Capítulo 7

2.2K 239 108
                                    

Bianca tinha sete anos quando seu pai foi embora. Ela estava sentada nos degraus da frente de sua pequena casa, no Complexo da Maré, observando dois irmãos do outro lado da rua brincando de bola. Ela lembrava que Ruan, o mais novo dos dois, empurrou seu irmão em uma poça de água que estava lá por conta de uma longa semana de chuvas. Eles estavam brigando e se socando, até que mãe deles veio correndo de dentro de casa acenando com um cinto de couro na mão. Os meninos, em seguida, foram para direções opostas, rindo enquanto corriam.

Bianca assistiu a mãe dos meninos enrolar o cinto nas mãos (de uma forma que fazia ela se lembrar de um caracol) e voltou para casa. Sem nada a mais para assistir, Bianca foi obrigada a ouvir. Atrás dela, dentro da porta de sua própria casa, ela ouviu sua mãe e seu pai brigando e seu irmão chorando. Então, de repente, tudo parou.

No silêncio repentino, o som da porta se fechando soou mais alto do que de costume. Ela ouviu passos do seu pai se aproximando e de um grito sendo abafado pelo baque da porta. Ele caminhou até ela e olhou-a pela última vez. "Sinto muito, Bia." Ele disse, antes de se afastar.

A partir daquele dia, a única forma de comunicação que ela tinha com o seu pai através de cartas, que eventualmente se transformaram em e-mails, e cheques que ele mandava todo mês. Ele era fiel nas suas contribuições financeiras de um jeito que nunca foi durante o casamento com a sua mãe. Ela não conseguia odiar o seu pai, Bianca sabia, mas ainda assim também não conseguia perdoá-lo. Quatorze anos não foram o suficiente para curar essa ferida, e talvez toda uma vida não fosse capaz.

O último e-mail que ele havia mandado estava a encarando na tela do computador, e Bianca leu e não respondeu. Ela estava bem? Claro. Tinha recebido o último cheque dele? Sim. Quais era as novidades? Bem, ela acabou de descobrir que seu meio-irmão é gay, nada demais.

"Você parece feliz hoje, para não dizer o contrário." Mariana disse entrando no quarto de Bianca e se sentando de pernas cruzadas na cama. "Dever de casa?"

"Pai."

"Ah." Mariana assentiu abrindo a lata de refrigerante que estava segurando. Depois de um longo gole, ela perguntou: "Quais as novidades da família sobre você-sabe-quem revelando que ele é você-sabe-o-quê?"

Bianca suspirou enquanto colocava o notebook ao lado dela na cama e se inclinava para frente. "Eu tenho certeza que eles estão na fase de completa negação. Minha mãe ligou mais cedo e nem sequer o mencionou. É como se não tivesse acontecido nada."

"Então eles vão fingir que ele não é gay?"

"Eu realmente não sei."

"Você já falou com o Miguel?"

"Não. E honestamente? Eu não tenho ideia do que falar pra ele."

"Eu tenho certeza que ele não se importa com o que você vai falar, contanto que você o apoie." Mariana inclinou sua cabeça para o lado. "Você o apoia, né?"

Bianca olhou diretamente para a sua melhor amiga. "É claro que sim! É só que... é o Miguel, sabe? Eu simplesmente não consigo imaginá-lo... você sabe..."

"Dando uns amassos em—"

"Aaah!" Bianca tapou os ouvidos até que tivesse certeza que não ouviria mais nada. "Não foi isso que eu quis dizer. Eu só não consigo imaginá-lo sendo... gay. Ele é apenas o Miguel, meu irmãozinho ne-"

"Extremamente gostoso..."

"Nerd."

"Porque os mais lindos são sempre gays? Como é que a raça humana vai sobreviver se só os feios estiverem se reproduzindo?" Ela fez uma pausa. "É lógico que não é o nosso caso."

The Blind Side of Love (Rabia version)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora