Capítulo 15

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Bianca batia a ponta do lápis distraidamente contra o seu caderno que estava aberto na sua frente, certa de que de alguma forma, a batida rítmica a ajudaria a se concentrar. Ela leu três frases antes de seu olhar vagar pela cozinha novamente. O relógio do micro-ondas mostrava 19:49 e ela ficou encarando até que os números mudassem. Apenas dez minutos haviam se passado desde que ela começou a estudar e ela já estava ansiosa para fazer outra coisa.

O apartamento estava silencioso, exceto pelo suave zumbido de seu notebook, e apesar da sua falta de atenção para estudar, ela não conseguia parar de pensar sobre as palavras na tela. Embora ela ainda tivesse que responder, Bianca ainda não havia fechado o e-mail que tinha recebido de Rafa. O e-mail lhe forneceu algo para pensar durante seus momentos de procrastinação, e problemas sobre amor, vida e relacionamentos pareciam muito mais interessantes do que equações idiotas.

Bianca olhou para o relógio novamente, 19:51. Já estava perto de oito da noite, ela reparou enquanto fechava o caderno de matemática. Ela ainda tinha muitos dias antes da próxima prova. Aliviada, e se sentindo produtiva, colocou o notebook mais perto e empurrou o caderno para longe dela.

Depois de pegar uma garrafa de suco na geladeira, ela se sentou e começou a escrever sua resposta.

Querida Rafa,

Eu só tive um relacionamento, e eu certamente não sou uma expert no 'amor'. Eu não lembro exatamente como eu e o Diogo ficamos juntos. Eu lembro do básico, de onde e quando nos conhecemos, mas eu não consigo me lembrar do momento exato em que passamos de estranhos para amigos e depois para mais do que isso.

Tudo o que eu sei é que nos conhecemos em uma galeria de arte a uns anos atrás. Minha melhor amiga, Mariana (minha colega de quarto), achou que seria divertido entrar de penetra numa festa beneficente, que foi oferecida por uma artista totalmente superestimada aqui do Rio de Janeiro, em uma galeria de arte igualmente superestimada. Eu lembro que nós nos vestimos com a roupa mais chique nós tínhamos, e que Mariana me fez ensaiar um 'script' que nos faria entrar na festa. Nós ensaiamos as 'falas' no metrô. Eu acho que é aqui que eu te conto que minha amiga é uma atriz. Nós duas somos o verdadeiro clichê de novela, né? Artista persistente, a atriz esperançosa...

Enfim, eu achei que a ideia da Mariana era histérica e ridícula, e eu acho que só concordei em ir porque eu nunca imaginei que nós realmente conseguiríamos entrar...

E o que aconteceu foi que o cara que conferia os convites era um velho amigo de escola de Mariana, e ele nos deixou entrar. É meio estranho o jeito que as coisas acontecem, né?

Eu nem preciso dizer que o Diogo estava lá. A família dele é da elite do Rio de Janeiro. Eles estão em todo lugar que realmente importa, e com eles, Diogo.

Eu estou tentando lembrar o momento exato que nos conhecemos, mas não consigo direito. Eu não lembro se estávamos olhando para alguma peça ou só estávamos perto de alguma peça, mas eu lembro que ele sorriu para mim. Eu não lembro do que a gente conversou, talvez porque eu estava com medo de ser pega no flagra. Mas eu me lembro de que quando ele olhou para mim, eu fiquei muito nervosa e pensei, "Droga, ele já percebeu que eu não sou daqui..."

Mas ele só queria conversar sobre o quão chato aquela festa era e que os seus pais o haviam forçado a ir. Foi uma conversa tranquila e eu comecei a relaxar, esquecendo sobre a festa e do fato de que Mariana havia desaparecido dentre a multidão e me deixado sozinha.

Eu nem posso dizer que eu achava que aquilo daria em alguma coisa. Era só uma conversa, e eu imaginei que no momento em que a gente saísse do assunto em questão, ele daria um sorriso e iria embora.

The Blind Side of Love (Rabia version)Where stories live. Discover now