 
       — Eu entendo a sua preocupação, mas tudo acabará bem, mamãe.
Ela assentiu.
       — Eu só... Não quero que tenhas um casamento infeliz, Harry.
Tarde demais...
Sorri.
      — Não fique triste, mamãe. Em breve terás seu primeiro neto. Era isto o que queria, não era?
Ela balançou a cabeça, em negativa.
      — Não à este custo... Quero sua felicidade acima de qualquer coisa, meu filho...
Como não sabia o que responder, apenas assenti e sorri.
Já estava feito...
Meu futuro já estava selado ao lado de Amanda...
Mamãe continuou avaliarando-me em silêncio, até acrescentar:
      — Qual o nome dela?
Desviei os olhos do chão e fitei-a.
      — O que disse?
Ela tocou meu rosto.
      — O nome dela, filho. Da mulher que você ama.
Franzi o cenho.
Como mamãe sabia que eu amava outra?
Parecendo estar a par de meus pensamentos, ela disse:
       — Uma mãe conhece seus filhos, Harry. E você... — apertou minhas mãos — , está diferente...
        — Diferente...?
Ela assentiu.
        — Estás mais... Maduro. Não sei, você está realmente diferente de um mês atrás. Algo nos seus olhos... Na sua expressão... Eu sei o que é capaz de fazer isso, com alguém: o amor.
Sorri.
        — É Annabeth. Annabeth Riggs, o nome dela. Tenho certeza que você iria adorá-la, se a conhecesse.
Ela avaliou-me e então murmurou: 
        — Se minhas suspeitas estiverem corretas, eu a conhecerei em breve...
Franzi as sobrancelhas.
       — O que disse?
Ela balançou a cabeça e levantou-se.
       — Nada. Vamos, o jantar já deve estar pronto.
Assenti e saímos os dois da sala.
     Quando chegamos à sala de jantar, demos de cara com dois convidados inesperados: William Wallace, o noivo de Catherine e Juliet Smith, a irmã caçula de Amanda.
      Mal chegamos, e uma das criadas já tratou de servir o jantar.
      O jantar inteiro foi realmente desagradável, com William falando bobagens, como a diferença entre "um colete e uma camisa..."
Por Deus, mas que homem mais incoveniente!
       Arrisquei um olhar para a frente, visualizando Amanda comer com muito entusiasmo. O prato dela estava realmente cheio, mais uma comprovação de sua evidente gravidez.
      Desviei os olhos dela, para minha mãe, que estava sentada comumente ao lado de meu pai. Ela observava a barriga de Amanda com tamanha intriga. Não acabou por aí: até mesmo Juliet estava por frequentemente, lançar olhares intrigados para a barriga de sua irmã.
Franzi as sobrancelhas.
O que estava acontecendo...?

Annabeth

     Eram cerca de 17 horas, quando ouvi um batido à porta.
Não queria atender. Definitivamente, não queria fazê-lo, mas tanto mamãe, quanto Liza, estavam ocupadas.
Não havia escapatória...
Respirei fundo, e posicionei-me diante da porta.
      Ao abri-la, vi Rachel Jonhson, a mulher mais fofoqueira de Petersburg, diante de mim.
Os olhos dela arregalaram-se à medida em que ela  avaliava-me minuciosamente.
      — Annabeth...? — perguntou ela, aparentando incredulidade.
Lutei contra a vontade de revirar os olhos.
Eu sabia, que minha aparência não estava tão impecável, como costumava estar, mas por Deus! Não era para tanto!
Fiz força para abrir um sorriso.
      — Boa tarde, senhora Jonhson.
Ela piscou e saiu do transe.
      — Oh! Sua mãe está? Pensei em nos reunirmos para um chá da tarde e...
Sem esperar pela continuação de sua resposta, gritei:
      — Mamãe! Visita para você!
Virei-me apenas  para visualizar Rachel fitar-me horrorizada.
Isso mesmo.
Desde que Harry havia ido embora, eu acabei por decidir parar de me esconder detrás de uma máscara.
Eu estava agindo como eu era de verdade, sem importar-me com a opinião alheia.
De todo modo, tudo indicava que eu passaria o resto de meus dias solteira então... Que mal havia em ser livre?
Ainda era difícil pensar em Harry, ou nos planos que eu já havia criado para nós, mas estava fazendo o possível para reerguer-me.
Se estava tendo sucesso?
Não. Mas pelo menos, fingia fazê-lo.
Não parecia-me justo, que a minha família compartilhasse a mesma dor que eu.
      De fato, pelas manhãs, eu até conseguia atuar com sucesso, ajudando nos afazeres de casa e até mesmo rindo uma vez ou outra.
Mas a noite, quando estava sozinha, era difícil fingir. Era durante a noite, que as lembranças atingiam-me.
Era a noite, que eu permitia à mim mesma, agir como realmente sentia-me por dentro.
Meu peito doía e clamava por ele...
Mais do que dor, eu sentia saudade...
Constantemente, a mesma pergunta me vinha à cabeça: O que ele estaria fazendo agora? Será que estaria com ela? Já havia casado-se...?
      Era com estas dúvidas, que eu deitava-me todas as noites e era com estas mesmas dúvidas, que eu acordava todas as manhãs.
      A minha vida era assim agora... Sem espectativas, sem sonhos, sem planos... Era apenas o agora, que importava.
     Eu esperava ser forte o suficiente para pelo menos não causar tanta dor à meus familiares.
      Queria que essa dor fosse minha e somente, minha...

                         

      
  
      

Tinha que ser você - Irmãs Riggs 02Where stories live. Discover now