1 Dores e Traumas

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Tudo que passei poderia ter sido evitado se eu tivesse dado ouvidos aos conselhos de meus pais, mas eu queria ser dona da minha vida, quando nem mesmo tinha ideia do mundo. Casei aos quinze anos, deixei meu sonho de ter uma festa e lua de mel em Paris para trás, para viver um amor que eu jurava que era para o resto da minha vida, mas tudo o que tive foi dor e traumas.

Henrique havia me destruído de várias formas e ele sentia prazer naquilo. Era difícil sair daquela relação tóxica, onde eu não tinha estabilidade financeira e muito menos para onde ir, meus pais não falavam comigo, então estava perdida. Meu marido me fazia acreditar que só ele ia me querer, ninguém nunca ia olhar para uma mulher gorda e que não é capaz nem de gerar um filho direito.

Minha doce Mariana havia me deixado antes mesmo de ter saído da minha barriga, porque Henrique não quis me levar a maternidade na hora que eu pedi e nem me deu dinheiro para que eu chamasse um carro de aplicativo, tive que esperar a boa vontade dele,mesmo morrendo de dor. Mariana veio ao mundo já roxinha, o médico a colocou sobre o meu peito, só para que a gente tivesse um primeiro, único e último contato. Não era minha culpa, mas Henrique me fazia acreditar que era sim, que eu era fraca e só dava desgosto. Minha filha foi enterrada e nem pude me despedir.

Algumas semanas após a minha alta, decidi que procuraria um emprego, aceitaria o que tivesse, só não podia mais permanecer com Henrique mandando em mim ou me mantendo presa naquela casa, qualquer hora eu iria estar morta, seja por ele, ou por mim mesma.

Não foi fácil, andei debaixo do sol por horas a fio, nenhum local queria contratar alguém sem experiência ou com ensino médio incompleto. Me arrependia amargamente de ter deixado a escola, cheguei a acreditar que realmente merecia tudo de ruim que acontecia na minha vida.

Mas quando eu menos esperei, vi que uma loja de doces estava contratando e não precisava de experiência, pois a dona ensinaria tudo. Dona Micaella era um amor de pessoa, acho que não era muito mais velha que eu. Me ofereceu água e fez uma entrevista rápida, no balcão mesmo, pegou meu currículo, viu que eu não tinha terminado a escola mas não disse nada a respeito, mas olhou no fundo dos meus olhos, sorriu e falou:

"Débora, você começa amanhã"

Parecia que ela já sabia o que estava acontecendo comigo. Meu coração se encheu de felicidade.

Contei a Henrique sobre o emprego, ele não recebeu a notícia com felicidade, já esperava isso, ele nunca quis que eu fosse independente,discutimos um pouco, ele apertou meus braços deixando uma marca ali, mas logo me soltou e saiu de casa me deixando só.

Naquela noite ele não voltou para casa. No meu primeiro dia de trabalho ele não estava lá nem para dizer um bom dia. Até a hora que saí para o trabalho Henrique não havia voltado.

- Bom dia Débora, ansiosa?

- Muito e nervosa também.

- Fica tranquila,já disse que vou ensinar você.

- Dona Micaella, muito obrigada.- agradeci sendo sincera.

- De nada, e por favor, não me chama de Dona Micaella, só Micaella ou Mica.

- Tudo bem.

- Ah, esqueci de apresentar vocês.- ela apontou para a menina que estava no balcão.- Sabrina, essa é a Débora, Débora, Sabrina.- nos apresentou.

A menina parecia ter a minha idade, e era amigável, tomara que ela seja tão legal quando a nossa chefe.

- Oi .- falamos ao mesmo tempo e sorrimos.

Micaella me ensinou como a loja funcionava, desde a recepção até a cozinha, me deu uma lista com códigos dos produtos e me explicou sobre as montagens de caixas de presentes. Após as explicações, ela entregou um saco plástico com um uniforme rosa, com a marca da loja.

Salvação// Pedro Guilherme✅Where stories live. Discover now