Capítulo 32

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Bianca olhou para a hora em seu celular enquanto saia do prédio da faculdade. A aula terminou cedo, pra variar. A obsessão de seu professor com um certo programa de TV que passava terça à noite, fazia a aula dele ser realizada em velocidade turbo.

"Ei, linda." disse uma voz perto de seu ouvido e Bianca se virou para ver Juliano parado ao lado dela.

Ela sorriu. "Ei, estranho." disse ela, enquanto ele andava ao lado dela. "Faz tempo que não te vejo."

"Eu queria mandar mensagem dizendo 'oi', mas rolou aquela coisa de férias em família, sabe? Como estão as suas aulas neste semestre?"

Ele cortou o cabelo e fez a barba, Bianca notou. Ela notou que isso acentuava mais ainda seus traços bem definidos. "As aulas de Arte e Cultura Contemporânea vão acabar comigo. Eu tenho certeza disso. O resto está tranquilo. E você?"

"Muitas disciplinas eletivas. Estou amando Fundamentos de Mídia, no entanto. Optei por Arte Digital."

"Algo ousado para um escultor." Ela sorriu. "Você está indo para a aula?"

"Eu tenho aula de psicologia em duas horas." ele disse. "E você?"

"Eu acabei por hoje, felizmente. Vou me encontrar com Mariana no Aterro do Flamengo. Ela te disse? Ela está participando da gravação de um filme lá."

"Sério?" Ele parecia impressionado. "Isso é incrível. Eu não falo com ela faz um tempo."

"Sim, eu acho que hoje é o último dia. Vou ser o par dela numa festa de encerramento das gravações."

"Mariana tem bom gosto." Ele sorriu de uma maneira doce, e de alguma forma Bianca quis desviar o olhar, sentindo-se tímida de repente.

"Eu vou indo, então." Bianca disse a ele.

"Eu vou pegar algo para comer antes da aula. Devíamos sair juntos em algum momento." ele disse, parecendo esperançoso.

"Isso seria bom. Você me manda mensagem?"

"Conte com isso."

Eles seguiram em direções opostas e Bianca olhou para o céu estrelado enquanto andava. Apesar de seu amor pelo verão, ela admitia que estava um pouco exausta do calor sufocante. Era apenas a primeira semana de fevereiro, mas ela já estava ansiosa pelo outono.

O telefone começou a tocar em algum lugar dentro de sua bolsa. Ela encontrou o aparelho depois de um tempo e olhou para o número desconhecido na tela. "Alô?"

"Olá, esta é Bianca Andrade?" perguntou uma voz feminina.

"Esta sou eu, bem, sou ela". Bianca revirou os olhos para si mesma. "Como posso ajudar?"

"Eu sou Gizelly Bicalho, assistente de Rafaella Kalimann. Você pode falar agora?"

Bianca parou em seus passos de repente e quase foi atropelada por um carro. Ela saiu do caminho e rapidamente disse: "Ah, sim! Claro. Quer dizer, eu posso falar."

"A Srta. Kalimann gostaria de saber se você ainda está interessada em contribuir com a sua arte no novo apartamento dela?"

"Sim, claro. Eu adoraria." Bianca revirou os olhos de novo, sabendo que soava como uma idiota.

"Ótimo. Você estaria disponível para encontrar com ela em algum momento essa semana?"

O estômago de Bianca vibrou com a expectativa de encontrar a atriz. "Hum, claro. Eu tenho aula, mas talvez depois..." Ela fez uma pausa e depois disse: "Eu estou livre na sexta-feira."

"Pode ser então. Que tal sexta-feira às duas da tarde?"

"Ótimo."

"Eu vou te enviar uma mensagem com o endereço. Obrigada pelo seu tempo, Srta. Andrade."

"Até." Bianca tirou o telefone de sua orelha e balançou a cabeça. Um minuto depois, uma mensagem chegou com os detalhes do compromisso e Bianca olhou para o aglomerado de letras e números com uma leve descrença.

Ela bloqueou o celular e jogou-o de volta em sua bolsa. As mãos dela de repente estavam frias e ela as esfregou por um momento antes de colocá-las dentro de seus bolsos da calça. Em seguida, correu em direção à estação de metrô.

