Capítulo 50

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O dia de voltar pro Rio chegou mais rápido do que Bianca esperava. Quarta-feira foi uma prévia de como a vida das duas como um casal poderia ser: acordar juntas, tomar banho juntas, comer o café da manhã na beira da piscina, caminhar pelo Ibirapuera, fazer amor em cada oportunidade. Bianca queria aquela vida. No mínimo, ela queria mais dias de momentos ininterruptos com Rafaella. Mas quinta-feira chegou, e haviam reuniões que Rafaella tinha que ir, telefonemas que ela tinha que atender, e então o dia passou rapidamente até que elas estavam em um avião, indo para o RJ.

Muita coisa aconteceu em quatro dias e Bianca ainda estava processando os eventos da semana.

Rafaella tinha se assumido para sua família, o que só fez Bianca pensar em fazer o mesmo com a sua. O pensamento a enchia de pavor. Era impossível ser corajosa quando ela já sabia qual seria o resultado. Parecia uma bomba-relógio. Tic-tac, tic-tac. Boom. Lá se foi sua família; perdida em um borrão de lágrimas, raiva e citações da Bíblia. Ela poderia viver uma mentira e mantê-los felizes, ou ela poderia dizer a verdade e perder o amor deles. Havia uma resposta certa?

Ela contaria a eles. Algum dia. Eventualmente. Talvez. Não de imediato. Ela iria talvez mandar uma mensagem. Ela ligaria avisando. Ou então iria pessoalmente, mesmo. Não importava. Ela já conseguia enxergar a expressão de sua mãe, repleta de vergonha, dor e decepção.

Se afastou da janela do avião e olhou para Rafaella. Rafaella parece ter sentido seu olhar e imediatamente ergueu os olhos do livro para encará-la, e Bianca sentiu que aquele par de esmeraldas conseguiam atravessar sua alma. Ela sentia-se indigna, sentada ao lado de Rafaella. Se sentia envergonhada de sua própria covardia. Rafaella cresceu suportando o peso da morte de sua mãe, a culpa de seu pai e assistiu sua avó definhar com o tempo, enquanto aguentava a pressão de uma carreira que exige que ela esteja sempre no centro das atenções. Agora, ela tinha medo de perder sua carreira e todo seu esforço ter sido em vão. E ainda assim, ela se assumiu para sua família, respondendo à crueldade deles com equilíbrio e até mesmo gargalhadas. "Como você faz isso?" Bianca perguntou.

Rafaella fechou o livro. "Faço o quê?"

"Como você é tão corajosa?"

"Corajosa? Eu?" Rafaella começou a rir, mas viu que Bianca estava séria. "Eu não sou corajosa, sou apenas impulsiva. Assim como você foi, jogando vinho na cara de Maíra."

"Espera, você jogou vinho na cara de alguém?" Mariana apareceu de repente e se sentou na cadeira em frente de Bianca.

"Quem jogou vinho na cara de quem?" Perguntou Gizelly, sentando ao lado de Mariana.

"Bianca."

"Na cara de quem?"

"Quem é Maíra?" perguntou Mariana.

"Bianca jogou vinho na cara de Maíra?!" Daniel apareceu.

"Alguém vai me dizer quem é Maíra?"

"A madrasta de Rafaella." respondeu Gizelly.

"Puta que pariu. Sério?"

"Por que não eu estava lá pra ver isso?" perguntou Daniel. "Você é agora, oficialmente, a minha heroína." Ele se curvou diante de Bianca.

"Peraí, conta tudo." disse Gizelly. "Começa pelo início."

"O que está acontecendo aqui?" perguntou Eusébio.

"Bianca jogou vinho na cara da madrasta de Rafaella." disse Mariana.

"Bianca fez isso?"

"Deixa ela contar a história."

The Blind Side of Love (Rabia version)Where stories live. Discover now