5 Noite de cão

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- Quem era no carro?- Henrique perguntou irritado.

Meu marido me esperava próximo ao portão da nossa casa, me dando um pequeno susto.

- Era motorista de aplicativo.- respondi passando por ele.

- Onde você estava até essa hora? Com essa roupa? Eu sabia que esse trabalho não era bom pra você.

- Henrique, por favor, nem começa. Eu fui trabalhar e depois fui para o chá de bebê de uma das clientes da loja.

- Você está mentindo.- me puxou pelo braço.- estava com quem? Tá achando que vou cair nesse papinho de carro de aplicativo? Débora, quem era aquele cara e onde vocês estavam?

- Eu já disse pra você, para de apertar meu braço que está me machucando.

- Você é muito sonsa.- soltou meu braço com violência.- Não engoli essa história.

- Quer ligar pra minha chefe? Me deixa em paz porra, vou ficar me justificando toda hora pra você não, você sai por aí e eu não fico te enchendo.

- E você nem tem direito de me encher, até porque eu te sustentei todo esse tempo.

Ele jogou pesado. Mordi o lábio para dispersar a vontade de chorar. Henrique me fazia muito mal e eu só queria forçar para aguentar mais um pouco.

Não o respondi e passei para dentro de casa, indo direto para o quarto.

- Não dá as costas pra mim não caralho, vai me contar a verdade ou eu vou ter que vigiar você e descobrir por mim mesmo?

- Me vigia então, ao contrário de você, eu possuo caráter e mesmo que mereça, não te traí .

Comecei a tirar a roupa para tomar um banho.

- Onde estão suas coisas?

- Na casa da minha colega Sabrina, me arrumei lá.

- Débora, essa história só se complica.

Revirei os olhos  irritada.

Ele foi rápido em pegar meu rosto, apertando minha mandíbula.

- Não revira os olhos pra mim.

- Henrique, me solta.- pedi.- Eu tô falando a verdade pra você.

- Por que será que eu não acredito?

- Aí já não é um problema meu.

Ele me empurrou me fazendo cair na cama.

- Eu vou ficar de olho em você Débora, fica esperta.

Chorei de ódio, de arrependimento, de nojo e por me submeter a isso por tanto tempo, se a minha filha não tivesse falecido, talvez ainda ficasse mais presa a esse inferno .

Tomei meu banho aos prantos, chorando copiosamente e lamentando por tudo que vinha sofrendo.

Após vestir meu pijama, caí na cama totalmente exausta, não demorei muito a pegar no sono e nem vi quando Henrique se deitou ao meu lado.

...

Sabe aquela sensação de estar sendo vigiada? Foi assim que acordei no meio da madrugada e eu não estava errada. Henrique estava sentado na cama me olhando.

- Que susto caramba.- coloquei a mão no peito sentido meu coração acelerado.

- Susto é?- ele sorriu de forma maliciosa.

- Claro, tá sem sono?

- Sim, pensando nos chifres que levei.

- Você não levou chifre Henrique, pelo amor de Deus.

- Será?

- Eu não faria isso.

- Faria sim, porque você é uma vagabunda.

- Ah, vai se foder.

Puxei a coberta e me virei para o outro lado da cama. Besteira a minha, senti uma pressão na minha costela, tão forte que me fez ficar com falta de ar por alguns segundos. Henrique havia me dado um soco.

- Cara você me bateu mesmo?- perguntei chorando.

Me levantei da cama para tentar sair de perto dele.

- E vou bater mais se não me contar a verdade.

- Eu já falei, não traí você, eu sou fui a um chá de bebê, só isso.

Corri para abrir a porta do quarto mas ele havia trancado. Estava com medo do que ele faria comigo, estava com medo de morrer.

- Não mente pra mim.- ele bateu minha cabeça contra a parede.- Só estou pedindo a verdade.- e mais um soco, mas dessa vez foi em meu rosto.

- Henrique, pelo amor de Deus, não me bate, estou ficando com medo de você.

- E é pra ficar mesmo,só assim vai me respeitar e respeitar nosso casamento.

- Você nem me respeita e quer cobrar isso?

- Eu não te respeito?- pôs a mão em meu pescoço.- Débora eu dou tudo a você, te trouxe daquele sítio que seus pais moram e te dei vida digna.

- Vida digna?- sorrir com raiva.

Levei um tapa na boca,senti o gosto de ferro.

Resolvi não reagir mais  e deixar ele fazer o que quisesse, se não me matasse, estaria no lucro.

O que meus pais não me bateram, Henrique o fez. Ele apanhou o cinto que estava pendurado atrás da porta e me deu uma surra, deixando meu corpo todo marcado.

Ele ainda voltou a se deitar e disse que tinha feito aquilo por amor. Mas o amor não machuca, eu sabia disso.

Fiquei sentada no chão até o dia amanhecer, encarando aquele que um dia julguei ser o amor da minha vida e que hoje só me causa repulsa. Pensei em fazer muita besteira, mata-lo sufocado, ou pegar uma faca na cozinha, mas eu não ia estragar minha vida desse jeito.

Henrique levantou, se arrumou e me deu um beijo na testa antes de sair.

Meu plano ia ser executado antes mesmo de eu receber dinheiro, não dava mais para continuar assim, dessa vez foi uma surra, da próxima minha mãe ia ter que reconhecer meu corpo no IML.

Abrir o guarda roupa e tirei de lá todas as minhas roupas e pertences mais importantes, inclusive a bolsa de maternidade que tinha as roupinhas de Mariana. Arrumei as vestimentas na bolsa que Henrique usava para viajar.

Tomei meu banho bem rápido, a água fez alguns machucados arderem. Nem tive coragem de olhar no espelho o estrago que Henrique havia feito em mim.

Não me preocupei em deixar bilhete, nem nada. Só quis sumir.

- O que aconteceu com você?- Sabrina me encarou assustada ao me ver entrando na loja.- Débora, o que fizeram com você?- ela veio ao meu encontro desesperada.

- Me ajuda.- pedi aos prantos e a abracei procurando algum conforto. Eu precisava de um carinho depois da noite de cão que tive.

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Violência contra a mulher é crime, disque 180 para denunciar.

O capítulo foi forte, mas tem uma grande importância, não só para a fanfic mas para a vida. Não aceite isso ,ao menor sinal, caia fora.

Não esqueçam de deixar uma estrelinha e um comentário se puderem ❤️

Salvação// Pedro Guilherme✅Where stories live. Discover now