Em algum lugar ao longo do caminho ela percebeu que o telefonema que ela havia antecipado e temido, tinha finalmente vindo. Ela não se esqueceu de mim, Bianca pensou, enquanto descia as escadas em direção ao metrô.

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Rafaella olhou com expectativa para Gizelly no momento em que sua assistente desligou o telefone. "E então? O que ela disse? Como ela soou?"

Gizelly levantou uma sobrancelha, parecendo entretida enquanto largava o telefone no balcão da cozinha.

"Ela parece apavorada." Ela olhava para Rafaella seriamente. "Tem certeza que você pensou sobre isso direito?"

"Sim." disse Rafaella. "E, digo sim, querendo dizer, claro que não. Se eu tivesse pensado nisso direito eu não teria feito." Ela respirou fundo. "O que você quis dizer com 'apavorada'?"

"Só isso."

Rafaella franziu o cenho. "Será que eu pareço intimidante? Eu não quero intimidá-la."

"Ah, boa sorte com isso." Gizelly balançou a cabeça e olhou em volta. "Eu amo esse apartamento."

Rafaella permitiu a mudança de assunto e examinou os arredores. Ela tinha se apaixonado pelo apartamento no segundo em que ela tinha visto as fotos. Ela amava os pisos de madeira, as janelas do chão ao teto, a arquitetura da cozinha, a vista deslumbrante de frente pra praia. Ele custou quase tanto quanto sua mansão em São Paulo e valeu a pena cada centavo. "Você acha que ele parece luxuoso demais?"

Gizelly olhou para ela com curiosidade. "Você está preocupada com o que Bianca vai pensar?"

"Não." Rafaella mentiu. "Ok, talvez. Eu só não quero que ela pense que eu sou esnobe."

"Rafaella, eu duvido que ela pense que você mora em uma kitnet." Gizelly olhou ao redor novamente. "Além do mais, você não tem mobília ainda. A única coisa que parece é que é... vazio."

Rafaella sorriu. "Como uma tela de pintura."

Gizelly revirou os olhos. "Ok, depois dessa, eu vou embora. Tenho que terminar minha mudança antes que Daniel chegue aqui amanhã."

"Divirta-se."

Gizelly desapareceu de vista e alguns segundos depois, o som da porta ecoou pelo apartamento. Rafaella deixou a quietude acomodar antes de romper o silêncio com seus movimentos. Ela subiu a escada que levava ao seu quarto e caiu na cama. Ela ligou o som e escolheu a trilha sonora para a noite.

Rafaella não tinha trazido muito ao Rio de Janeiro. A cama era nova. Tinha sido entregue antes dela chegar. O aparelho de som, a SmartTV, as mesas de cabeceira, tudo isso ela tinha comprado nos dias seguintes à sua chegada. Era como se o Rio representasse um novo começo.

Começou a tocar Giulia Be, bem no momento que o celular de Rafaella acendeu com uma notificação, e ela o pegou na mesa de cabeceira pra verificar o que era. Ela tinha apenas um SMS. De Bianca. Bianca lembrou que ela não tinha whatsapp, então enviou um SMS, como se elas estivessem na década passada.

R. K. realmente ligou. Mais ou menos. Detalhes mais tarde. Saindo para uma festa c/ estranhos.

Rafaella sorriu e respondeu.

Divirta-se :)

Ela deixou o telefone escorregar de sua mão para a cama. Ela queria fingir que não estava petrificada pelo fato de que Bianca iria ao seu apartamento. Ela queria fingir que ela e Rafa eram pessoas completamente diferentes e que ela não estava realmente mentindo para ninguém, exceto para si mesma.

Mas nada disso era verdade.

Bianca entraria em seu apartamento em poucos dias e Rafaella Kalimann estaria lá para recebê-la. E em algum momento, de preferência antes das coisas ficarem mais complicadas do que já estavam, ela teria que contar a verdade.

Como ou quando, Rafaella não tinha ideia. 

The Blind Side of Love (Rabia version)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora