Capítulo 10

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Rafaella passou grande parte da sua vida se questionando sobre sua mãe. O que ela teria sido se estivesse viva? Como ela mesmo, Rafaella, seria? Será que as coisas seriam diferentes? Será que ela seria mais feliz?

Será que elas seriam uma família perfeita se Genilda tivesse vivido? Ou será que seus pais teriam se cansado um do outro e teriam se divorciado?

Rafaella passava grande parte do seu tempo imaginando um passado diferente. Ela só conseguia pensar na possibilidade de que ela seria uma pessoa melhor se sua mãe estivesse viva; sua mãe que morreu quando ela tinha apenas quatro anos, que viveu na memória de Rafaella apenas pelas histórias que sua avó costumava contar.

"Ela gostava muito de fotografia," sua avó disse uma vez, quando Rafaella tinha dez anos e não tinha ideia de como o assunto havia surgido. Elas estavam sentadas na sala de estar da casa de sua avó, bebendo suco e montando um quebra-cabeça de floresta. Ela lembrava da maneira em que sua avó havia se recostado na cadeira, com um grande sorriso no rosto. "Sua mãe, ela amava tirar fotos. Ela gostava de fotografar tudo: animais, crianças, uma bola de poeira no chão..."

Rafaella lembrava que tentou imaginar sua mãe apontando a câmera para alguma coisa, apertando o botão, aguardando o flash. Ela tentava imaginar uma imagem perfeita do rosto de sua mãe, usando como auxílio algumas fotos, mas nunca conseguia.

Ela não se lembrava de muita coisa, não tinha muita concepção sobre a ideia de vida e morte, da ideia de Céu, da ideia que sua mãe havia partido. Lembrou, ou achava que havia lembrado, de ter segurado a mão de seu pai no cemitério, observando-o chorar. Ela se lembrava dele a pegando no colo, a abraçando forte. Ela considerava aquele momento como um marco em sua vida, o momento exato que sua vida começou a mudar e que ela precisou escolher um caminho.

Relembrar o passado acabou se tornando um passatempo para Rafaella. Ela gostava de reviver as histórias de sua vida, andar sobre os passos das decisões do passado. Ela não se lembrava de tudo, não tinha certeza se algumas coisas que ela lembrava haviam realmente acontecido ou se seus devaneios haviam corrompido as frágeis fronteiras da realidade do passado.

Ela se lembrava de dizer para a sua avó que queria ser atriz. Para Rafaella, parecia a maneira perfeita de ser tudo o que queria de uma única vez. Agora, prestando mais atenção e olhando por outro ponto de vista, ela reconheceu que também era a maneira perfeita de ser absolutamente nada. Porém sua avó sorriu, olhando para baixo para poder encarar Rafaella: "Você pode ser tudo o que você quiser Rafaella. Tudo o que você quiser."

Foi por conta da sorte, Rafaella admitia, que ela havia conseguido deslanchar nos comerciais. Mas foi o apoio de sua avó, a ausência de seu pai, o casamento dele com outra mulher, o nascimento de sua meia-irmã, que a fez seguir em frente. Para frente e para o estrelato. Em algum momento durante essa jornada, coma permissão do pai e aprovação da avó, Rafa Freitas se tornou Rafaella Kalimann.

"Como você se sente?" Sua avó perguntou depois que ela assinou todos os papéis.

"Como se eu estivesse fazendo aniversário." Rafaella havia respondido. "Você sabe que alguma coisa mudou, mas você continua a mesma."

"Bom," sua avó havia dito. "Bom."

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Capítulo bem pequeno pra detalhar um pouquinho a vida sofrida da nossa protagonista.  

Já volto.

The Blind Side of Love (Rabia version)Where stories live. Discover now